Mulheres estudantes da UFRN fazem marcha e ato após casos de assédio

As mulheres estudantes da UFRN vão promover atividades como marcha e ato em protesto após a denúncia de diferentes casos envolvendo assédio dentro do ônibus circular e até sequestro no campus central.

A primeira atividade acontece nesta terça-feira (15) às 15h30, saindo do setor IV rumo à Reitoria da instituição. A marcha pelo fim do assédio é promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). As denúncias não se tratam de casos isolados, diz Mariana Salvino, coordenadora geral do DCE, que reivindica mais segurança dentro do campus.

“O DCE vê a coragem dessas meninas denunciarem esses casos, mas também repudiamos que ações como essas claramente não deveriam acontecer”, aponta.

Nesta segunda (14), a entidade se reuniu com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, com o Espaço Acolher e com a Ouvidoria da UFRN para discutir os acontecimentos e organizar uma campanha física e digital em defesa da vida das mulheres, para que estudantes saibam como e onde recorrer em caso de violência na UFRN.

“A universidade recebeu a denúncia e elas vão ser encaminhadas, e nós enquanto entidade representativa vamos continuar cobrando para que as medidas sejam tomadas e não fiquem sem uma solução”, diz Mariana. 

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“A marcha é uma ação pra fazer barulho, para que a universidade saiba que não estamos em silêncio pra toda essa situação, e chamar atenção de todo mundo. Por isso, não será num lugar fixo, mas passando pelos setores falando e cobrando solução e dizendo que queremos uma universidade sem assédio”, afirma.

Já a coordenadora de mulheres do DCE, Ana Lívia, aponta que o assédio não é algo novo na universidade, “até porque está inserido em uma estrutura que protege e legitima esse tipo de violência”, mas nas últimas semanas o alastramento de casos de assédio e até de tentativa de sequestro têm demonstrado a fragilidade da segurança, principalmente das estudantes dentro da instituição. 

“As denúncias são importantes para a identificação e punição dos criminosos e reforçamos sua importância. A nossa luta é para que nenhuma mulher precise passar por isso, ainda mais dentro de um espaço que deveria ser de acolhimento e de segurança, como o espaço da universidade”, aponta.

Ela também destaca a necessidade de chamar a atenção da universidade frente ao cenário de insegurança das últimas semanas. 

“É a partir da marcha que iremos fazer uma denúncia pública e coletiva. O dia de hoje é pra fortalecer a luta das meninas que conseguiram denunciar e das que não conseguiram também. Hoje não é um dia de silêncio, é um dia de cobrança. A UFRN precisa se posicionar e se comprometer a tomar ações efetivas de combate à essas violências. As estudantes têm o direito de existir sem serem violentadas, principalmente em um território que deveria ser seguro e acolhedor, como o de uma universidade. Por isso é tão importante a participação e mobilização dos estudantes, dos professores e funcionários dessa instituição, é nas ruas que conquistamos e mantemos nossos direitos, e as ruas do ato de hoje serão os corredores da UFRN”, enfatiza a coordenadora de mulheres.

Camila Barbosa faz parte de outro movimento que vai integrar a marcha, o coletivo Juntas. Ela diz que o fato das mulheres serem mais afetadas e um alvo padrão nesses casos é mais um sintoma da cultura misógina que vivemos. 

“Há muitos anos lutamos contra o assédio na universidade. Só de 2020 para cá foram inúmeros atos, intervenções nos conselhos superiores e manifestações de repúdio, justamente porque há um problema evidente de tratamento com as denúncias feitas na ouvidoria institucional. Não há punição real aos assediadores (que quando muito são apenas transferidos de departamento), acolhimento às vítimas e uma política preventiva de combate ao assédio”, diz.

Segundo ela, é preciso haver uma reformulação séria no funcionamento da ouvidoria institucional. 

“Muitas estudantes e servidoras inclusive não se sentem seguras para fazer a denúncia porque sabem que os casos não serão apurados corretamente. Além disso, seria importante que a guarda patrimonial mudasse a sua natureza para zelar também pela segurança das pessoas da universidade, não apenas do patrimônio estrutural. Mais iluminação no campus, um seminário de segurança envolvendo todos os setores e campanhas educativas que não se limitassem ao discurso simbólico. Isso tudo é parte do começo do processo de mudar as coisas”, defende.

Ato público na quarta (16)

Em outra ação contra a violência, o Movimento Correnteza e o Movimento de Mulheres Olga Benário realizam um ato público na manhã desta quarta (16), a partir das 8h30, com concentração na parada da Reitoria.

