Natália Bonavides: “Quem carrega esse sorriso sabe que as coisas podem mudar”

Aos 36 anos de idade, a deputada federal Natália Bonavides (PT) é uma das mulheres mais jovens do Brasil a disputar uma prefeitura numa das 27 capitais do país. Para a campanha de 2024, a primeira experiência dela numa disputa para o Executivo, levará o acúmulo das vitoriosas campanhas para vereadora e deputada federal em 2016, 2018 e 2022.

Natália Bonavides tem se preparado para ser prefeita. Pela primeira vez, fala sobre a especialização na área de Gestão Pública Municipal que começou e está prestes a concluir na Universidade de Brasília (UnB). O trabalho de conclusão de curso, adianta, será sobre o projeto tarifa zero, que pretende implantar no transporte público de Natal caso o eleitorado lhe dê as chaves do Palácio Felipe Camarão.

Nesta entrevista, concedida no gabinete parlamentar da Câmara dos Deputados, Natália Bonavides fala sobre a diferença dela para os demais candidatos; a rejeição histórica do PT em Natal; pesquisas eleitorais; limites para alianças; os problemas da cidade que pretende governar nos próximos quatro anos, as críticas dos adversários; a violência política de gênero da qual é vítima cotidianamente; entre outros temas.

Uma das novidades da campanha anunciada semana passada foi o anúncio do vereador do PV Milklei Leite, que será oficializado como companheiro de chapa na próxima sexta-feira, 2 de agosto, durante a convenção do PT em Natal. Milklei será o único representante da Zona Norte incluído numa das chapas majoritárias que disputam a sucessão de Álvaro Dias.

A candidata do PT à prefeitura de Natal também comenta uma de suas marcas registradas pessoais: o sorriso, que tem irritado setores da direita natalense. Sobre essa característica, mostra com palavras que já incorporou o atributo na campanha:

– Eu sei porque a direita se incomoda com meu sorriso. É porque quem carrega esse sorriso sabe que as coisas podem mudar. Quem carrega esse sorriso é porque tem esperança. Quem carrega esse sorriso sabe que está indo para uma campanha que vai mexer com a cidade, então eles se incomodam mesmo. Então, com certeza, ele também ajuda a conquistar e não só por uma questão estética. Mas porque simboliza que a mudança vem”, concluiu.

Agência SAIBA MAIS: Natália, o que diferencia você dos demais candidatos à prefeitura e por que o desejo, agora, de administrar Natal?

Natália Bonavides: São várias coisas que me diferenciam dos outros candidatos. A gente poderia falar tanto de projeto político que, por óbvio, é a coisa mais importante, como também de perfil.

Em relação ao projeto político, nós temos tido em Natal, há muitos anos, um revezamento de pessoas que representam a elite natalense. E isso tem feito com que a nossa cidade tenha se estagnado porque, ao invés da prefeitura ter, nesses últimos anos, um papel de fomentar o desenvolvimento econômico local, de fortalecer as políticas públicas que reduzam a desigualdade, a pobreza… em vez da prefeitura ter um papel central na geração de empregos a gente tem visto, na verdade, grupos que governam pensando em defender os direitos dessas próprias elites das quais eles fazem parte. É por isso que a gente vê a nossa cidade estagnar em tantas coisas e até mesmo retroceder em outras. Se você olhar, por exemplo, as últimas gestões de Álvaro Dias, de Carlos Eduardo, e olhar os dados sobre a desigualdade na nossa cidade, você vai ver que essas pessoas terminaram a maioria dos seus anos de governo com a cidade mais desigual do que quando começou ano. Isso, inclusive, em anos em que no Brasil a tendência foi oposta, de redução da desigualdade.

E de que forma, na sua visão, isso tem afetado a vida das pessoas?

A gente não tem as coisas mais elementares atendidas aos nossos cidadãos. Quando a gente fala, por exemplo, de vaga em creche, que é algo fundamental, pra atender ao direito da criança acessar a educação infantil, mas que impacta muito também na vida das famílias, especialmente das mulheres poderem trabalhar, vemos que esse é um direito que não só não é atendido, mas a solução que as últimas gestões de Carlos Eduardo e Álvaro Dias encontraram para essa questão, na verdade nem pode ser chamada de solução, né? Porque é o sorteio de crianças. A gente está vivendo numa cidade em que a gestão impõe a crianças poderem acessar a educação infantil se tiverem sorte.

Se você olhar, por exemplo, as últimas gestões de Álvaro Dias, de Carlos Eduardo, e olhar os dados sobre a desigualdade na nossa cidade, você vai ver que essas pessoas terminaram a maioria dos seus anos de governo com a cidade mais desigual do que quando começou ano.

Além da falta de vagas na creche, o transporte público é outro problema crônico na cidade…   

A postura dessas últimas gestões em relação ao transporte beira a uma conduta criminosa. E nem é um tema que a gente pode dizer que ficou estagnado porque, na verdade, vem piorando ano após ano. Vemos a queda no uso transporte público pela população de Natal por causa de um serviço que é absolutamente disfuncional. E disfuncional não só para o cidadão, ou seja, o estudante que busca acesso ao lazer e à praia, para visitar a família, ir para a igreja. É disfuncional até mesmo para trabalhar, até mesmo para ser parte do sistema econômico da cidade, como tantas famílias eu tenho conhecido em que uma pessoa está negando oportunidade de trabalho porque não tem como ir e voltar por transporte público. E se for para ir de uber aquilo ali não vai valer o salário que ela pode vir a ganhar. Estudantes deixando de acessar ensino técnico, por exemplo, ou até mesmo ensino superior, porque não tem como chegar; artesãos que deixam de participar de uma feira como a Fiar porque para pagar o transporte de ida e volta não vai valer o que ela vai vender na feira. Disfuncional até para o cidadão participar do sistema econômico da cidade. Na saúde, a gente tem absurdos com vemos ainda em 2024 em que pessoas precisam sair de casa de madrugada para ficar numa fila esperando para ver se vai conseguir uma ficha! Tem que ter outras alternativas que não o cidadão se expor à chuva, tendo que sair de madrugada pra pegar uma ficha para ser atendido e tentar acessar à saúde.

