Olimpíadas, quadro de medalhas e o Brasil

Como grande parte dos meninos de nosso país, conheci o esporte com uma bola de futebol, jogando desde os tempos de criança, seja nas ruas, campos perto de casa ou mesmo na escola, nas aulas de educação física. Comecei a assistir futebol com o meu pai pela televisão, e desde então gosto sempre de ver os jogos, em especial os do meu time de coração. Passando os anos, comecei a me tornar o “perna de pau” da minha escola e da minha rua, fui crescendo mais que os demais amigos de juventude e logo fui sendo o último a ser escolhido na hora de formar os times. Com isso comecei a jogar como goleiro, vendo que tinha jeito com as mãos, e porque era uma posição que ninguém queria jogar, afinal, a cultura do brasileiro é de atacar e fazer gol.

Daí começa minha trajetória no voleibol, comecei a jogar na escola, pois era o único esporte oferecido fora o futsal. Como levava jeito com as mãos e comecei a crescer mais que os demais, me identifiquei e aqui estou, até os dias de hoje. Me considero um jogador amador de voleibol, com os mais de 20 anos de prática dessa modalidade. Me encontrei, joguei alguns JERN’s (Jogos Escolares do RN), e fui campeão no ano de 2002. E então… foi inevitável não pensar em seguir carreira com voleibol, um esporte olímpico e que, nessa época, tinha uma seleção brasileira que fazia muito sucesso nas quadras do mundo inteiro.

Era uma geração que tinha Geovani, Tande, Nalbert, Gustavo, Maurício (levantador), logo depois a seleção mais premiada de todos os tempos, com Giba, Dante, André Nascimento, Serginho e companhia. Foi quase que automático em mim o despertar pelo sonho olímpico. Sim, fui um menino que um dia pensou em jogar voleibol profissionalmente e representar o meu país nas olimpíadas.

Aqui começa nosso diálogo sobre as Olimpíadas, o famoso quadro de medalhas e a real situação de nosso amado Brasil nisso tudo. O famoso sonho olímpico é mais que um sonho, é um desafio gigantesco.

A cada quatro anos, vemos países como China, Estados Unidos, Grã Bretanha, Japão, França, Rússia, Alemanha, e outras nações se destacando cada vez mais nas diversas modalidades existentes e se consagrando sempre na dianteira do quadro de medalhas. Ficamos ali sempre fazendo conta na ponta dos dedos de quantos ouros e outras medalhas vamos conseguir conquistar. Na maioria das vezes esquecemos que não depende apenas daqueles atletas que ali estão dentro de uma quadra, um tatame ou uma piscina.  O resultado alcançado em uma competição olímpica é fruto sim de muito esforço, sacrifício e dedicação de uma atleta, porém é necessário que seu país tenha forte investimento em toda a cadeia que giro em torno do esporte olímpico.

Em todo ciclo olímpico podemos ver que as emissoras de televisão fazem séries especiais com medalhistas mostrando o desafio que foi para que aquele ou aquela atleta tenha conseguido conquistar uma medalha nas olimpíadas. 

Com isso tudo, quero chegar ao ponto de que precisamos de sérios e fortes investimentos públicos e privados em infraestrutura física, aparelhos, materiais esportivos, maiores e mais diversos patrocínios, bolsas atleta, profissionais de saúde, psicólogos, analistas de desempenho e toda gama de profissionais qualificados que dão suporte às práticas esportivas. As grandes nações que se superam ano após ano, investem pesado nisso tudo. E o Brasil só alcançará as primeiras posições no quadro de medalhas, quando oferecer verdadeiramente condições adequadas e suficientes para seus atletas, seja da modalidade que for.

Temos diversos exemplos de atletas que precisam sair do Brasil para ter acesso a melhores estruturas de treinamento. Atletas da ginástica, natação, maratona aquática, saltos ornamentais, atletismo, dentre outros esportes.

 Ora, somos uma nação gigantesca, de proporções continentais, não nos faltam pessoas para competir. Temos um povo diverso, alegre, que ama seu país, temos uma população numerosa. Possuímos todas as condições para nos tornarmos uma grande potência mundial nos esportes. Basta vontade política, projetos sociais, apoio das grandes mídias e de grandes empresas. O problema não é falta de recursos humanos e sim falta de apoios. 

