MONA Martins: Conheça o patrimônio natural do RN que protege cavernas na caatinga

Das 11 unidades de conservação (UCs) estaduais do Rio Grande do Norte, o Monumento Natural Cavernas de Martins (MONA Martins) é o que foi criado mais recentemente, em 2022. O monumento é a maior UC potiguar localizada no bioma Caatinga.

“O MONA Martins compreende-se como um grande atrativo natural para impulsionar ações de conservação da Caatinga, do patrimônio espeleológico, geodiversidade e de promoção do turismo sustentável”, diz Fabiana Medeiros, gestora da unidade. 

Entre os destaques do monumento, seus atrativos naturais chamam a atenção. A Casa de Pedra, por exemplo, é considerada a segunda maior caverna de mármore do Brasil. O local tem visitação permanente ao longo do ano, chegando a receber mais de 300 visitantes por dia em feriados e finais de semana, explica a gestora. Há também a Pedra do Sapo e a Pedra Rajada.

Saiba Mais: Rio Grande do Norte tem 11 unidades de conservação da natureza

Além disso, a UC se insere numa das principais regiões com potencial para o turismo no interior do RN, o Polo Rota do Frio, que abrange cinco municípios da região serrana do Alto Oeste: Martins (onde o MONA está), Portalegre, Riacho da Cruz, Serrinha dos Pintos e Viçosa 

“O que motivou a criação do MONA Martins é que a região está inserida em um seleto grupo de áreas prioritárias da Caatinga para conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira, devido à preservação da vegetação de Caatinga na encosta de serra. O bioma é apontado como um dos mais críticos em termos de conservação da biodiversidade, e temos uma beleza cênica do patrimônio espeleológico no local”, conta Fabiana Medeiros.

O MONA Martins ainda não dispõe de um plano de manejo, mas a gestora da UC pontua que o Idema tem até cinco anos para elaborar esse documento, que já está contemplado em uma compensação ambiental. Entre outras observações, o plano deve conter as regras previstas no regulamento do monumento e o ordenamento das atividades ali desenvolvidas.

Potencial ecoturístico deve ser explorado com responsabilidade

A caverna Casa de Pedra é um dos atrativos turísticos da Mona Martins / Foto: cedida

Por características como as já mencionadas, o MONA Martins tem um forte potencial para o ecoturismo, sendo um dos principais representantes potiguares do espeleoturismo – turismo de cavernas. A gestora da unidade destaca como pontos turísticos a Caverna Casa de Pedra e as trilhas ecológicas, como a Trilha da Pedra do Sapo, a Trilha da Casa de Pedra e a Trilha da Cachoeira da Umarizeira, que são realizadas por orientadores turísticos locais. 

No entanto, frisa: “Por se tratar de unidade de conservação de proteção integral, ou seja, uma área protegida pela legislação brasileira, um patrimônio ambiental e social que tem como objetivo principal a preservação da natureza, é de extrema importância que as atividades realizadas no MONA Martins sejam ecologicamente corretas, sustentáveis e responsáveis, e isso inclui a atividade turística”. 

Fabiana cita uma atividade de capacitação recente desenvolvida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) junto ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) para orientadores turísticos locais. 

Na oficina, discutiu-se as regras emergenciais de visitação da Caverna Casa de Pedra, que incluem “todo um planejamento, que vai desde horários de visitação, quantidade de pessoas, tempo de visitação de cada grupo, roupas e equipamentos de segurança adequados para o visitante e estruturas de visitação”. 

Essas regras melhoram a preservação e conservação do patrimônio espeleológico da região, evitando a depredação da caverna, assegura a bióloga. Ela adiciona que o turismo gera renda e, se feito da forma ecologicamente correta, preserva os atributos naturais locais.

A atividade turística serve, inclusive, de fonte para pesquisas científicas desenvolvidas na UC. Entre elas, há algumas sobre o ordenamento do espeleoturismo na Casa de Pedra. 

Cientistas também pesquisam a zoologia, com o destaque para os estudos envolvendo a diversificação, e conservação de esquizômidos do gênero Rowlandius – e a botânica do local– para conhecimento da biodiversidade de briófitas.

Na parte de educação ambiental, a gestão da UC elaborou um plano de ação que será discutido com o conselho gestor após sua posse – prevista para este mês –, a fim de implementar o documento no segundo semestre.

Patrimônio natural biodiverso

Mona Martins é a unidade de conservação mais recente do Rio Grande do Norte / Foto: cedida

A gestora da unidade, citando o seu estudo técnico de criação, enfatiza que o MONA Martins “abriga um singular patrimônio espeleológico e arqueológico”. Segundo o estudo, há 92 cavidades mapeadas, sendo 78 cavernas e 14 abrigos, com “registros fósseis, pinturas rupestres e elevada diversidade biológica associada a cavernas”. 

Os dados de biodiversidade apontam a existência de 112 espécies de plantas e 189 de animais na área do monumento: 84 espécies de aves; 13 espécies de anfíbios; 22 espécies de répteis; 14 espécies de morcegos; 16 mamíferos terrestres; e 40 espécies de invertebrados.

Alguns dos representantes da fauna ameaçadas de extinção são o gato-do-mato-pintado (Leopardus tigrinus), gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), o morcego Furipterus detalle, o pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae) e o jacu-do-nordeste (Penelope jacucaca). 