Estou usando esses exemplos porque têm sido os temas mais relatados nos encontros que nós temos feitos por toda a cidade. O fato de em 2024 esses mesmos problemas seguirem prejudicando a população, inclusive se agravando, é justamente por uma falta absoluta de prioridade que os últimos gestores tiveram ao planejar a cidade, se é que a gente pode chamar de planejamento ao fazer a distribuição dos recursos públicos.

Então, voltando à sua pergunta inicial, acho que a primeira diferença entre a nossa candidatura para as demais candidaturas tem a ver com o projeto da cidade, tem a ver com o que a gente quer fazer com os recursos públicos escassos que estão disponíveis, tem a ver em como a gente quer tratar o trabalhador que trabalha para a prefeitura e que faz o atendimento à população; tem a ver em como a gente acha que a economia da cidade e os debates sobre a economia da cidade não pode se resumir ao mercado imobiliário porque não é a única coisa que existe na cidade. Então essa é a primeira diferença: de projeto político, de como a gente pretende fazer a gestão, através da prefeitura, que seja para a maioria das pessoas. Muita gente diz, às vezes, que somos a candidatura das minorias. Ora, minoria é a população da elite de Natal. Essa é a minoria. E a prefeitura tem que funcionar para a maioria da população, que é a classe trabalhadora.

Poderíamos também falar na diferença de perfis. Nós vemos os principais candidatos com perfis que se assemelham, na verdade, em como é hoje a maior composição do mundo político institucional. Nós estamos aqui fazendo essa entrevista na Câmara de Deputados. E aqui é um local em que a gente pode estabelecer os perfis que são mais comuns e quais não são. Então eu devo ser uma das únicas candidatas mulheres de capital no país e devo estar também entre as mais jovens que serão candidatas no país. E quando a gente olha para a nossa cidade, eu também serei uma das únicas candidatas que tem uma origem comum. Eu não fui criada para ser deputada, não fui criada para ser prefeita, eu não nasci numa família que estava integrada ao sistema político da cidade. Porque é importante mencionar isso ? Porque eu acho que isso tem trazido nos nossos diálogos com a população uma maior identidade. A gente encontra as pessoas diariamente nas ruas e noto que existe um cansaço de que a cidade seja gerida pelas mesmas pessoas, sempre ligadas aos mesmos grupos políticos que, inclusive, dominam a maior parte dos meios de comunicação. Os mesmos grupos políticos que têm ligação com os setores mais elitizados da cidade, que moram em locais que tem também os maiores privilégios da cidade.

A gente está vivendo numa cidade em que a gestão impõe a crianças poderem acessar a educação infantil se tiverem sorte.

E porque você quer administrar Natal agora?

Porque agora é a hora (risos). Em 2020, houve um grande apelo para que eu fosse candidata à prefeita. Eu fui eleita em 2016 a vereadora mais votada da história do PT em Natal, em 2018 fui eleita deputada, também com uma grande votação. E em 2020 eu estava ali no meio do primeiro mandato de deputada federal. E é bom a gente lembrar o que era aquele momento na história do Brasil. Nós estávamos na pandemia, durante o governo Bolsonaro, um governo criminoso que não tomou nenhuma medida que o Brasil precisava naquele momento para construir as políticas de proteção à vida das pessoas. E eu sentia que eu não tinha como me dividir naquele momento. A eleição para a prefeitura não é uma campanha eleitoral para deputado, é uma coisa muito mais puxada, com outra dimensão de dedicação e energia. Na minha eleição para deputada, eu fui votada em todos os municípios do Estado e, em razão da pandemia, eu não tinha conseguido dar um retorno a todas aquelas regiões que ajudaram a me eleger. Então entendi que naquele momento minha tarefa era outra, aquele era o momento de participar e protagonizar debates dentro da Câmara Federal sobre as medidas de proteção à vida, como a lei da suspensão dos despejos, de minha autoria, que a gente conseguiu aprovar na Câmera e no Senado, inclusive conseguiu derrubar o veto de Bolsonaro. Então para fazer articulações como essa, eu precisava me dedicar por inteiro ao mandato, de forma integral, e quatro anos depois a gente tem um cenário diferente, um amadurecimento muito maior da atuação política do mandato, dos diálogos que a gente tem feito com diversos setores da sociedade e a gente tem um acúmulo porque essa candidatura que, é da Federação, é composta pelo PT pelo PCdoB e pelo PV. E temos também um acúmulo de experiências de outras candidaturas que já se prepararam e apresentaram para a cidade um projeto político com a companheira Fátima Bezerra e o companheiro Fernando Mineiro e mais recentemente o companheiro Jean Paul. Porque o PT sempre dialogou com a cidade e nunca se furtou de fazer isso com debates participativos e plano de governo. Então a gente vem com esse acúmulo histórico não só dos debates que o PT fez nessas, e em outras eleições, mas também nas experiências ao redor do país. De como fazer gestões democráticas no Executivo, que não sejam centralizadoras. Então é a soma de tudo isso que faz com que esse seja o momento para apresentar uma candidatura que não é só minha. Estou cercada também de pessoas absolutamente inquietas, inconformadas e indignadas. Uma reflexão que eu gosto muito de fazer com quando a gente estava tratando os problemas da cidade, que era de quando a gente vê uma violação, uma opressão, uma coisa ruim acontecendo, é que a gente não pode ficar calejado. Porque calejado a gente para de sentir. A gente tem que ficar em carne viva, que é pra gente nunca naturalizar. Imagina a gente naturalizar criança sendo sorteada ? Criança só poder entrar na creche se tiver sorte ? Imagina a gente naturalizar que quem mora perto de lagoa de captação pode se preparar para junho e julho que vai ter a casa inundada. Nem compre cama pra sua casa, faça de alvenaria, já que perder todo ano. Eu acho que essa tradição que a gente tem de beber da educação popular, das experiências dos movimentos populares e das experiências que subsidiaram a fundação do Partido dos Trabalhadores… essas experiências têm que nos ensinar a não naturalizar a barbárie. Não aceitar que é isso, não naturalizar o fim da história. As coisas estão como estão, mas dá para fazer diferente. É óbvio que dá, é óbvio que faz diferença quem está conduzindo e liderando uma gestão. É nessa responsabilidade de ganhar uma eleição para melhorar a vida do povo, para fazer o orçamento público, aas políticas públicas, o funcionamento da máquina pública para ser voltada para melhorar a vida do povo, para trazer mais dignidade para o povo, é por isso que a gente quer chegar à prefeitura de Natal.

