Fundição Guará: projeto em Matinhos transforma descarte de vidro em arte

A Fundição Guará surgiu da sensibilidade da artista plástica, Désirée Sessegolo, que viu a necessidade de criação de projetos de inclusão social e também o descarte correto do vidro, a matéria prima utilizada em suas obras. A artista já expôs suas obras em diversos países do mundo e, no litoral do Paraná, foi acolhida pela comunidade que viu na sua técnica uma forma de aprender e empreender.

“O projeto surgiu depois de 15 anos que eu estava atuando com vidro, uma carreira sólida construída com exposições em diversas partes do mundo. Em minhas pesquisas com vidro, tinha muitos materiais que já não usava mais, porque desenvolvi uma técnica própria e este material estava ficando obsoleto. Ou eu doava, vendia ou ficava parado. Surgiu a ideia de pegar todo esse material e ensinar as pessoas a trabalharem com vidro. Existe muita demanda de projetos sociais que capacite pessoas no Brasil e também temos excesso de vidro desperdiçado”, explicou Désirée.

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“Existe muita demanda de projetos sociais que capacite pessoas no Brasil e também temos excesso de vidro desperdiçado”, explicou Désirée Sessegolo, criadora do projeto (Foto: Divulgação/Fundição Guará)

Ela lembra que o material pode ser totalmente reciclável. “É um absurdo de vidro que fica desperdiçado, jogado em rios, matas, rua e oceanos. O projeto funciona primeiro como um treinamento, uma conscientização, para que as pessoas saibam que esse material é 100% reciclável. Enquanto treino as pessoas, eu abro espaço nas cidades para que entendam que esse é um material abundante jogado fora, é um resíduo contaminante, cortante, que dura mil anos para se decompor”, disse a artesã.

Segundo ela, a logística do material é complexa, devido ao peso e ao baixo preço do vidro resíduo para as cooperativas de catadores. “É um resíduo problemático. O projeto vem para mostrar aos governantes e comunidade que dá para juntar as duas pontas e fazer algo bem bacana”, ressaltou Désirée.

Experiência no litoral do Paraná

A artesã relatou que o litoral do Paraná a surpreendeu. “Atuar no litoral tem sido uma experiência extraordinária, que ultrapassou tudo que eu poderia imaginar. A comunidade abraçou o projeto com uma paixão incrível”, afirmou.

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Peças produzidas pelos alunos da Fundição Guará (Foto: Divulgação/Fundição Guará)

O envolvimento da comunidade também chamou sua atenção. “Os alunos da Fundição Guará estão envolvidos. Fizemos uma instalação chamada Cardume Caiçara, com 300 peixinhos de vidro, exposta na UFPR Litoral. Recentemente, os alunos viram que viria uma tempestade com muito vento e protegeram a exposição com recursos próprios. A universidade também cedeu um andaime para ancorar a obra e evitar que ela voasse com o vento, toda a comunidade se envolve de uma maneira impressionante”, observou Désirée.

A comunidade está aberta para aprender e veem futuro com a técnica.

“Nenhum deles pensava em trabalhar com vidro e hoje produzem peças de altíssima qualidade, com excelente design e acabamento e estão expondo suas obras em museus na Europa. Os jovens não veem perspectivas de futuro no litoral e o trabalho com vidro ampliou os horizontes, percebem que podem desenvolver produtos, vender no comércio, fazer souvenirs, representar as cidades e expor em qualquer museu do mundo”, destacou a artesã.

Atuação

A Fundição tem uma sede localizada na Arena Vicente Gurski e outra na zona rural de Morretes. A artesã pretende fazer uma parceria em Paranaguá para também iniciar o projeto. “Se alinhado com prefeituras, pode ser um trabalho com resíduo efetivamente coletado nas cidades. Hoje, a gente trabalha com os resíduos que os alunos trazem, mas o projeto pode ser ampliado, trazer retorno para muitas pessoas e consumir parte desse vidro que está perdido pelas ruas”, destacou a artesã.O trabalho da Fundição Guará está disponível no Instagram @fundicaoguara e no site www.fundicaoguara.com.

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