Aqui em Natal mesmo, em 2023, conseguimos aprovar pela Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, um projeto de formação de alto rendimento de voleibol para jovens de escolas públicas da zona norte. Porém, o projeto não saiu do papel, pois a empresa aprovada para patrocinar o projeto, não o fez até hoje. Sem falar que não conseguimos um ginásio para alocar o projeto. Isso, porque o voleibol é o segundo esporte mais praticado e mais assistido do país. Imaginem esportes individuais feito esgrima, tênis de mesa, etc. 

Visitei duas vezes os Estados Unidos e pude ver de perto a diferença das estruturas esportivas daquele país. Não é à toa que estão sempre nas primeiras colocações do quadro de medalhas, tampouco porque seus atletas são melhores que os nossos. Mas sim, porque lá existe investimento forte desde a base, passando pelo esporte universitário, até o alto rendimento. As ligas universitárias americanas são transmitidas por grandes emissoras de televisão esportiva, como a ESPN ou a FOX SPORTS, por exemplo. Aqui no Brasil, mal temos transmissões em lives amadoras pela internet dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs). 

Conheço e acompanho alguns colegas daqui de Natal e de outros estados que se mudaram para os EUA e jogam a liga universitária de voleibol por lá. A diferença das quadras, academias e de toda a estrutura que os cerca é gritante ao que vejo por exemplo na UFRN, maior universidade daqui do Estado. Por exemplo, a academia da UFRN é pequena e a grande maioria dos aparelhos estão velhos, enferrujados, quando não, quebrados. Conheço de perto as pessoas que são da gestão da UFRN e sei que fazem o máximo que podem com os recursos que tem, pois são mínimos. Até porque eu mesmo já fui do Comitê Gestor do parque desportivo da UFRN e conheço de perto esta realidade.

Portanto, quando falo de apoio, patrocínio e infraestrutura, não falo apenas para atletas já olímpicos e medalhistas. Esses aí são a ponta do iceberg, que mesmo com muitas dificuldades, conseguiram alcançar suas conquistas. Patrocinar grandes atletas é “fácil” pois dá visibilidade para as empresas e instituições. 

Mas o primordial é o investimento na BASE. Com projetos sociais sólidos e duradouros, em todas as diversas modalidades existentes. Grandes centros de treinamentos espalhados por todo o país, com estrutura, materiais e profissionais qualificados para descobrirmos jovens talentos. Seja nas periferias, nos grandes centros, nas zonas rurais, de norte a sul e de leste a oeste desse nosso gigantesco Brasil.

Não podemos perder talentos por falta de condições ou incentivos. Assim como nossos atletas não precisam sofrer tanto e serem sempre exemplo de superação para chegarem aos tão sonhados pódios. O esforço e dedicação são inerentes ao sucesso de um atleta, mas o sofrimento por falta de condições adequadas não deveria existir.

Sabemos que o esporte é vida! O esporte também salva vidas… Muitas vidas perdidas para outras práticas, como por exemplo a marginalidade. Nem todos os jovens que se dedicam ao esporte vão chegar a participar de uma olimpíada, mas certamente, a maioria deles terão uma formação cidadã.

Precisamos de mais ídolos, de mais exemplos. Podemos ter muito mais Rebecas da ginástica, Bias no judô, Martas no futebol, Calderanos no tênis de mesa, Gibas no voleibol, Rayssas no skate, Medinas no surfe, Gustavos na natação, no caiaque, na vela, no basquete, no handebol, no tênis, no atletismo e demais modalidades. 

Nós somos mais e podemos ser ainda maiores. Temos muitos jovens com o sonho olímpico. Agora, precisamos investir desde cedo.

Devemos aproveitar esse clima olímpico que toma conta da gente pelo país inteiro, juntamente com as eleições que se aproximam, e olharmos com cuidado para os candidatos que iremos eleger em outubro próximo. Observarmos atentamente às propostas voltadas para o esporte e para a cidadania.

Só assim podemos ouvir nosso hino nacional mais vezes nas Olimpíadas, chorarmos e nos emocionarmos mais vezes com cada medalha conquistada.

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