Acho que a primeira diferença entre a nossa candidatura para as demais candidaturas tem a ver com o projeto da cidade, tem a ver com o que a gente quer fazer com os recursos públicos escassos que estão disponíveis, tem a ver em como a gente quer tratar o trabalhador que trabalha para a prefeitura e que faz o atendimento à população; tem a ver em como a gente acha que a economia da cidade e os debates sobre a economia da cidade não pode se resumir ao mercado imobiliário porque não é a única coisa que existe na cidade

Eu soube que você está fazendo uma especialização em gestão pública na Universidade de Brasília. Como tem sido a experiência de voltar a estudar ade nesse momento?

Eu estou tentando, não falei para quase ninguém (risos). Fiz a seleção para pós-graduação em gestão pública municipal na UnB. A gente trabalha demais aqui no mandato, e agora acumulando campanha e durante esse período as aulas também. Nem sei como conseguir terminar as matérias, falta só o TCC (trabalho de conclusão de curso). Em gestão pública municipal porque eu acredito muito que para se colocar na gestão é importante a gente tentar beber de todas as fontes. Então é importante esse contato com o que está sendo produzido na academia, pela ciência que é produzida na área…isso não é suficiente. A gente tem que estar no meio da rua, na cidade, ouvindo a população. Mas a combinação dessas duas coisas traz uma combinação ainda melhor para estar no cargo de prefeito. Então vou dar aqui um furo, né, a minha monografia será sobre tarifa zero. A gente sabe que esse é um tema que foi muito estigmatizado por muito tempo e hoje, de repente, a gente está vendo esse debate sendo levado a sério, passar a ser implementado em muitos locais, às vezes parcialmente, como em São Paulo, que começou em um dia, e a gente viu que subiu o número de pessoas que usa o transporte público, o que nos leva à conclusão, que já era óbvio, de que a tarifa é um impedimento nesse processo. E é isso que a gente está estudando, até porque eu queria muito fazer algo que tivesse inserido no nosso plano de governo. Vamos ver se eu conseguir ter tempo e energia.

Já que você tocou no tema do transporte, como resolver a questão do transporte público de Natal? Você que já foi vereadora e esse também foi um dos temas do seu mandato na Câmara Municipal.

A prefeitura tem que tomar as rédeas dessa situação. Hoje, o que que acontece: a prefeitura e o Seturn tem uma relação inaceitável. A prefeitura é a responsável por esse serviço e as empresas só têm uma concessão, uma delegação para prestar esse serviço. E hoje em Natal nem tem um contrato regendo esse regime. Se a prefeitura abre mão (de administrar o serviço), não é só você abrir mão de fazer com que o serviço desse funcione, não é só uma incompetência, se trata de uma opção política por deixar que as grandes empresas de ônibus, que representam somente o interesse de um pequeno setor privado, que detenham o poder de decidir quem na cidade vai poder chegar aonde. É isso que a gente tem hoje.

Eu tenho até uma ação judicial, que corre na Justiça, sobre as linhas de ônibus que o Seturn retirou sem avisar ninguém. Então a prefeitura de Natal, essas últimas gestões, são responsáveis por essa situação. E vem tentando apresentar licitações, que são faz de conta porque são postas muitas vezes em termos em que quem está lançando o edital já sabe qual vai ser resultado, já sabe que vai ser deserta. Agora, inclusive, tem edital aberto até o final do mês de julho e vamos acompanhar essa nova tentativa de licitação. Então a primeira coisa que precisa mudar é a prefeitura tomar as rédeas desse debate, parar de permitir que todo debate sobre um direito, que é um direito constitucional como é o transporte, isso ser entregue a um setor que tem o interesse do seu lucro. E às vezes de forma não muito inteligente. Porque um serviço ruim faz o número de usuários cair e o número de usuários caindo vai fazer com que esse sistema fique inviável. É óbvio que quem vai preparado para pegar ônibus sem perspectiva do horário que vai chegar, sem saber que no outro dia a linha pode ser retirada, se você consegue rachar o Uber com as duas pessoas, se você consegue financiar uma moto. Virou até piada. Tem uma propaganda de rádio em que uma empresa anuncia uma moto dizendo: “Já que o transporte público não funciona, compre sua moto financiada….” Então é preciso sair dessa caixa pela qual as últimas gestões têm achado que vão resolver o problema a partir desse formato de licitação que é um faz de conta.

