Acidentes com caminhões e ônibus causaram três vezes mais mortes que ocorrências com veículos pequenos em 2024.Mesmo sendo a menor parte do total da frota de veículos no país, apenas 4% em 2024, esses veículos de grande porte foram responsáveis por mais da metade (53%) das mortes nas rodovias federais brasileiras, um total de 3.291 óbitos, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal. Caminhoneiros relatam falta de condições adequadas para trabalho.Ainda no ano passado foram registrados 20.744 acidentes com caminhões e ônibus, que levaram a 3.291 mortes e 24.148 feridos. O total apontado pela PRF em 2024 foi de 6.160 mortes, 84.489 feridos e 73.121 acidentes.A rotina intensa de trabalho dos motoristas profissionais, que são pressionados muitas vezes por prazos e metas de entrega, é uma das causas da quantidade de acidentes, segundo membro da comunicação social da PRF da Bahia, Fábio Rocha.O caminhoneiro Gilson Batista, que já atuou por empresas e de forma autônoma, relata que já viveu jornadas exaustivas na profissão para alcançar o cumprimento de prazos de viagens.“Às vezes a gente pega de manhã cedo, quatro, cinco horas da manhã, mete o pé na estrada e não para. Ainda mais o motorista autônomo. Às vezes a gente roda até meia-noite, uma hora da manhã, pra fazer a entrega. Quando a pessoa roda por empresa é mais tranquilo porque tem os horários estipulados”, conta.Essa rotina de trabalho com privação de sono afeta diretamente o rendimento e a segurança do motorista profissional e de outros sujeitos do trânsito.A psicóloga Jocielle Dias explica o efeito desse fenômeno da privação de sono na mente de quem dirige. “É algo que atinge de forma negativa os reflexos, atenção, coordenação e até mesmo o ritmo mental do motorista, podendo afetar até a cognição, prejudicar a memória e até mesmo alterar funções cardíacas. Privação de sono é um fator que pode sim desencadear acidentes para aqueles que são submetidos a dormir menos do que seu corpo necessita”.Em média, a cada seis acidentes com caminhões e ônibus nas rodovias federais acontece uma morte, enquanto com carros os óbitos acontecem a cada 18 ocorrências.Uma das explicações para isso é o maior potencial de dano dos veículos maiores por conta de seu peso, dimensões e de sua própria dinâmica de movimento, que envolvem manobras, como frenagens e mudanças de direção, que necessitam mais tempo e espaço, o que é mais difícil em situações de emergência.Perante esse cenário, a PRF mais que dobrou as operações de fiscalização da Lei do Descanso de 2023 (10.119 ações) para 2024 (21.278). A Lei do Descanso determina 11 horas de repouso a cada 24 para motoristas profissionais.No ano passado foram emitidas 78.658 autuações por descumprimento dessa lei. Conforme Fábio da PRF Bahia, a intensificação dessas ações tem como foco a prevenção de condutas de risco, verificação de condições veiculares e cumprimento da legislação. Ele ainda aponta que as ações acontecem de forma estratégica, com maior incidência em trechos com histórico de acidentes envolvendo veículos de carga ou passageiros.Nas abordagens, a PRF verifica os documentos obrigatórios, registros no disco do tacógrafo – equipamento que registra velocidade, distância percorrida, tempo de condução, parada e outras informações do veículo -, e entrevista os motoristas para verificar se os períodos de descanso estão sendo cumpridos. “São ações que não apenas coíbem irregularidades, mas contribuem para conscientizar os profissionais sobre os riscos do excesso de jornada”, aponta Fábio.A pressão pela necessidade do cumprimento da Lei é algo que está cada vez mais presente na rotina das empresas, como conta o motorista profissional de caminhão Claudio Santos. “Hoje minha rotina está mais tranquila, mas já trabalhei muito assim, com poucas horas de sono para cumprir o prazo. Hoje as empresas procuram dar suporte, até porque elas são penalizadas pela falta do cumprimento da lei das 11 horas de descanso”, diz.
Caminhões e ônibus causaram 3 vezes mais mortes que automóveis
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