No pulsar criativo do cinema universitário, a UFRN revela talentos e narrativas potentes que atravessam telas e realidades. É nesse cenário que a Rabicó Produções, formada por estudantes do curso de audiovisual da instituição, desponta como um coletivo que alia experimentação estética e engajamento social em curtas-metragens autorais e instigantes.
O curso, no ano de 2022 recebeu nota máxima (5) em avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), nas dimensões de corpo docente, organização didático-pedagógica e infraestrutura, tem sido o berço de diversas iniciativas independentes.
O coletivo surgiu em 2022 a partir de uma proposta da disciplina de TV I, ministrada pela professora Angela Pavan. O que era para ser um simples exercício semestral — a produção de um vídeo-ensaio — acabou se transformando em um projeto coletivo duradouro. “Nós éramos um grupo de amigos que se formou logo na primeira semana de aula. Quando surgiu o trabalho, decidimos fazer como se fôssemos uma produtora de verdade”, conta Jair Libanio, produtor executivo da Rabicó. Sem experiência prévia em produção, o grupo distribuiu os papéis conforme as afinidades de cada membro. “E deu certo”, resume Breno Esdras, responsável pelo som.

Uma estreia inusitada no cemitério
A primeira produção da Rabicó foi o curta Venha Ver o Pôr do Sol, adaptação do conto homônimo de Lygia Fagundes Telles. O filme foi rodado no cemitério municipal de Natal, após três meses de pré-produção intensa. A obra, exibida em três mostras de cinema e prestes a entrar no catálogo da plataforma Cine Poty, se destaca pelo olhar gráfico e ousado da equipe.
Mesmo com o reconhecimento, os bastidores revelam os desafios enfrentados pelos estudantes. Equipamentos escassos e a necessidade de improvisar marcam a trajetória da produção. “Procuramos o departamento para empréstimo de câmera, tripé, entre outros. A professora também nos ajudou com materiais. Mas não havia o suficiente para toda a turma”, relembram os membros do processo da primeira produção.
À sua espera: o tempo como abismo e criação
Após os três curtas lançados, a Rabicó se prepara para mais um lançamento: À Sua Espera, dirigido por Jade Cunha e Ana Clara Ribeiro. Gravado em apenas três meses, o filme mergulha no universo íntimo de uma mulher que vive à espera de algo (ou alguém) indefinido. A narrativa é marcada por planos longos e silenciosos, em que o tempo se arrasta como metáfora de um ciclo de solidão e estagnação.
Para Jade, que além de roteirista é codiretora, o projeto tem um sentido muito pessoal: “Essa espera indefinida me remete à minha própria transição de gênero. Passei muito tempo achando que não estava pronta para viver como sou. Fiquei presa num ciclo de espera. Fazer esse filme foi também romper com isso”, revela.
A direção optou por acentuar a sensação de tempo suspenso. “Queríamos que o público sentisse o tempo como a personagem sente. Um tempo que pesa, que não passa, porque ela vive na expectativa de algo que talvez nunca venha”, explica Ana. O curta teve estreia no mês . Confira o trailer aqui.
Uma produtora com identidade e memória
O nome inusitado do coletivo vem de um momento cômico e trágico vivido pelos integrantes no campus da universidade: ao encontrarem um soldadinho morto durante um encontro de grupo, decidiram nomeá-lo “Rabicó” . Desde então, a Rabicó tem mostrado fôlego e consistência. FurtaCor, segundo trabalho do grupo, foi o primeiro a ultrapassar as fronteiras do estado, exibido no Festival de Cinema de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.
O futuro da Rabicó
Com novos projetos em fase de pré-produção e uma trajetória crescente no circuito de mostras e festivais, a Rabicó já vislumbra passos maiores. “Quando criamos o coletivo em 2022, nossas expectativas eram justamente as oportunidades que estamos tendo hoje, então parece até surreal pensar sobre aonde vamos a partir daqui, mas as expectativas atuais são de continuar crescendo e lutando por meios de criar a nossa arte e formalizar ainda mais o nosso trabalho”, comenta Ion Cavalcanti, membre do coletivo.

“Sonho com o momento em que possamos realmente transformar a Rabicó em uma empresa, um espaço que sirva de laboratório para as nossas criações e converter a nossa experiência em oportunidades para outros profissionais iniciantes que estejam no mesmo momento no começo. O audiovisual independente é sobre possibilidade de criar arte na sua forma mais pura, livre e genuína. O que desejo é que esse brilho do fazer cinema independente seja cada vez mais reconhecido como uma força e incentivado sem que se apague a maneira crua como fazemos arte quando estamos começando”, finaliza.
Com uma trajetória que une formação acadêmica, afetividade e ousadia, a Rabicó Produções representa não apenas uma conquista coletiva, mas um potente manifesto da juventude que acredita no cinema como ferramenta de expressão, resistência e transformação.
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