Enquanto isso tem várias experiências acontecendo no Brasil e no resto do mundo que estão apostando em outros formatos de concessão e em outros formatos de agitação, em sistemas mistos, por exemplo, que envolvam uma empresa pública que leve diretrizes a como deve ser o funcionamento desse sistema, a parte que é gerida por empresas privadas. Hoje no debate do nosso plano de governo, temos um grupo específico sobre transporte público que está debatendo não só esse tema dos ônibus, mas como ter uma integração com outros modais, temos uma cidade muito pobre de ciclovias, a gente tem um sistema de trem que tinha que estar integrado com esse sistema de ônibus, é como se não existisse conversa entre uma coisa e outra. Tem experiencias sendo trazidas para o Brasil de financiamento de áreas que envolvam transição energética, que envolvam a redução de emissão de carbono e que, portanto, podem ser aproveitadas para o tema do transporte público e que essas oportunidades tem sido perdidas na nossa cidade. Imagine Haddad e Marina Silva conseguiram um volume altíssimo de recursos para financiar iniciativas em transição energética e uma das áreas é transporte público. E não existe esse debate acontecendo na nossa cidade.

É recurso para quê ?

Recurso para ônibus elétricos, formas de deixar o sistema de transporte da mobilidade das cidades menos poluente. Então é recurso para a construção de ciclovias, a aposta nessa questão da integração com o sistema ferroviário…. tudo isso para além de fortalecer o acesso ao direito ao transporte… são medidas que reduzem a emissão do carbono da cidade. Nossa cidade não se coloca nesse debate que está tendo a oportunidade de financiamento no mundo para conseguir investimento em melhorar o sistema. Então esses debates, a gente está fazendo no nosso grupo trabalho sobre transporte e mobilidade porque se tem uma coisa que a gente já concluiu, e não precisa ser especialista para concluir, é que as últimas tentativas de licitação mostram que o modelo que se está insistindo não representam a solução.

Então vou dar aqui um furo, né, a minha monografia será sobre tarifa zero. A gente sabe que esse é um tema que foi muito estigmatizado por muito tempo e hoje, de repente, a gente está vendo esse debate sendo levado a sério, passar a ser implementado em muitos locais

Você já tem um modelo ideal, na sua cabeça, para a licitação de transporte público para Natal?

Eu terei uma resposta mais adequada para essa resposta quando a gente tiver fechado nossa proposta do plano de governo. Tem muita coisa acontecendo, tem sistemas mistos, como eu falei, em que a empresa pública é integrada com essas empresas concessionárias. Têm o modelo de mudar o formato da concessão em vez de ser a concessão do serviço inteiro. Algumas prefeituras, até como forma de enfraquecer os cartéis que se formam, estão apostando em separar a licitação, ou seja, a disponbilização dos veículos serem um tipo de serviço, a gestão ser de outro. Inclusive, podendo ser os dois formatos de concessão a empresas privadas ou um modelo misto também, em que o poder público tenha um maior controle sobre a gestão. Hoje até a bilhetagem, é do sistema privado. Ou seja, se a prefeitura quiser saber quantas pessoas andam de ônibus, ela tem que acreditar nos dados que as empresas privadas fornecem. E são esses dados que subsidiam, por exemplo, se a tarifa vai aumentar ou não, o que é um absurdo. É uma submissão, mas não é uma submissão involuntária. É uma opção pela submissão que só prejudica a população.

Virou até piada. Tem uma propaganda de rádio em que uma empresa anuncia uma moto dizendo: “Já que o transporte público não funciona, compre sua moto financiada….”

Vamos voltar à política. Agora há pouco você citou que chega nesse momento com o acúmulo de outras candidaturas do PT, especialmente de Fátima, Mineiro e mais recentemente de Jean Paul. Ao mesmo tempo, o PT carrega um estigma de nunca ter ganhado uma eleição em Natal. E num cenário com Lula ou Dilma na presidência da República. O que faltou ao PT em eleições anteriores que você traz agora como fator de convencimento para o eleitorado?

É um tema interessante porque tem muita gente que quando quer desacreditar a candidatura traz de tudo.  E eu escuto de muita gente que o PT nunca ganhou uma eleição em Natal. E como se o fato de não ter vencido fosse uma previsão que vai acontecer esse ano. Eles dizem: “ah, Natal é uma cidade conservadora”. E eu tenho dito a essas pessoas que conservadora é essa avaliação. Imagine se não ter feito algo for impeditivo para se tentar, Lula nunca teria virado presidente da República. Quantas vezes Lula perdeu a eleição antes de virar ser presidente? Outro dia um jornalista me perguntou sobre isso e eu disse: olha, eu não tenho problema nenhum em ser a primeira (risos). Mas acho toda eleição envolve muitos fatores e esses fatores não são apenas de características individuais, pessoais, do candidato e da candidata. Envolve conjunturas, envolve força, estrutura, envolve o ânimo da população naquele momento. E o que a gente tem visto nos últimos anos é a população de Natal e do Rio Grande do Norte ter uma identidade crescente com o projeto que o PT tem apresentado à sociedade. Em termos eleitorais, se você pega há alguns anos e ver qual é a situação do PT agora… o PT nunca esteve tão representado nessas instâncias. Na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal, no Governo do Estado. E eu acho que a gente tem as redes sociais com um contrassenso. De um lado, trás um debate de crimes que são cometidos através das redes, de fake news, de ataques e ódios; por outro lado, traz uma opção a quem nunca teve acesso aos meios de comunicação tradicionais que tem maior vinculação com os poderes econômicos. Traz a possibilidade de quem não tem acesso a isso se comunicar. Então são muitos fatores que eu acho que deixam esse ano como o ano em que a gente tem uma janela histórica para o campo democrático progressista na nossa cidade, é um momento em que são vários fatores juntos que tornam esse ano que a gente tem como o mais forte no sentido de chegar lá. O patamar em que eu começo nas pesquisas, foi muitas vezes o patamar de chegada do PT. Então a gente tem realmente um sentimento de que esse é um ano diferente, é uma janela histórica. E que o trabalho dos partidos que estão formando essa aliança vai despertar nas pessoas uma sensação de ânimo. Porque essa vai ser a campanha mais linda que a cidade já viu.

