O RN quase não lê, mas sementes de mudança já brotam nas escolas

Se o Rio Grande do Norte está entre os estados cujos habitantes menos leem no Brasil, segundo a 6ª edição do “Retratos da Leitura no Brasil”, não faltam iniciativas de quem acredita que o futuro está nos livros. A partir de hoje você vai conhecer algumas histórias de quem nada contra a corrente e continua investindo o que tem de mais precioso na leitura.

Fabiana não foi estimulada a ler na infância, mas está mudando a realidade de centenas de crianças com as rodas de leitura que tem desenvolvido toda segunda na Escola Municipal Professor Ascendino de Almeida, no Pitimbu, onde ensina turmas do 2º ano, formadas por crianças entre 7 e 8 anos de idade.

As crianças recebem material do Projeto Cápsula com quatro livros de literatura. Lemos juntos toda segunda na roda de leitura, leio para eles, eles leem junto e alguns alunos também fazem a leitura. As crianças levam os livros para a quadra, eles ficam bem empolgados”, conta Fabiana dos Santos Duarte.

Esse mês o trabalho se concentrou em torno da poesia e a professora está finalizando o primeiro dos quatro livros do projeto cápsulas: Bichos do Araguaia.

Eles gostam de poema, por causa da rima, se divertem com elas. Eles também gostam muito de contos, os clássicos, como O Patinho Feio e A Branca de Neve, mas também gostam de contos mal assombrados, além daqueles com um lado de humor”, percebe a professora.

Durante semana, a professora Fabiana também faz a “leitura deleite”, quando tiram um momento do dia para ler. Mas, na avaliação dela, a diferença está no fato doa alunos possuírem os livros e poderem levar para casa. Um convívio que ajuda a naturalizar o hábito da leitura.

A vantagem é que não sou apenas eu que fico com o livro. No momento da leitura, eles vão acompanhando e passando com o dedo sobre o texto. Acham o máximo ter o mesmo livro que a professora! É muito interessante porque às vezes falta esse livro e a criança gosta do contato com o livro novo, ele não é a coisa intocável, que só pode pegar na sala de leitura, fica com eles e leva para casa”.

Fabiana só percebeu a diferença que a leitura fez na vida dela ao começar a trabalhar com as crianças e a criar rotinas de leitura. Um hábito que ela também tem com os filhos.

“É um momento de contato. Pergunto o que acharam da história e trabalhamos a narrativa de começo, meio e fim. Quando lemos um livro, podemos trabalhar várias questões em conjunto, como a questão da regionalidade. Bicos do Araguaia, por exemplo, trata dos bichos da região Norte. Além disso, trabalhamos as letras, a interpretação… Não tive muito estímulo na infância, adquiri o hábito de ler já na faculdade e não consigo não ler para as crianças, também faço isso com meus filhos, tive esse cuidado de ler para eles… na leitura você viaja, tira dúvidas, vai contextualizando, fala de comportamento, converso muito sobre bullying, o que é certo e errado”, explica.

Nos 25 anos de trabalho, além de atuar em sala de aula, a professora também já foi coordenadora, gestora, passou por programas e ensinou na educação infantil, onde também trabalhou muito com literatura.

Temos uma luta que é a disputa da atenção com as telas, mas no momento que eles vão para a sala de leitura, podem fazer empréstimos e aí é outro universo. Não tem como aprender se você não ler. A criança precisa ter acesso ao livro para desenvolver o interesse, ainda mais hoje, com essa quantidade de informação, de tela…”, destaca Fabiana.

Se você conhece alguma história interessante de qualquer pessoa envolvida na defesa da leitura, escreva pra gente!

Livros trabalhados este ano I Foto: cedida

População do RN é a que menos lê no Brasil

O potiguar é o povo que menos lê no Brasil, com o agravante de que está lendo cada vez menos, segundo o levantamento da 6ª edição do “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgado em 2024. Depois do RN, que lidera o ranking de pior índice de leitura, aparecem os estados do Mato Grosso (36%) e Piauí (37%).

No Nordeste, o Ceará (54%) foi o que apresentou melhor desempenho, seguido por Pernambuco (46%), Maranhão (45%), Bahia (42%), Sergipe (40%), Alagoas (39%), Paraíba (38%), Piauí (37%) e Rio Grande do Norte (33%).

Enquanto a média nacional de leitura é de 47%, esse índice baixa para 43% no Nordeste e para 33% no Rio Grande do Norte. A média nordestina já foi mais alta, chegando aos 48% em 2019. Eram 25,3 milhões de leitores na região em 2019 e 23,3 milhões em 2024.

De uma maneira geral os índices do RN seguem uma tendência nacional de queda no número de leitores. São 7 milhões de leitores a menos em todo o país nos últimos cinco anos, sendo essa a 1ª vez que o número de pessoas que não leram nem parte de uma obra (53%) superou a de leitores (47%).

Ao todo, foram realizadas 5.504 entrevistas para a pesquisa, em 208 municípios do Brasil, entre os dias 30 de abril e 31 de julho de 2024. O “Retratos da Leitura” é considerada a pesquisa mais abrangente sobre os hábitos de leitura do brasileiro.

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