De “outsider antipolítica” a aliado de Rogério Marinho: a guinada de Styvenson Valentim

O senador Styvenson Valentim (PSDB) chegou à política surfando na onda do antipetismo, do voto “antissistema” e da rejeição aos partidos tradicionais em 2018. Egresso da Polícia Militar, onde construiu fama de linha dura no comando da Lei Seca em Natal, apresentou-se ao eleitorado com um discurso moralista, avesso a alianças e supostamente comprometido com o combate à corrupção que seria uma característica daquilo que ele classificava como “velha política”.

O tempo, no entanto, somado ao pragmatismo eleitoral, levou o senador a fazer ajustes na imagem do personagem que ostenta nas redes sociais. Depois de seis anos convivendo no metiê político e de mudar de partido pela terceira vez, Styvenson não apenas suavizou o discurso moralista como se aliou a um dos maiores representantes do sistema que ele dizia combater: o senador Rogério Marinho (PL), envolvido em denúncias sobre o caso do “orçamento secreto”, criado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A guinada política é mais que simbólica. Em dezembro de 2021, Styvenson protagonizou um dos momentos de maior tensão da Comissão de Transparência do Senado Federal ao confrontar Rogério Marinho, então ministro do Desenvolvimento Regional, sobre a liberação de R$ 1,4 milhão do orçamento secreto para a construção de um mirante turístico em Monte das Gameleiras, na região Agreste do Rio Grande do Norte.

A atração turística, segundo denunciou o jornal “Estado de São Paulo”, serviria para valorizar o condomínio de 100 casas batizado de “Clube do Vinho”, erguido em um terreno vizinho ao futuro mirante, de propriedade de Rogério Marinho, em sociedade com Francisco Soares de Lima Júnior, seu ex-assessor de confiança no Ministério do Desenvolvimento Regional.

Foi Styvenson quem apresentou o requerimento que levou Marinho a prestar esclarecimentos no Senado Federal. O encontro foi tenso: Marinho reagiu aos questionamentos de Styvenson acusando-o de fazer “ilações”, além de tentar desqualificá-lo.

À época, Styvenson ainda se colocava como um dos poucos independentes no Senado Federal, supostamente distante da polarização entre petistas e bolsonaristas e crítico à prática dos “conchavos” e do “toma-lá-dá-cá”.

A contradição de Styvenson

A aproximação recente com Rogério Marinho representa não só uma mudança em seu discurso, mas uma flagrante contradição de Styvenson. O senador bolsonarista, além do envolvimento com o orçamento secreto, também é acusado em ação judicial de peculato.

O caso envolve a suposta contratação de funcionários fantasmas durante o período em que Rogério Marinho presidiu a Câmara Municipal de Natal, entre 2005 e 2007. Em 2022, o senador pediu o arquivamento da ação penal, mas o recurso foi negado pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Cálculo político

Nada disso, no entanto, impediu a aproximação entre Styvenson e Rogério Marinho. Enquanto Styvenson buscará a reeleição em 2026, Rogério tem a intenção de disputar a sucessão da governadora Fátima Bezerra (PT).

A tarefa de Styvenson parece menos espinhosa, uma vez que estarão em disputa duas vagas ao Senado Federal. Isso não significa, necessariamente, que o jogo está ganho, porque ele enfrentará pelo menos duas adversárias competitivas: a senadora Zenaide Maia (PSD) e a governadora Fátima Bezerra (PT), que deverá renunciar ao cargo em abril para se candidatar a senadora.

Embora ainda seja bastante popular, Styvenson não quer correr riscos. A aliança com Rogério Marinho tem como objetivo consolidar o voto do eleitorado conservador para assegurar sua reeleição.

Em troca, ele emprestaria sua popularidade a Rogério Marinho, que ainda busca se viabilizar eleitoralmente, mas enfrenta um cenário mais adverso com a oposição dividida entre três pré-candidaturas: a sua própria, a do ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos) e a do prefeito de Mossoró Allyson Bezerra (União Brasil).

Em público, entretanto, Styvenson mantém o discurso de “independência”, mesmo com votações cada vez mais alinhadas à extrema-direita no Congresso Nacional. Na prática, o senador parece ter compreendido que, para se manter na política, é preciso aderir ao “sistema”, mesmo que isso signifique abandonar a coerência.

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