E eu queria trazer aqui também um registro que eu tenho escutado muito de petista históricos: de que nunca viram o PT tão unido e unificado em torno de uma candidatura. E isso é uma honra para mim. A gente sabe que o PT é um partido diverso, ainda bem porque é isso que faz ele ser forte como é, e grande como é, e presente é como é, junto da população brasileira. Nesse ano, a gente não passou por nenhum processo assim de prévias porque assim que, em fevereiro do ano passado, no diretório municipal, falei que estava colocando meu nome à disposição do partido e gostaria que o partido debatesse meu nome, não houve nem votação nominal, foi por aclamação daquilo que era um desejo de muitos, desde 2020. Que agora está se concretizando e é muito bacana.

A sua corrente é considerada a mais à esquerda do PT em Natal. E já se posicionou contra determinadas alianças feitas pelo Partido, como em 2022, quando foi uma voz de oposição ao MDB, por exemplo, na cabeça de chapa. Qual é o limite da sua candidatura para alianças num eventual segundo turno? Você vai buscar o apoio de todo mundo ou tem algum limite aí?

Explicando para quem está nos lendo, quando nos escutam falar sobre isso de correntes. É uma característica do partido, como falamos agora há pouco. O PT é composto por várias linhas políticas, todas com o mesmo objetivo ou pelo menos objetivos similares, mas às vezes divergências sobre qual a tática ou estratégia para se chegar a um objetivo comum. E isso é muito saudável para o partido. O PT não tem donos, quem imponha… a gente tem uma democracia interna, há essa diversidade. Então dentro disso é muito natural que, ao longo desses últimos anos, a cada eleição se faça da base seu habitat eleitoral. Nem sempre é unânime. Quando o PT decide uma tática eleitoral pode ter certeza que antes disso teve muitas conversas, muitos debates e divergências para se chegar àquelas teses que o partido vai apresentar. Nas eleições desse ano, o PT de Natal está dentro de um Estado onde o governo que lidera é justamente o da professora Fátima Bezerra, a primeira governadora do Partido dos Trabalhadores aqui. E em Brasília temos um governo liderado pelo presidente Lula. Eu estou pontuando isso porque, quando começamos a fazer esse debate das alianças, por óbvio, procuramos os partidos que tenham interesse em construir esse projeto que estamos apresentando para a cidade dentro desse projeto de democratização das cidades, esse projeto de dignidade para o povo trabalhador, esse projeto de desenvolvimento econômico de Natal, de ter um protagonismo no Nordeste, no Brasil, e por que não no mundo dos debates que estão sendo feitos, como o das mudanças climáticas. Então o primeiro critério é esse, de vir para construir esse projeto que não é da cabeça da candidata, não é de um figurão de partido tal, é um projeto que ainda está sendo construído junto com povo de Natal e com os partidos que têm esse diálogo com o Governo Federal e com o governo do Estado. Porque são os partidos que já estão nessa construção em nível local e nacional. Então, foi a partir daí que seguimos. Um marco importante de alianças é que não seja só uma junção de siglas, mas sim de partidos que venham para somar num projeto que vai ser posto de forma muito transparente para a sociedade.

E o que a gente tem visto nos últimos anos é a população de Natal e do Rio Grande do Norte ter uma identidade crescente com o projeto que o PT tem apresentado à sociedade.

Você teria problema de buscar o apoio de algum dos candidatos que se colocaram até agora num eventual segundo turno? Paulinho Freire e Rafael Motta, por exemplo, que aparecem como os mais competitivos? Ou o próprio Carlos Eduardo.

Eu acho que a política é a arte do diálogo em muita medida. Então é o que eu falei: o primeiro critério para a gente começar os diálogos das alianças é quem topa construir esse projeto que está sendo apresentado. Esse vai ser o ponto de partida para qualquer conversa que a gente vai ter com outras candidaturas que não cheguem no 2º turno.

O União Brasil ocupa três ministérios no Governo Lula

Mas infelizmente, a representação do União Brasil no Estado não está condizendo com uma atuação democrática.

Você passou dois anos na Câmara Municipal. O que aquela experiência como vereadora te mostrou sobre os problemas da cidade ?E o que a sua gestão pretende mudar em Natal?

A experiência na Câmara de vereadores foi fundamental. Você sempre ouve dizer os políticos dizendo que o vereador é quem está mais próximo, é o tipo de mandatário que está mais perto da população, que é quem escuta mais diretamente os problemas e tem muita verdade nisso. Você vive só a cidade, faz coisas que a gente segue fazendo no mandato federal, mas de forma mais estadualizada. Então na Câmara Municipal atividades nos bairros são o foco e de certa forma vereadoras são sim parlamentares mais próximos da população e uma coisa. Agora, como deputada de situação da base de apoio Governo Lula também é uma lição muito importante. Trabalhar nas comissões é um trabalho legislativo fundamental para qualquer governo em qualquer nível.

Então, nessa campanha que vai começar daqui a pouco, a gente está indo não só para ocupar a prefeitura de Natal, mas fortalecer as chapas de vereadores e vereadoras que tenham pretensão e intenção de se somar nesse projeto. A gente quer muito que nessas eleições, além da vitória para a prefeitura, a gente tenha uma vitória no Parlamento. A gente precisa eleger muitos candidatos e candidatas que sejam democráticos e que defendam que o orçamento deve servir para que as políticas públicas funcionem, que defendam que o desenvolvimento local tem que trazer resultados, que também sejam democratizados. Temos que fortalecer também essas ideias junto ao parlamento, então pode ter certeza que nessa campanha você vai me ver andando e indo junto para os bairros, paras as comunidades, junto de candidatos a vereadores, que é como a forma inclusiva da gente se fortalecer. Eu acho que é muito bom quando uma candidatura à prefeitura pode contar com chapas que ajudam a capilarizar, que fazem a campanha chegar em toda a cidade. Também é muito bom para a chapa proporcional quando tem uma majoritária que faz uma campanha potente.

