A massoterapeuta

massoterapeuta

Quando Marta terminou seu curso de tecnóloga em massoterapia, realizado a distância, encontrou dificuldade de se colocar no mercado de imediato. A profissão era vista com desconfiança na cidadezinha onde vivia, nenhuma clínica, academia ou salão de beleza queriam seus serviços. Mas Marta estava determinada a não trabalhar mais como caixa do menor dos dois supermercados do município. Não passara tantas noites se dedicando aos fundamentos da massagem, aos livros de anatomia e fisiologia, às aulas de bioética e biossegurança à toa. Então decidiu empreender.

Como ninguém lhe desse bola na terra natal, Marta decidiu pegar a estrada rumo à capital, mas nunca chegou lá. Seu destino estava no meio do caminho. Em uma dessas paradas de caminhoneiros, enquanto engolia um pão com manteiga empurrado com café amargo e morno, ela reparou no corpanzil desalinhado de um motorista de Scania. Ao largo do balcão de coxinhas, quibes e esfihas, o homem se contorcia, levava as mãos às costas, esticava os braços para cima tentando alongar o lombo empenado por quilômetros infinitos dentro da boleia.

Marta então se aproximou do colossal operário do volante, apresentou-se muito profissionalmente e ofereceu seus serviços. O homem ficou desconfiado, mas não tinha nada a perder: a moça prometia que, se sua técnica não aliviasse as dores que o caminhoneiro sentia, ele não precisaria pagar. Despachada, buscou no bagageiro do ônibus sua maca dobrável, avisou ao chofer que podia partir sem ela, vestiu o jaleco, instalou o equipamento sob a sombra de uma paineira-rosa no estacionamento dos brutos e se pôs a trabalhar. Uma hora depois o rotundo motorista, às lágrimas, entregava a Marta uma nota de cem, pedindo que ficasse com o troco.

Até hoje Marta está naquele posto do cerrado mineiro. Fez um combinado com o gerente e decorou uma salinha até então abandonada ao lado da borracharia. Pintou as paredes, colocou uma fonte de água em forma de Buda e uma fileira de bambus-amarelos em um canto, no outro um armarinho para guardar toalhas, pedras quentes e óleos, e no meio instalou sua maca. Do lado de fora fazem fila trabalhadores rodoviários com bico de papagaio, insônia, hérnia de disco, depressão, tendinites, bursites e todo tipo de lesão por esforço repetitivo que se possa imaginar, todos ansiosos pelo alívio proporcionado pelas divinas mãos de Marta. E não adianta chegar e achar que vai ser atendido: ela só recebe com hora marcada e até agosto não tem mais vaga na agenda.

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