O PROFESSOR ABOLICIONISTA E A EDUCAÇÃO DE ALUNOS NEGROS

Caminhemos pela trajetória da vida de José Cleto da Silva, professor público da cidade de Paranaguá que viveu entre 1843 e 1912 e, atualmente, compõe a memória da cidade como um cidadão ilustre.

José Cleto da Silva era natural de Paranaguá, nascido em 1843. De origem pobre, passou a infância envolvido com o trabalho, carregando água e lenha. As fontes são raras para informações relativas à sua formação, mas asseguram sua total inserção no mundo das letras, não apenas pela carreira de professor, na qual ingressou em 1867, mas também por outras funções executadas ao longo de sua juventude, quando trabalhou na Alfândega como tradutor-intérprete de comércio e pelos serviços jurídicos prestados por ele, eventualmente

Prof.Cleto teve seu envolvimento com o movimento abolicionista da década de 1870 e 1880, o qual, se delineou através da participação na vida associativa, na fundação de um periódico abolicionista e republicano, na representação de escravos em embates judiciais e ainda nas perseguições políticas evidentemente causadas por seu ativismo. 

O “professor Cleto”, como era conhecido, lecionou para indivíduos de renome como Leôncio Correia, Nestor Vitor e Generoso Marques. Os primeiros se tornaram literatos, e o último, um político liberal e abolicionista da província.

A legislação vigente proibia a matrícula e frequência de escravos nas aulas públicas

Entretanto, algo chama a atenção no início da sua carreira, pois sendo ainda um jovem professor, com 27 anos, pediu  “permissão  para  abrir  uma  escola  noturna  destinada  aos escravos”, em 10 de agosto de 1871. Inicia-se, assim, uma atividade para além do que  foi  contratado,  lecionar  para  crianças,  pois, à  noite, dedicava-se aos trabalhadores, adultos e escravizados

Pouco se sabe sobre a continuidade da escola de escravos aberta em 1871 pelo Prof. Cleto que foi, provavelmente, uma das primeiras iniciativas de instrução de adultos da província, já que a lei de autorização de abertura de escolas noturnas foi sancionada em 1872. José Cleto se envolveu com a criação de outra escola noturna em 1874, a qual contava com 30 alunos no ano de abertura: eram homens, trabalhadores de ofícios especializados e alguns criados, distribuídos entre adultos e crianças. 

O professor Cleto enfrentou uma fase de turbulências em sua vida pessoal e profissional durante a década de 1880 devido à multiplicação de conflitos com seus opositores dentro e fora de Paranaguá. Esse período concentrou o auge das campanhas abolicionistas e republicanas, nas quais o professor se envolvia diretamente e que o aproximavam do Partido Liberal, no qual se filiou no final da década de 1870.

Cleto continuou exercendo o magistério na capital sem abandonar a militância abolicionista. 

Por ocasião do falecimento de José Cleto em 1912 e, mesmo anos depois, foram expressivas as homenagens dedicadas a enaltecer papel do professor no abolicionismo do Paraná. Atendendo ao pedido de amigos e antigos alunos de Paranaguá, o governo doou um busto de bronze inaugurado em uma praça parnanguara que recebeu o seu nome, em 1914. Nesse mesmo ano, seu nome foi dado também a uma rua central da cidade natal do professor, a antiga Rua do Rosário e a uma escola pública da capital, situada na Rua Visconde de Nácar. 

José Cleto esteve nos entremeios das redes que caracterizaram o movimento abolicionista nacional articulando essa realidade às salas de aula. Um verdadeiro “revolucionário na pedagogia”, chamado muitas vezes de  decano  da  educação  paranaense, sempre  elogiado por sua  atuação  como professor, assim diria Nestor Vitor.

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