Está preparada para negociar com um parlamento conservador na Câmara Municipal ?

Eu consegui aprovar o projeto de suspensão de despejo na Câmara Federal e no Senado. Esse projeto foi vetado pelo presidente e a gente conseguiu derrubar o veto. Então negociar com o diferente, com divergente é parte diária da minha vida como política. Ninguém faz nada sozinho.

Então isso aí não só não é problema como já tivemos muitas parcerias exitosas, vitórias mesmo quando  os interlocutores são diferentes. Com certeza eu tô preparada. Como o povo está dizendo aí, preparada, pronta e querendo.

O presidente Lula vai participar da sua campanha? Ele virá a Natal ?

A gente está vendo a data, mas ele virá sim. Em uma agenda recente, que estive com o presidente Lula, não esqueço o que ele me disse. O presidente queria que eu fosse candidata já em 2020, mas não deu certo. Agora, nessa agenda que mencionei, ele me olhou e falou: “agora vai dar certo, né? Você vai ser prefeita de Natal. Esse sorriso vai conquistar a cidade”.

E o presidente reafirmou que vai ajudar na campanha, que estava acompanhando as novidades sobre Natal e que a gente vai pra essa campanha, inclusive mostrando para a sociedade que não tenham dúvidas sobre a candidatura com a melhor interlocução e com melhor diálogo com o governo federal. Com mais possibilidades de fazer articulações amplas para fortalecer os investimentos na nossa cidade.

Então você é a única candidata do Lula em Natal ?

Só existe uma candidatura apoiada pelo presidente Lula em Natal, é a minha.  

Seus adversários diretos têm feito críticas à você, externando que vão derrotar o PT, que vão derrotar Natália. O ex-deputado Rafael Motta chegou a chamá-la de extremista de esquerda. Como vê essas críticas?

Primeiro, eu vejo como um sinal muito interessante porque é a prova de que meus adversários sabem que minha candidatura é uma potência, né? Afinal, você não dá bola, ninguém perde tempo usando suas redes sociais ou espaço na imprensa para criticar algo que não considere relevante. Então eu acho muito simbólico que, quem está em primeiro lugar nas pesquisas, como o ex-prefeito Carlos Eduardo, se dê ao trabalho de criticar minha candidatura.

Eu acho que eles têm sim razão para se preocupar e eu também acho que já era esperado, principalmente de candidaturas que não têm projeto coletivo. O ex-prefeito Carlos Eduardo sempre foi uma pessoa que, na sua história política, tem tido escolhas que não vão de acordo com um projeto de cidade, mas sim de um projeto pessoal dele. Outro dia, achei um panfleto das eleições de 2018 onde ele aparece ao lado Bolsonaro dizendo que Bolsonaro era o melhor para Natal. E eu não vou nem reproduzir as mentiras que haviam escritas num material de campanha, com CNPJ oficial da campanha dele, reproduzindo as mentiras que extrema-direita reproduz.

Lembro muito bem o quanto ele pediu o apoio do PT em 2022, inclusive me procuraram muito para que eu fizesse um vídeo de apoio. E de repente, dois anos depois, ele está dizendo que vai derrotar o PT.  Então, quando se observa a história das pessoas, não existe uma linha que conduz Carlos Eduardo na defesa de um projeto coletivo, quando ele não é candidato. O que ele faz quando não tem mandato ? Alguém sabe? Qual é a disposição de trabalho que Carlos Eduardo tem quando não está exercendo mandato ? O projeto dele é pessoal, não é coletivo. Ele faz qualquer coisa que acha que é o que vai lhe beneficiar. Eu acho isso muito ruim para uma cidade.

Natal não pode ser gerida por interesses mesquinhos particulares de uma determinada família, daquele pequeno grupo social… então acho que esse tipo de crítica, na verdade, só reafirma a diferença da nossa candidatura para vários outros que estão postos. A gente está apresentando à sociedade um projeto de cidade. Eu não quero ser prefeita porque esse é meu sonho pessoal como outro candidato que disse que é o sonho da vida dele.

Eu consegui aprovar o projeto de suspensão de despejo na Câmara Federal e no Senado. Esse projeto foi vetado pelo presidente e a gente conseguiu derrubar o veto. Então negociar com o diferente, com divergente é parte diária da minha vida como política. Ninguém faz nada sozinho.

Candidatura de mulheres, como a sua, têm sido alvo de violência política de gênero nos últimos anos, inclusive você já sofreu muito com isso, levando agressões à Justiça. Você teme que esses ataques aumentem agora na campanha, quando você estará muito mais exposta ?

Já está aumentando. Era esperado e previsível, isso é uma coisa que eu tenho que lidar diariamente na minha vida. Quando em outro momento falei sobre “calejar” e “carne viva” esse é um tema muito duro. Porque é sobre a violência cotidiana. É preciso ter muito estômago, inclusive muito equilíbrio, muita clareza para entender que esses ataques não são contra a pessoa Natália Bonavides, meu CPF… embora sejam direcionados a mim, com meu nome, atingindo a minha pessoa, a minha família à minha vida. Eu sei que são ataques contra o que representa minha presença nesse espaço. E é entendendo isso que eu sei da minha responsabilidade de lutar contra isso.  