Como endêmicas da Caatinga, destacam-se a coruja tiê-caburé (Compsothraupis loricata), o gaviao asa-de-telha-pálido (Angeloid fringillarius) e o mocó (Kerodon rupestris).

Unidade deve ganhar Ecoposto 

Biodiversidade é uma das características mais atrativas da unidade / Foto: cedida

Uma das recentes movimentações na unidade de conservação foi a imissão de posse de terrenos para construção do ecoposto, que é uma unidade descentralizada do Idema/RN, a ser instalada na área da UC. 

No dia 13 de março deste ano, a equipe do Idema e o procurador do Estado Francisco de Matos Sales apresentaram, ao prefeito de Martins, Paulo César (PSB), a imissão de posse dos terrenos onde será construído o equipamento, um documento jurídico que reconhece a posse do território.

O ecoposto é um espaço fundamental para garantir a efetividade das ações de conservação e o envolvimento de todos os atores relevantes na proteção do patrimônio natural. Além disso, o ecoposto contribui para fortalecer a presença do Estado na região, contribuindo para o exercício do poder de polícia da Administração Pública com a devida fiscalização necessária para efetivar o cumprimento das leis e normas de proteção ambiental”, disse.

De acordo com ela, ainda não é possível prever quando o equipamento ficará pronto, pois ele será construído com recursos de compensação ambiental, e os trâmites burocráticos ainda estão em discussão entre o Idema, a Procuradoria Geral do Estado e a empresa responsável pela compensação ambiental.

“Considerando a beleza cênica e potencial paisagístico da Caverna Casa de Pedra, a referida área que foi desapropriada para a construção do ecoposto localiza-se estrategicamente na borda do platô da serra, com vista para a referida caverna. Com isso, esse equipamento terá um grande potencial de atração de visitantes”, conclui.

Conselho gestor 

O conselho gestor do MONA Martins é um conselho consultivo e foi instituído em 2024, via portaria, com 19 representações: nove cadeiras de representantes de instituições públicas (federal, estadual e municipal) e dez cadeiras para a sociedade civil.

Tal grupo deve ser formado por representantes da sociedade civil e do poder público, e presidido por um representante do Idema. O ecoposto contará com guarita, casa sede e Casa Staff, compondo um ambiente completo para atividades de gestão, pesquisa e apoio aos colaboradores.

“Atualmente, o conselho está em fase final de formação, para o mandato 2025-2027. A importância do conselho gestor está na promoção da participação da sociedade nas atividades da unidade de conservação, onde, por meio de diálogos e ações, todos têm suas contribuições na gestão da área protegida”, disse Fabiana Medeiros.

RN tem 11 unidades de conservação estaduais, com expectativas para a 12ª

Unidades de conservação do RN contribuem para o turismo sustentável / Foto: cedida

O Rio Grande do Norte possui 253 mil hectares – que correspondem a 2,41% de seu território – ocupados por 11 unidades de conservação estaduais. Juntas, elas protegem 2,14% da área continental e 14,53% da área marinha do estado, segundo informações do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema/RN).

Com essa cobertura, grande parte das riquezas naturais do RN está preservada e contribui para estudos acadêmicos, turismo sustentável e outras atividades, especialmente as áreas de mata atlântica e alguns trechos da caatinga. A classificação de uma UC segue o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Em reportagem da Agência Saiba Mais, a gestora da Unidade de Gestão de Biodiversidade do Idema/RN, Iracy Wanderley, explicou que o primeiro passo para caracterizar uma UC é a realização de estudos multidisciplinares, de fauna, flora, estrutura geológica e bens naturais. Depois, os estudos são apresentados para a sociedade, em audiências públicas. 

Iracy ainda afirmou que o Governo do RN pretende ampliar as áreas naturais protegidas no estado. A 12ª UC pode estar próxima ao seu reconhecimento, pois o processo de estudos do Refúgio da Vida Silvestre Serra das Araras, numa área de caatinga, já é uma realidade. O Refúgio abrange territórios em São Tomé, Currais Novos e Cerro Corá.

Além disso, em 21 de janeiro, uma portaria estadual anunciava a criação da Unidade de Gestão da Biodiversidade (UGBio), focada na execução da política florestal e na ampliação das unidades de proteção ambiental. 

O foco da unidade gestora é ampliar a área de proteção ambiental junto à população, especialmente no bioma caatinga, criando mais UCs. Tais unidades, conforme explorado ao longo desta série de reportagens (confira links abaixo), possibilitam atividades como pesquisa acadêmico-científica, turismo sustentável e educação ambiental.

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Esta é a décima reportagem da série de reportagens da Agência Saiba Mais sobre as 11 unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Norte.

Confira a série:
Parque das Dunas: refúgio da Mata Atlântica na capital potiguar
Pico do Cabugy: segunda unidade de conservação do RN é mesmo um vulcão extinto?
Piquiri-Una: área de proteção ambiental preserva águas potiguares
APA Jenipabu: entre o turismo e a conservação da natureza
APA Bonfim-Guaraíra: Riqueza de ecossistemas e turismo sustentável
APARC: conheça a unidade de conservação que preserva recifes de corais no RN
Ponta do Tubarão: Costa Branca se engaja na conservação de reserva ambiental

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