Presidente da FENAJ fala sobre os desafios do jornalismo em tempos de desinformação

Na segunda-feira, 7, é celebrado o Dia Nacional do Jornalista, uma data que visa destacar o trabalho dos profissionais responsáveis pela apuração, checagem e produção de notícias. Além disso, 7 de abril, data oficial criada em 1931 pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), visando assegurar o direito de reconhecer a profissão de jornalista, serve para relembrar os centenas de jornalistas que já foram censurados, violentados, agredidos e mortos, enquanto exerciam sua profissão. De acordo com a Constituição Federal de 1988, todo o cidadão brasileiro tem o direito fundamental ao acesso à informação. 

Para marcar esta data importante, o departamento de jornalismo da Folha do Litoral News conversou com a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, sobre os desafios do jornalismo em tempos de desinformação.

Samira de Castro falou sobre como a Federação vê o impacto da desinformação no jornalismo no Brasil nos últimos anos. De acordo com ela, este é um dos principais desafios contemporâneos para o jornalismo e para a Democracia.

Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, avalia o impacto negativo da não obrigatoriedade do diploma no exercício da profissão (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, avalia o impacto negativo da não obrigatoriedade do diploma no exercício da profissão (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

“A proliferação de fake news, muitas vezes impulsionada por interesses políticos ou econômicos, desestabiliza o papel do jornalismo profissional como fonte confiável de informação e gera confusão na opinião pública, minando o direito da sociedade à informação de qualidade”, destaca.

Sobre os desafios da profissão de jornalista, ela destaca que os profissionais enfrentam o desafio de apurar e verificar informações em um ambiente cada vez mais acelerado e hostil.

“Os jornalistas enfrentam o desafio de apurar e verificar informações em um ambiente cada vez mais acelerado e hostil. Além disso, há um cenário de ataques e ameaças, sobretudo nas redes sociais, a profissionais que denunciam conteúdos falsos. O ambiente de precarização do trabalho também dificulta a produção de reportagens mais aprofundadas e investigativas, essenciais para desmentir boatos com responsabilidade”, explicou Samira.

De acordo com a presidente, a desinformação corrói a confiança da população nos veículos tradicionais e na imprensa como um todo, ao colocar lado a lado conteúdos jornalísticos com informações fabricadas ou manipuladas. 

“Isso alimenta o negacionismo e enfraquece o debate público, criando um ambiente onde verdades e mentiras competem em pé de igualdade, prejudicando a formação de opinião com base em fatos. A FENAJ defende políticas públicas de fomento ao jornalismo profissional, como a criação de um Fundo Público para o Jornalismo, além da valorização das empresas de comunicação locais e independentes. Também é fundamental retomar a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão, combater a precarização do trabalho e garantir segurança física e jurídica aos jornalistas. A educação midiática nas escolas e a regulamentação das plataformas digitais também são medidas essenciais”, salientou Samira Castro.

Em 2009, a obrigatoriedade do diploma de jornalismo no Brasil deixou de ser exigida, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O órgão decidiu que a exigência do diploma era inconstitucional.

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A presidente da FENAJ, avalia o impacto negativo da não obrigatoriedade do diploma no exercício da profissão.

“A FENAJ sempre foi contrária à decisão do STF que retirou a exigência do diploma para o exercício da profissão. A medida representou um retrocesso, pois desvaloriza a formação técnica e ética do jornalista, enfraquece a identidade profissional da categoria e abre espaço para práticas irresponsáveis na produção de conteúdo informativo, contribuindo para o aumento da desinformação”, frisou a presidente.

Samira ressalta que o jornalista é um agente essencial no enfrentamento à desinformação, por meio da apuração rigorosa, do compromisso com a verdade e da transparência em seus métodos de trabalho. 

“Seguir os princípios éticos da profissão, como o interesse público, a pluralidade, a correção e o respeito aos direitos humanos, é a principal arma contra as fake news. O jornalismo responsável e ético é a melhor resposta à cultura da mentira”, finalizou Samira de Castro.

FENAJ – Relatório 2022

Segundo relatório da FENAJ, o ano de 2022 foi marcado no Brasil, pelas eleições gerais e pela violência política. O número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se nas alturas, apesar da queda registrada em comparação com o ano anterior. Foram 376 casos, 54 casos a menos que os 430 registrados em 2021, ano recorde, desde o início da série histórica dos levantamentos feitos pela FENAJ. 

A descredibilização da imprensa voltou a ser a violência mais frequente, em 2022. Foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados, que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021 foram 131 episódios, uma queda de 33,59%. Mas houve um crescimento de 133,33% nas ocorrências de Ameaças/hostilizações/intimidações, que foi a segunda categoria com maior número de ocorrências em 2022, com 77 casos (44 a mais que os 33 casos registrados em 2021).

Em seguida, aparece a censura, que foi a categoria de violência com maior número de casos, em 2021, e caiu para a terceira posição, em 2022. A queda foi de 54,96%. As agressões verbais tiveram queda de 20,69%, em comparação com o ano anterior. Mas as Agressões físicas aumentaram 88,46%, passando de 26 para 49, e os impedimentos ao exercício profissional cresceram 200%: foram sete casos em 2021 e 21, em 2022. Também tiveram crescimento significativo (125%) os ataques cibernéticos a veículos de comunicação, passando de quatro para nove episódios. 

Violência de gênero no jornalismo

De acordo com dados da FENAJ, apesar de a categoria dos jornalistas ser no Brasil, constituída majoritariamente por mulheres, os jornalistas do gênero masculino são maioria entre as vítimas de violência em decorrência do exercício profissional. Em 2022, do total de jornalistas vítimas de agressões, 222 foram do sexo masculino e, 80, do gênero feminino. Em porcentagem, 69,37% das vítimas foram homens e, 25%, mulheres. Em 18 casos (5,63%), não foi possível a identificação de gênero.

O relatório completo produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) pode ser acessado através do link: FENAJ – Relatório 2022.

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