Eu tenho feito um esforço de levar muitos desses casos à Justiça, mas o que mais me chateia é o tempo e a energia que eu acabo gastando para combater isso, para responsabilizar essas pessoas na área criminal e cível. A cobrar indenização dessas pessoas pelas mentiras que são espalhadas. Mas entendi que faz parte da minha missão porque quando eu deixar de ocupar esses espaços institucionais, quero ter contribuído para deixar esses espaços menos hostis. Há outras meninas que acham que pode ocupá-los. Quando a direita e a extrema-direita usam esse tipo de método para fazer disputa política… De atacar, ameaçar, de tentar desfazer a imagem de alguém é porque sabe que se faz isso pode ser que o efeito seja, por exemplo, intimidar outras pessoas com o mesmo perfil. Imagina uma mãe de uma filha que vai ser candidata à primeira vez sabendo o que ela vai passar? Quando eu fui candidata a primeira vez meus pais sofreram muito, ficam preocupados. Imagine o que é você ler: “devia entrar um bandido na sua casa para lhe espancar e fazer outras coisas?”. Ameaça de estupro, você ouvir que alguém devia me metralhar. E outras coisas que não vou reproduzir. Mas imagina você pensar que sua mãe vai ler coisas desse tipo.

Isso ainda mexe emocionalmente com você?

Claro que mexe, mas aí é que vem essa necessidade de resiliência, é muito injusto isso. A gente tem que dar conta tudo isso e ainda tem que ter resiliência para ficar lendo que devia ser estuprada ! E isso não poder abalar sua luta. A gente tenta transformar isso mais combustível, nos lembrar que as razões para ocupar esses espaços são mais fortes ainda.

Para que a gente deixe, quando sair, um ambiente menos hostil para as outras pessoas que venham a ocupar. Então quando a gente vê, por exemplo, episódios, começos de dentro, que o pessoal de Álvaro Dias e de Paulinho Freire partiu para a pancadaria… a gente tem que saber que, na disputa eleitoral, esse tipo de bandidagem pode estar posta e que a gente não vai aceitar, não vai aceitar. Quem se dispuser a praticar crime de fake news, de difamação, de calúnia, de agressão nessa campanha vai ser responsabilizado.  

Eu vou fazer questão e que isso aconteça. É não é por mim ou pela minha família. É pela presença das mulheres nesse espaço. Porque eu já conheci muitas mulheres que buscaram se inserir e foi doloroso demais suportar.

Eu sei que são ataques contra o que representa minha presença nesse espaço. E é entendendo isso que eu sei da minha responsabilidade de lutar contra isso.  

Você citou a questão da invasão do Idema liderada pelo prefeito Álvaro Dias na polêmica da engorda da praia de Ponta Negra. Eu queria trazer isso porque eu vi um órgão de imprensa, onde você deu entrevista em julho, que comparou a invasão no Idema à ocupação de estudantes na Câmara Municipal em 2011, da qual você participou como estudante de Direito, na época. Há um paralelo entre essas ações?

O prefeito ficou assistindo um subordinado seu tentar arrombar um portão e não fez nada a respeito. Ao contrário, ficou esperando o arrombamento do portão para entrar. Um caso gravíssimo porque um funcionário do Idema foi agredido. Então olha o nível de delinquência, inclusive pela razão pela qual estavam ali. Pra quem talvez não esteja acompanhando direito, esse tema da engorda é extremamente importante. A engorda é o alargamento da faixa de areia de praia, existe essa medida em algumas orlas Brasil afora porque o mar vai avançando. E o mar é dinâmico. A na nossa cidade o calçadão de Ponta Negra foi parcialmente destruído em 2012 por causa da força do mar, então já naquela época se começou esse projeto da engorda.  Mais uma vez, assim como o sorteio de criança, assim como os recursos não utilizados para a construção de creche, isso também começa desde Carlos Eduardo e continua em Álvaro Dias. A incompetência em levar a obra, que é muito importante para a cidade, e que terá impactos ambientais e sociais. Porque uma obra muito grande como essa mexe no ecossistema. No ano passado, se chegou à fase do licenciamento prévio dessa obra. É uma obra que vai tirar uma jazida do fundo do mar para trazer para a orla e quando você mexe, dessa forma, no relevo marinho isso tem impactos em tudo, na cadeia alimentar… se os animais que estavam ali vão ficar ou vão para outro canto… então é importante estudar os impactos. Isso é fundamental até pra saber se a medida que vai ser tomada vai resolver o problema ou se vai criar outros problemas.

Depois que você fizer a intervenção em Ponta Negra como é que vai ser os impactos na fauna. Vai ter peixe ainda para os pescadores pescarem ? Vai aparecer tubarão? Deus me livre ! Meus amigos de Recife que me perdoe, mas praia boa é aquela que dá pra entrar no mar…

Deus me livre tubarão em Natal. Vai haver um impacto enorme, ambientais e sociais também. Até hoje a prefeitura não apresentou nenhum estudo, plano redução dos danos para quem vive naquela praia durante o período que a praia vai ficar fechada.

Os restaurantes que funcionam ali perto terão impacto social e econômico também. Então é uma incompetência tratar aquela obra tão importante sem fazer um debate sério que traga soluções.

Outra polêmica que envolveu a atuação gestão da prefeitura foi a aprovação do Plano Diretor de Natal. Que avaliação você faz do projeto aprovado? Você pretende rever alguns pontos caso assuma o Palácio Felipe Camarão?

O plano diretor é uma lei que ordena o espaço urbano, que dá a diretriz de como a cidade deve crescer e se desenvolver. Existem áreas de proteção ambiental, de interesse social, onde estão comunidades que estão ali com um poder econômico reduzido, mas que estão inseridas em áreas centrais da cidade, com acesso à escola, à saúde, a serviços públicos, então existe esse instrumento. A lei diz que áreas que ainda comportam muitas pessoas morando ao mesmo tempo. O plano diretor serve pra organizar na cidade. Há muitas críticas que podem ser feitas ao processo de votação da revisão do plano de diretor. Você precisa consultar pessoas, ouvir os moradores. E o processo não foi transparente e muito conturbado. Houve até agressões a pessoas nesse processo. Nosso mandato acompanhou essa revisão. Há pontos muito polêmicos, inclusive alguns que abre brechas para a privatização das praias.  

