O vereador Leo Souza (Republicanos) defendeu que a Câmara Municipal de Natal (CMN) dê o título de “persona non grata” a quem, nas palavras dele, “divulga mal Natal”. Para ele, há um “trabalho de desconstrução” da capital feio pelos críticos da forma como foi feita a engorda de Ponta Negra. A obra, desde sua inauguração, apresentou uma série de problemas, principalmente com os alagamentos na faixa de areia, resultado da falta de planejamento, da falta do projeto de drenagem e da não fiscalização dos órgãos ambientais.
“Eu acho inclusive que esta Casa aqui tem que começar a pensar em a gente trazer pra cá um título de persona não grata pra quem divulga mal o Natal, pra quem faz o que estão fazendo esse trabalho de desconstrução com o Natal”, discursou.
De acordo com o vereador, o que está “acabando com Ponta Negra” não são esses problemas causados pela engorda, mas sim os veículos de comunicação que cobram respostas da Prefeitura de Natal.
“O que nós estamos assistindo hoje é uma desconstrução de Ponta Negra. Todos os dias, em todas as redes sociais da redezinha (sic) vermelha, os coleguinhas que são financiados colocam um vídeo para detonar a imagem de Ponta Negra. Isso ajuda? Não ajuda”, discurso, em tom exaltado, o vereador.
Vereadoras contraditam Leo Souza

A vereadora Brisa Bracchi (PT) criticou a sugestão do vereador, afirmando que “nosso lugar é o da avaliação, da fiscalização e isso passa também pela crítica”.
“Eu acredito que quem é da base do prefeito tem que ter a maturidade para receber as avaliações que erraram, que essa obra foi feita de forma errada. ‘Personas non gratas’, infelizmente, são os que nos fizeram chegar até aqui”, contraditou a vereadora.
Ela completou dizendo que “quem se dispuser a conversar com os trabalhadores e turistas em Ponta Negra vai perceber que não há defesa para o indefensável”.

A vereadora Samanda Alves (PT) também afirmou que a Prefeitura de Natal precisa “reconhecer os problemas” em vez de esacalar “vereadores para desconstruirem os que querem fazer diálogos em defesa da nossa orla”.
“O que temos dito é que queremos salvar a obra da engorda de Ponta Negra, o maior cartão postal da nossa cidade”, ponderou Samanda.
Daniel Valença (PT) ampliou a crítica afirmando que “Paulinho Freire e sua bancada insistem em tentar interditar quaisquer debates sobre o crime ambiental que foi a engorda de Ponta Negra, bem como suas consequências e como reduzir os danos”. O vereado aponta que a bancada governista foi orientada a não assinar nossa CEI sobre a engorda. “O que temem?! Depois, fecharam a Câmara para impedir nossa audiência pública. Agora querem proibir a liberdade de expressão e o debate público sobre a engorda tentam cassar a palavra de quem está mostrando o desastre econômico que a engorda está provocando”.
A obra
A engorda da Praia de Ponta Negra foi oficialmente concluída no dia 25 de janeiro de 2025. A obra alargou a faixa de areia em 4,6 quilômetros, desde a Via Costeira até o Morro do Careca, um dos principais cartões-postais de Natal.
Foram usados aproximadamente 1,3 milhão de metros cúbicos de areia na obra. Desde a sua inauguração, no entanto, a engorda apresentou problemas, principalmente com os alagamentos, em razão da falta de drenagem do projeto.
Falta de estudos de impacto ambiental
A obra começou a ser feita em setembro de 2024. A Prefeitura de Natal, ainda na gestão de Álvaro Dias, obteve uma liminar obrigando o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) a emitir a licença ambiental para iniciar a engorda, mesmo sem a apresentação dos estudos de impacto ambiental e do projeto de drenagem.
Antes disso, o ex-prefeito Álvaro Dias, acompanhado do então pré-candidato a prefeito Paulinho Freire (União Brasil), secretários municipais e cargos comissionados, arrombou o portão do Idema para exigir a liberação do início da engorda de Ponta Negra.
Uma vistoria da Defesa Civil Nacional em Ponta Negra, realizada entre os dias 23 e 25 de outubro de 2024, apontou que a engorda não poderia ter sido feita sem o fim das obras de drenagem, como havia exigido o Idema.
A obra, no entanto, continuou sem realizada sem nenhuma fiscalização, resultando nos problemas que a cidade vem constatando desde a inauguração da engorda.
A Prefeitura de Natal anunciou a conclusão da obra de drenagem no final de fevereiro, mas isso não impediu que os alagamentos continuassem acontecendo, mesmo quando sem chover. “Tudo previsto”, segundo o titular da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Thiago Mesquita.
Drenagem é uma “gambiarra”

O professor aposentado do curso de pós-graduação de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), João Abner, disse que os alagamentos na engorda resultam de “decisões equivocadas na execução da obra”.
“Não tem um especialista em drenagem envolvido nesse projeto. É uma gambiarra sem dimensionamento, sem relatório, é criminoso. Essas lagoas que se formaram estão com água poluída que, quando levada para o mar, a salinidade mata, mas ficando na areia, resulta em várias as doenças. Não houve projeto de drenagem, as caixas não foram dimensionadas”, declarou.
Mudança
Durante a campanha de 2024, o então candidato Leo Souza denunciou o uso político da Secretaria Municipal de Educação para pressionar servidores e beneficiar a campanha do vereador Daniel Rendall (Republicanos).
Passada a eleição, Leo Souza, que se apresentou como defensor da “nova política”, aderiu à base de apoio do prefeito Paulinho Freire (União Brasil). Os seus posicionamentos na CMN, no entanto, estão mais próximos da velha política, que deseja silenciar as críticas à gestão municipal.
O problema, segundo a visão expressa pelo vereador, não são os alagamentos na faixa de areia que foi engordada, mas sim os veículos de comunicação não alinhados com a Prefeitura de Natal, que expõem os danos ambientais, econômicos e sociais causados pela obra, enquanto outros omitem a realidade.
“O turista vai procurar lá no Google ‘Ponta Negra’. Aí vai ver um monte de notícia desconstruindo a nossa praia. Dizer que a praia acabou, isso é um desrespeito, um desserviço com essa cidade”, declarou o vereador.
Leo Souza, aparentemente de forma intencional, induz a população ao erro ao sugerir que quem critica a aministração municipal estaria “desconstruindo Natal”. Confundir críticas à gestão com com ataques à cidade, além de autoritário, é uma estratégia para blindar o prefeito de questionamentos.
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