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“Todas essas denúncias só evidenciam que, de forma institucional, não há um preparo da universidade para apurar e solucionar os casos de assédios. Por isso, enxergamos como uma luta a ser tocada dentro da universidade pelo Movimento Correnteza e com a organização das estudantes. Por isso, realizamos junto ao Movimento de Mulheres Olga Benário uma aula de auto defesa e já iremos para nosso 2° ato contra o assédio na UFRN. O assédio é uma reprodução do machismo em nossa sociedade, sustentado pelo atual sistema capitalista que tem como um de seus principais pilares o patriarcado que viola nossos corpos. Por isso, a luta é também pelo fim desse sistema misógino”, diz a estudante Milenne Barbosa, dirigente do Correnteza, que defende a auto organização das mulheres estudantes como um primeiro passo para enfrentar esses casos, além dos protestos em toda universidade para que mais mulheres se conscientizem em combater o assédio. 

Ela diz que as ouvidorias são importantes, mas é preciso mais.

“Queremos um acolhimento para essas vítimas, pois passar pelo assédio é uma experiência traumática, que deixa marcas psicológicas e muitas vezes físicas, e principalmente a ágil ação de prender esse agressor. Nós só descansaremos quando de fato nos sentirmos seguras na universidade”, aponta.

Ela também diz que a marcha organizada pela sua organização e a campanha “Chega de assédio na UFRN” já são uma luta antiga do movimento e tem ajudado a expandir a denúncia não só na universidade mas também em todo estado. 

“A UFRN é um coração que produz ciência, pesquisa e extensão, forma profissionais ao mercado de trabalho e uma esmagadora maioria dessas pessoas são mulheres. Por isso, atos como os que já construímos e iremos construir expandem nossa denúncia e faz pressão para melhores soluções na instituição. É importante também os setores se posicionarem, pois na estrutura administrativa descentralizada da UFRN, cada setor também pode e deve tomar medidas cabíveis sobre esses crimes que ocorrem, dessa vez de forma mais frequente nos circulares, mas que infelizmente é rotineiro em vários ambientes dos setores de aulas.”

Assédio no ônibus

Mais de 20 alunas de diferentes cursos da universidade já relataram terem sofrido importunação sexual dentro dos ônibus circulares que trafegam por dentro do campus universitário.

Os depoimentos são parecidos, assim como a forma de agir do assediador. Várias vítimas já registraram Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e abriram queixa na Ouvidoria da Universidade. Elas são abordadas pelo suspeito dentro do ônibus. Ele carrega uma bolsa grande, senta ao lado da vítima e usa o objeto para disfarçar o assédio, passando a mãos nas pernas das vítimas com a mão por baixo da bolsa. A universidade afirmou estar colaborando com as investigações.

Sequestro no campus

Já no dia 9 de abril, uma estudante que conversou com a Agência SAIBA MAIS e preferiu não ser identificada relatou uma denúncia de sequestro por volta das 22h, no Centro de Biociências (CB). A aluna disse que seguia para seu carro no estacionamento, quando foi abordada por um homem branco, jovem, de barba, mochila e sem tatuagens aparentes.

“Normalmente o estacionamento é lotado, mas nesse dia só tinha o meu carro. Eu o vi de longe e fui seguindo para o carro, que tirava a minha visão. Quando abri a porta ele se aproximou por trás e anunciou o sequestro. Tirou a arma da mochila, mandou eu sentar no banco do passageiro e baixar a cabeça”, relembra X, em relato à Agência SAIBA MAIS.

Durante o trajeto, o sequestrador foi dirigindo, fez ameaças e mandou a vítima sair do ICloud, por onde o celular poderia ser rastreado. Ele também disse fazer parte de uma facção criminosa e avisou que mandaria o grupo pegar a vítima na faculdade caso ela avisasse a polícia ou bloqueasse a conta bancária instalada no celular.

Ele mandou eu sair do ICloud do IPhone, mas eu não conseguia. Ele começou a achar que eu estava fingindo, mas ele tentou também e não conseguiu. Sugeri uma opção, dar a senha a ele do celular e do banco. Ele transferiu RS 400 em pix e levou minha identidade porque tem o nome dos meus pais. Disse que se fossem atrás dele, ia mandar alguém atrás de mim na universidade”, conta X.

O sequestro que começou no Campus Central da UFRN terminou em um matagal no bairro de Ponta Negra, onde a vítima foi deixada. Sem telefone, ela pediu socorro a moradores até conseguir falar com o pai.

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