Natal é uma das poucas de idades capitais que ainda têm bairros que não são elitizados e que ficam na praia, isso é uma característica muito interessante da nossa cidade e tem a ver com a própria formação de Natal. A Redinha, a Praia do Meio, Brasília Teimosa, os bairros ali próximos, como as Rocas.

Isso faz com que a gente deva ter um cuidado com esses setores

Olha o que está acontecendo na Redinha, por exemplo? A história de ocupação da praia da Redinha está relacionada às famílias nas comunidades que fizeram daquela praia uma referência. É a praia onde nasceu a nossa ginga com tapioca, que hoje é patrimônio imaterial de Natal.

Essas pessoas sempre pleitearam investimentos na Redinha. E agora que o investimento pode chegar vão expulsar os trabalhadores e privatizar os equipamentos? Isso é justo? Outro dia um rapaz que colocou as mesas lá na praia foi preso por tentar trabalhar. Quem trabalhava no Mercado está vivendo uma pressão imensa porque ninguém sabe como vai ser o futuro das pessoas que trabalhavam ali. A decisão sobre o que vai acontecer naquela praia não pode ser a decisão do setor privado.

O prefeito ficou assistindo um subordinado seu tentar arrombar um portão e não fez nada a respeito. Ao contrário, ficou esperando o arrombamento do portão para entrar. Um caso gravíssimo porque um funcionário do Idema foi agredido. Então olha o nível de delinquência

As gestões do Carlos Eduardo e Álvaro Dias enfrentaram muitos problemas com servidores em greve, na educação e saúde, por exemplo. Como será sua gestão, caso eleita, para o funcionalismo público ?

Assim que nossa gestão começar vamos chamar os sindicatos que representam as diversas categorias para conversar e formar uma mesa de negociação. Tive a oportunidade de ser advogada de um desses sindicatos, e acumulei grande experiência em tratar esses temas e observar a postura das últimas  gestões em relação a servidores. Então, tem coisas comuns como a data-base que não é cumprida, direito ao reajuste, que vem sendo descumprindo, né? O que a gente está dizendo aqui não é que do dia para a noite vamos resolver tudo, nem que do dia para a noite todas as defasagens serão resolvidas. Claro que não. Mas hoje, por exemplo, tem ação judicial para proibir manifestação na porta da prefeitura. Hoje o trato com essas pessoas que fazem um serviço funcionar, fazem o atendimento em nome da prefeitura é um trato criminalizador, como se ninguém tivesse direito a lutar. É óbvio que não se faz mágica nesse tema, nem que vamos resolver tudo em 1 ano. Até porque são acúmulos de diversos anos de criminalização desse setor. Mas não tenho dúvida de que a gente não vai nem esperar ser provocado. A própria prefeitura vai chamar para a mesa de negociação, vamos apresentar a situação e quais são as possibilidades. Vamos respeitar esses setores porque hoje isso é o mínimo de trato que não vem sendo feito.

Você começou sua trajetória política eleitoral você nunca perdeu uma eleição. Esse é um dado importante para você ou só uma estatística?

Eu acho que isso diz uma coisa sobre a candidatura, mas cada que cada eleição tem sua história. Mas talvez pelo meu perfil, de ser mulher, jovem… muitas vezes, com exceção da última, eu sempre fui desacreditada, muito subestimada. Não só nas análises políticas, mas até nas pesquisas. Nunca me mostraram bem citada. Até porque a própria metodologia das pesquisas não captam alguns movimentos na cidade.

Por isso que, às vezes, quando eu me expresso estando tão convencida da nossa vitória algumas pessoas não entendem e acabam se surpreendendo, alguns chamam de fenômeno, outros dizem que foi o sorriso, tentando reduzir a vitória.

Mas acho que essas eleições que nós vencemos foi por fazer análises acertadas do momento político, por ter conseguido fazer a conexão do projeto que estávamos apresentando com os anseios da população naquele momento. E a gente vai fazer de novo esse ano. O projeto que estamos apresentando para a sociedade, nosso plano de governo, está muito conectado com as principais necessidades e demandas do povo natalense nesse momento. O preparo que a gente vem fazendo está muito à altura desse desafio. E não tenho dúvidas essa campanha será a mais linda que essa  cidade já viu.

Eu tenho muita esperança de que nas eleições a gente vai conseguir se conectar com o coração e com a mente das pessoas. Vai conseguir mostrar que o projeto que estamos apresentando não é utópico, é muito concretizável, é algo que é pra virar realidade, não é para ter discurso eleitoral.

Você citou essa questão do seu sorriso, que é uma marca pessoal sua, mas que às vezes as pessoas citam como reducionismo. Você não gosta que as pessoas ressaltem seu sorriso ?

Não é isso. O problema atribuir uma eleição ao sorriso. Mas se tem gente que vota por causa dele, não tem problema. Não é uma simples questão estética, é o que simboliza. E eu vou te dizer: muita gente da direita se incomoda com o meu sorriso, eu já ouvi isso. E eu sei porque incomoda. Quem carrega esse sorriso sabe que as coisas podem mudar. Quem carrega esse sorriso é porque tem esperança. Quem carrega esse sorriso sabe que está indo para uma campanha que vai mexer com a cidade, então eles se incomodam mesmo. Então, com certeza, ele também ajuda a conquistar e não só por uma questão estética. Mas porque simboliza que a mudança vem.

Eu tenho muita esperança de que nas eleições a gente vai conseguir se conectar com o coração e com a mente das pessoas. Vai conseguir mostrar que o projeto que estamos apresentando não é utópico, é muito concretizável, é algo que é pra virar realidade, não é para ter discurso eleitoral.

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