Língua portuguesa conecta 280 milhões em cinco continentes, mas busca reconhecimento na ONU

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A língua portuguesa é falada por mais de 280 milhões de pessoas em cinco continentes, sendo o idioma mais utilizado no Hemisfério Sul. A data comemorativa do Dia Mundial da Língua Portuguesa foi celebrada na terça-feira (5) em São Tomé e Príncipe, durante a 3ª Reunião Extraordinária de Ministros da Cultura da CPLP. Apesar da expressiva presença global, o português ainda não conquistou status de língua oficial na Organização das Nações Unidas (ONU).

O diretor-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Armindo Fernandes, apresentou os dados sobre a abrangência do idioma durante o evento. Segundo informações da Agência Brasil, a data foi estabelecida pela CPLP em 2009 e proclamada oficialmente pela UNESCO em 2019, na 40ª Conferência Geral da organização.

As divergências entre as variantes do português dificultam sua oficialização como língua da ONU, segundo o vice-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antônio Carlos Secchin.

“Pelas divergências do português do Brasil para Portugal e para Angola e Moçambique, acaba que a língua portuguesa não se oficializa na ONU. Do ponto de vista diplomático, isso é o mais importante a ser feito a curto prazo, porque o espanhol é, o inglês, o francês também e o português está fora das línguas oficiais da ONU”, explicou Secchin à Agência Brasil.

O congolês Serge Makanzu Kiala, 43 anos, residente no Rio de Janeiro desde 2016, exemplifica os desafios enfrentados por quem precisa aprender o idioma. Ele identificou a barreira linguística como seu primeiro obstáculo no Brasil, conforme revelou em 2023 durante um painel sobre refugiados no Festival Black2Black, no Centro do Rio.

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Serge Makanzu Kiala conta que aprendeu a falar português a partir de seu trabalho, que tinha contato direto com os visitantes do Museu do Amanhã (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Serge aprimorou seu português por meio do trabalho no Museu do Amanhã, onde atuou por oito anos no atendimento a visitantes, função que deixou em abril.

“O que facilitou falar português aqui no Brasil foi meu trabalho. Quando fui trabalhar no Museu do Amanhã, no atendimento, estava sempre com o público e sempre praticando. Aquele contato com os cariocas, os brasileiros, praticado no dia a dia, foi o que me deu mais acessibilidade para entender a língua portuguesa”, contou em entrevista à Agência Brasil.

Ao chegar ao Brasil, Serge não dominava o português, mas conseguiu se comunicar inicialmente graças a um curso prévio de espanhol e às aulas oferecidas pela Cáritas Brasil, organização que o acolheu.

Adoção da língua portuguesa como língua adicional

A CPLP, parceira oficial da UNESCO desde 2000, registra a presença do português na Ásia, África, América e Europa. Antônio Carlos Secchin, doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor de literatura brasileira em universidades no exterior, destacou essa abrangência.

Um dos indicadores da limitação na projeção internacional do português é o baixo número de pessoas que o adotam como língua adicional, conforme explicou Secchin.

“Infelizmente é muito pequeno o número de pessoas que adotam o português como uma segunda ou terceira língua. A projeção de uma língua não se mede apenas pelo número de pessoas que a falam, mas se mede muito pelo número de pessoas que a falam como segunda ou terceira língua. Isso é que é importante. Tem o mandarim que é a língua mais falada do mundo pelo número de chineses, mas quantos não chineses falam o mandarim? Não é o número falado no país. É o número falado em outros lugares por pessoas que escolhem aquela língua como segunda ou terceira”, explicou o acadêmico à Agência Brasil.

Serge continua enfrentando desafios com o idioma, principalmente na escrita. “A língua não é só falar, é escrever e ler para ser completa. Eu escrevo e faço testes em português, mas se for um teste longo, vou ter dificuldade e quem vai ler, vai ver que é de uma pessoa que ainda está praticando. O meu português escrito ainda é difícil”, afirmou.

Além das dificuldades linguísticas, o congolês enfrenta preconceitos relacionados ao limitado conhecimento sobre o continente africano no Brasil. “Isso é uma coisa que está na cabeça dos brasileiros. Tem muitas pessoas que não sabem a história da África. Até hoje as pessoas me chamam sempre de angolano. Mesmo que eu fale que sou do Congo, perguntam o Congo fica onde? Amanhã te chamam de novo: angolano”, relatou à Agência Brasil.

Para Secchin, a presença global do português demonstra sua importância. “Isso é uma prova da vitalidade, porque é um dos idiomas mais falados do mundo com certeza”, afirmou o vice-presidente da ABL.

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