Álvaro Dias insiste em tese de “forças do mal” para defender engorda

O ex-prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), voltou a utilizar o termo “forças do mal” para se referir a quem, supostamente, estaria contra a engorda da praia de Ponta Negra. A declaração ocorreu depois que o ex-prefeito postou um vídeo direto dos Estados Unidos comparando a engorda de Ponta Negra com o aterro hidráulico feito para alargar a faixa de areia da praia de Miami Beach, no sul da Flórida.

Em declaração ao jornal Tribuna do Norte, Dias disse que “forças do mal” estariam torcendo contra a obra e contra o município. Ele ainda defendeu que o aterro hidráulico foi totalmente concluído e afirmou que os empreendimentos como quiosques, hotéis, bares e restaurantes estão protegidos. Falou, então, das engordas feitas em outras praias no Brasil e no mundo, como Miami (EUA), Copacabana (RJ), Balneário Camboriú (SC) e Fortaleza (CE).

“Quando a gente consegue mais um exemplo como esse, de uma obra realizada em Miami nos Estados Unidos, ou em Balneário de Camboriú-SC ou Copacabana-RJ, aprovada, comprovada, que funciona e que resolveu em definitivo os problemas, isso desqualifica as críticas, feitas pelas forças do mal e pela oposição, aliás, de todos que torcem contra a Engorda de Ponta Negra, pelo sucesso comprovado dessas obras que resolveram o problema”, alegou.

Dias, que se coloca como pré-candidato a governador, também acusou setores da oposição de agirem contra a obra por motivações políticas. 

“Entretanto, inexplicavelmente, essas forças contrárias insistem e tentam desesperadamente, de toda forma, desqualificar o exemplo real, que estamos apresentando”, continuou.

Não foi a primeira vez que o ex-prefeito recorre a uma narrativa de supostas “forças do mal”. No ano passado, quando ainda estava no mandato à frente do Palácio Felipe Camarão, ele se revoltou contra o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema) pela demora na emissão da Licença de Instalação e Operação e atraiu a “força do mal” ao PT.

Já em 2023, foi a vez de usar o mesmo termo para criticar os críticos ao Plano Diretor.

“A mudança do plano diretor era tabu, era difícil, era um preconceito, ninguém queria mexer. Nós enfrentamos uma luta grande, discutimos. As forças do mal, as forças ocultas se manifestaram contra, mas nós vencemos”, declarou, à época, em entrevista concedida à Rádio CBN. Pesquisadores de diferentes áreas, ativistas ambientais e jurídicos e movimentos sociais insistiram em mudanças no texto que o prefeito conseguiu aprovar na Câmara Municipal.

A engorda da Praia de Ponta Negra foi oficialmente concluída no dia 25 de janeiro de 2025. A obra alargou a faixa de areia em 4,6 quilômetros, desde a Via Costeira até o Morro do Careca, um dos principais cartões-postais de Natal.

Foram usados aproximadamente 1,3 milhão de metros cúbicos de areia na obra. Desde a sua inauguração, no entanto, a engorda apresentou problemas, principalmente com os alagamentos, em razão da falta de drenagem do projeto.

Falta de estudos de impacto ambiental

A obra começou a ser feita em setembro de 2024. A Prefeitura de Natal, ainda na gestão de Álvaro Dias, obteve uma liminar obrigando o Idema-RN a emitir a licença ambiental para iniciar a engorda, mesmo sem a apresentação dos estudos de impacto ambiental e do projeto de drenagem.

Antes disso, o ex-prefeito Álvaro Dias, acompanhado do então pré-candidato a prefeito Paulinho Freire (União Brasil), secretários municipais e cargos comissionados, arrombou o portão do Idema para exigir a liberação do início da engorda de Ponta Negra.

O Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte (MPF-RN), no final de fevereiro, pediu na Justiça que Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fiscalizasse a obra, além de avaliar os alagamentos e outros possíveis efeitos gerados pela falta de drenagem no local.

Uma vistoria da Defesa Civil Nacional em Ponta Negra, realizada entre os dias 23 e 25 de outubro de 2024, apontou que a engorda não poderia ter sido feita sem o fim das obras de drenagem, como havia exigido o Idema.

A obra, no entanto, foi feita sem nenhuma fiscalização, resultando nos problemas que a cidade vem constatando desde a inauguração da engorda.

Falta de fiscalização ocasionou problema na engorda

Alagamentos se tornaram constantes após a engorda de Ponta Negra. Nas primeiras chuvas do ano, a praia ficou alagada. O problema se repetiu cada vez que chovia em Natal. No último final de semana, a área voltou a registrar alagamentos, mesmo sem ter chovido.

A Prefeitura de Natal anunciou a conclusão da obra de drenagem no final de fevereiro, o que, segundo o secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Thiago Mesquita, controlaria a vazão das águas das chuvas, fazendo com que as poças fossem infiltradas mais rapidamente, o que na prática não se verificou.

No dia 14 de março, após uma madrugada de fortes chuvas na capital, Ponta Negra amanheceu novamente alagada. Os alagamentos causaram prejuízos aos ambulantes, quiosqueiros e vendedores da praia em razão da diminuição do número de banhistas, que procuraram outros mares para frequentar em Natal.

O movimento na alta estação, segundo alguns quiosqueiros, chegou a cair mais de 80%, ao contrário da expectativa da Prefeitura de Natal, que previa um incremento do número de turistas em torno de 20%.

Banhistas procuram “outros mares”

Além dos alagamentos, muitas pessoas, principalmente famílias com crianças pequenas, têm preferido frequentar outras praias da capital porque acharam que o banho após a engorda ficou mais perigoso em Ponta Negra.

A engorda também afastou surfistas de Ponta Negra. Os praticantes do esporte disseram que, após a obra, as ondas ficaram fracas, o que os obrigou a procurar outros pontos para surfar.

Outro problema percebido após a engorda foi o surgimento dos rodolitos, pequenas formações rochosas formadas de algas marinhas calcárias, transportados do fundo do mar para a areia no processo de engorda da praia.

A Semurb, inicialmente, minimizou a situação, mas depois admitiu que os rodolitos poderiam causar acidentes graves aos banhistas. A Prefeitura de Natal contratou uma empresa, com dispensa de licitação, para fazer a limpeza mecanizada da areia da praia.

O contrato emergencial tem validade até setembro de 2025. O custo é de R$ 67 mil/mês. De acordo com a Semurb, será feita uma licitação definitiva para que o serviço tenha continuidade.

Saiba Mais

De férias nos EUA, Álvaro Dias compara engorda de Ponta Negra a de Miami Beach

Justiça proíbe Idema de fiscalizar obra de engorda de Ponta Negra

Prefeitura de Natal politiza engorda de Ponta Negra e invade Idema

Engorda de Ponta Negra não poderia ter sido feita sem concluir drenagem

Ponta Negra tem água empoçada e comerciantes à espera da visita do prefeito

The post Álvaro Dias insiste em tese de “forças do mal” para defender engorda appeared first on Saiba Mais.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.