Passado um mês da paralisação nacional dos entregadores por aplicativos, promovida pelo Breque Nacional dos Apps nos dias 31 de março e 1º de abril, as reivindicações da categoria seguem, em grande parte, ignoradas pelas empresas. Em Natal, lideranças relatam frustrações com a ausência de negociações efetivas, aumentos simbólicos e punições direcionadas aos participantes do movimento.
Segundo Alexandre da Silva, presidente da Associação dos Trabalhadores de Aplicativo por Moto e Bike de Natal e Região Metropolitana (Atamb), apesar da realização de uma audiência pública com representantes da categoria, as plataformas de entrega continuam agindo com distanciamento e utilizando a imprensa para simular diálogo.
“Essas empresas sempre fazem isso. Nunca dão voz à categoria, mas saem por aí, em notas de jornais, TV, rádio, dizendo que estão em diálogo com a gente. Isso é conto de fadas, nunca acontece de verdade”, afirmou.
De acordo com ele, o único reajuste anunciado foi o aumento de R$ 1,00 na taxa mínima para motoentregadores e R$ 0,50 para ciclistas. No entanto, o valor por quilômetro rodado – uma das principais reivindicações – permaneceu em R$ 1,50.
“Eles dizem que a quilometragem mínima é 4 km, mas no contrato está lá embaixo: eles podem te mandar para 5 km e pagar só R$ 7,50. Isso não muda nada, continua precarizando a nossa mão de obra”, critica.
Entre as demandas ignoradas pelas plataformas estão o reajuste da taxa mínima de entrega para R$ 10, o aumento do valor por quilômetro para R$ 2,50, a limitação das rotas para bicicletas a um raio de 3 km e o pagamento integral por cada entrega, mesmo em corridas agrupadas.
Além da frustração com os resultados práticos da mobilização, lideranças afirmam que vêm sendo alvo de retaliações. Muitos entregadores envolvidos nas manifestações sofreram queda brusca no “score” — sistema de avaliação que interfere diretamente no volume de pedidos recebidos.
“Eu mesmo caí do nível 3 direto para o 1. Levei quatro semanas para conseguir recuperar. Isso afeta demais o nosso ganho. Muitos colegas também foram punidos. É uma retaliação clara contra quem está tentando melhorar as condições de trabalho”, relata o presidente da Atamb.
Que autonomia é essa ?
A falta de autonomia também segue como ponto sensível.
“Eles dizem que somos autônomos, mas que autonomia é essa se a gente não pode recusar corrida, não define nosso preço, e ainda leva bloqueio se tenta se organizar? Quando você recusa algumas corridas, entra numa tal ‘parada técnica’. Se tocar de novo e você recusar, são mais 15 minutos de bloqueio. Isso não é liberdade, é punição disfarçada”, desabafa.
Enquanto as plataformas seguem sem oferecer respostas concretas, os trabalhadores avaliam novas estratégias de mobilização. Para Alexandre, a luta deve continuar:
“Não podemos parar. Se não houver resistência, o pouco que temos ainda pode piorar”.
Nota oficial do comando nacional do breque dos APPS
O Comando Nacional do Breque dos Apps vem a público repudiar a mais recente comunicação do iFood acerca do reajuste na taxa mínima de entregas. Consideramos um desrespeito à categoria a forma unilateral com que a empresa impôs o aumento, sem qualquer abertura para diálogo ou negociação com os trabalhadores.
O iFood segue ignorando demanda fundamental da base nacional dos entregadores: a remuneração por quilômetro rodado. Essa pauta é central para garantir justiça no pagamento, já que o tempo e a distância percorrida são fatores determinantes na nossa atividade.
Além disso, a medida anunciada para os entregadores de bike escancara mais uma vez a política discriminatória da empresa. O valor da taxa mínima para bike foi fixado abaixo do valor pago para motos e carros, em total desrespeito com quem também enfrenta o corre diário nas ruas, muitas vezes em condições ainda mais precárias. O Comando considera um absurdo a tentativa do iFood de dividir a categoria, oferecendo valores diferentes pelo mesmo trabalho.
A empresa também continua espoliando os trabalhadores ao manter as rotas agrupadas sem o pagamento integral de cada entrega. Essa prática fraudulenta aumenta a carga de trabalho sem a devida remuneração, o que é inaceitável.
Dado esse cenário, o Comando Nacional do Breque dos Apps estabelece o seguinte prazo:
- O iFood tem até o dia 1º de maio de 2025 para abrir uma mesa de negociação com o Comando Nacional;
- Ou atender integralmente todas as pautas da categoria até o dia 1º de junho de 2025.
Caso a empresa mantenha a postura de desrespeito e silêncio, a categoria entrará em paralisação nacional no dia 2 de junho, por tempo indeterminado.
Seguimos firmes na luta por justiça, dignidade e respeito para todos os trabalhadores por aplicaticativo.
Projeto autoriza entregadores a deixar mercadorias nas portarias de condomínios
O Projeto de Lei nº 586/2023, apresentado pelo vereador Daniel Valença (PT), autoriza motoboys e entregadores a deixarem encomendas nas portarias de condomínios, sejam eles verticais ou horizontais. A medida visa otimizar o tempo dos entregadores e reduzir deslocamentos não remunerados dentro dos condomínios.
A categoria denunciou inúmeros casos de agressão – verbal e física – de consumidores contra trabalhadores que se recusavam a subir em prédios ou se deslocar até as casas em condomínios horizontais para entregar as encomendas.
O projeto foi aprovado pela Câmara em dezembro de 2023, vetado integralmente pelo prefeito da época, Álvaro Dias, em janeiro de 2024, mas o veto foi derrubado pela Câmara em maio de 2024.
A promulgação da lei contou com o apoio do Ministério Público do Trabalho e do Ministério Público do Rio Grande do Norte, que emitiram uma nota técnica destacando os benefícios da medida para a saúde e segurança dos trabalhadores, além de contribuir para a redução de acidentes de trânsito envolvendo motoentregadores.
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