Natal tem cerca de 55% das vias com algum tipo de arborização. A capital potiguar é a terceira com maior índice de arborização dentre as capitais do Nordeste, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, apesar do número parecer transparecer uma realidade positiva, a média de arborização é considerada baixa por ambientalistas.
“Na verdade, é muito pouco! Para termos uma ideia, entre as capitais, a mais arborizada é Campo Grande, com 91,4%. Dentre 5.568 municípios, Natal ficou na 3.919ª posição. Tem população que não tem nenhuma arborização na rua, é como se, considerando 780 mil habitantes, houvesse arborização para 433 mil e não tivesse para 352 mil”, alerta Francisco Iglesias, ambientalista.
Dentre as capitais do Nordeste, Fortaleza é a mais arborizada (59%), seguida por Teresina (57%). O levantamento do IBGE mostrou também que algumas cidades conseguem manter uma boa média de arborização, apesar do avanço urbano, como Goiânia, uma das capitais a manter a médica de arborização em 89,68%.
“A Prefeitura do Natal não conseguiu plantar 30 mil árvores que devia ter plantado nos últimos quatro anos e esse número já é muito pouco. Em Goiânia, por exemplo, foram plantadas em cinco anos 500 mil árvores. Esquecem que quanto mais árvore e calçada, mais beleza a cidade tem. Isso aumenta a percepção de qualidade de vida, atrai moradores, a cidade enriquece e se valoriza, melhora a vida de todos”, critica Iglesias.
A Organização Mundial de Saúde, que usa uma metodologia diferente do IBGE, recomenda que haja uma média de 12 metros quadrados de área verde por habitante. Já a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) também recomenda um índice mínimo de 15 metros quadrados de áreas verdes públicas por habitante.
“Isso equivale, aproximadamente, a três árvores por morador. Se Natal tem 780 mil habitantes, deveria haver, em média, 2 milhões e 800 mil árvores. A arborização urbana traz vários benefícios como qualidade do ar, redução da sensação térmica, redução das temperaturas em áreas edificadas, atenuação da poluição sonora. Em algumas cidades, como Natal, tem áreas de proteção ambiental, mas as áreas edificadas como um todo, mas as áreas centrais têm uma baixa arborização. O ideal seria mais de 80% de arborização, considerando o percentual do IBGE e poucas cidades brasileiras atingiram esse valor”, alerta Malco Jeil, professor do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), geógrafo e doutor em Climatologia pela Universidade Autônoma de Madrid.
“O Brasil tem média de 66% [de arborização], não existe um número ideal, o bom seria 100% de arborização nas vias para oferecer maior qualidade de vida para o cidadão. Em Goiânia, por exemplo, eles não têm praias, mas têm 25 parques urbanos bem cuidados em todos os bairros. Aqui você vai nas praças e não tem jardim, na poda eles decepam tudo, não há um sistema de preservação da arborização”, acrescenta Iglesias.
Índice de capitais mais arborizadas:

Interior mais arborizado
Algumas cidades do interior apresentaram índice de arborização maior do que o da capital, como Mossoró (74,78%). Em muitas cidades, a média se manteve até acima dos 90%, como em Viçosa (97,9%);
Janduís (97,68%); Serra Negra do Norte (96,65%); Pedro Avelino ( 95,11%); Francisco Dantas (95,1%); Felipe Guerra (95,09%); Riacho da Cruz (94,69%); Ouro Branco (94,46%); Jucurutu (93,98%); Paraná (93,72%); São José do Seridó (93,7%); Carnaubais (93,25%); Passa e Fica (93,18%); Major Sales (92,51%)
Luís Gomes (92,39%); Governador Dix-Sept Rosado (92,23%); Timbaúba dos Batistas (92,22%); Riacho de Santana (92,19%); São Fernando (91,85%); Marcelino Vieira (91,29%); Cruzeta (90,93%); Doutor Severiano (90,91%); Acari (90,89%); José da Penha (90,31%) e Rodolfo Fernandes (90,14%).
Um guia para políticas públicas
Para quem atua no setor ambiental, os dados podem servir de guia para a elaboração de políticas públicas mais assertivas.
“Os dados do IBGE são altamente confiáveis, bem analisados, equipe muito bem prepara que utilizou imagens de alta resolução, o que é importante. Essa é a 1ª vez que o IBGE apresenta um dado desse porte e mostra a importância da questão ambiental, a arborização das áreas urbanas, que é onde vive a população. É importante que esse percentual se mantenha alto. Apenas uma capital brasileira ficou acima dos 90% e cerca de 50% de arborização em torno das edificações, isso é preocupante porque se observa em pesquisas de clima urbano que as cidades apresentam ilhas de calor, como Natal, apresentam temperaturas mais elevadas nas áreas centrais da cidade e edificadas do que as periféricas, isso traz todo um transtorno porque temos clima predominantemente tropical. A arborização é importante para diminuir os gases de efeito estufa, as árvores absorvem CO2 e liberam oxigênio e água para a atmosfera. É preciso uma campanha permanente de arborização, isso traz um alerta para as próximas gerações. Qual o índice que teremos no futuro, nos próximos dez anos se não houver desde já um trabalho de arborização nas cidades?“, questiona Jeiel.
“É um elemento censitário adicional com todos os municípios, de origem confiável, que pode ser trabalhado para proporcionar melhor condição de vida urbana e nisso Natal tem deixado muito a desejar. Só tivemos construção de calçadas recentemente porque era um débito da Copa de 2014, que deveriam ter sido feitas em 2013 e só fizeram por obrigação, porque tinha o Ministério Púbico em cima”, aponta o ambientalista.
“As decisões que orientam a Prefeitura deveriam ter fundo técnico, está demonstrado que trabalhar com arborização diminui o uso do sistema de saúde em períodos mais quentes, com isso o município vai economizar. Cada R$ 1 investido em arborização, economizaria R$ 10 em saúde pública. É uma política de frutos econômicos e políticos, melhoraria os índices da cidade e investimento de quem gostaria de morar nela, que já tem uma beleza única pelo paisagismo, mas é feia comparada com a paisagem que tem. Temos que proteger essa paisagem, aumentar a presença da paisagem na cidade criando corredores de árvores que interligariam as zonas de proteção que temos. O prefeito anterior asfaltou vias e não se preocupou em arborizar essas mesmas ruas, se a prefeitura cuida mais, gera mais empregos, impostos…. É um ciclo virtuoso, isso já é a ciência que diz”, acrescenta Iglesias.
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