Projeto mapeia dados para banco genético

Salvador é o novo cenário do Projeto Gen-T, que através de análises de amostras de sangue busca descobrir detalhes sobre a ancestralidade da população brasileira e a partir disso colaborar na produção de medicamentos mais eficazes e específicos. O DNA amplamente miscigenado da população da capital baiana, a mais negra fora do continente africano, é visto como importante para esse avanço da medicina de precisão. A iniciativa que já passou por São Paulo, Minas Gerais e Amazonas, agora busca voluntários em Salvador, que para colaborar podem doar sangue no SENAI CIMATEC, em Piatã, e no Hospital Santa Izabel, em Nazaré.Pode parecer coisa de filme futurista, mas por meio dessa análise do DNA dos soteropolitanos o projeto busca olhar para o passado ao encontro das origens muitas vezes desconhecidas da população e mirar no futuro com uma medicina mais direcionada para a necessidade de cada indivíduo. A CEO da Gen-T e professora titular de Genética Humana na Universidade de São Paulo (USP), Lygia Pereira, explica que a iniciativa que busca criar o maior banco genético da América Latina é importante porque a maior parte dessas ações são realizadas já na Europa e nos Estados Unidos, que possuem outras ancestralidades.“Estamos criando uma infraestrutura de pesquisa e inovação baseada na diversidade genética da nossa população, como outros paises estão desenvolvendo. Isso é utilizado para avançar a medicina de precisão e como um motor pra inovação radical na indústria farmacêutica. Essas informações são muito valiosas pra gente conseguir desenvolver também novos medicamentos”, afirma.Ela exemplifica que ao investigar uma população do sul há um maior contingente genético europeu, que não contribui muito para desenvolver medicina de precisão para pessoas com outras ancestralidades, por exemplo, vindas da África. A miscigenação presente em Salvador é importante para dar conta de uma série de ancestralidades. Os dados reunidos em Salvador afetam não apenas a população da capital baiana, mas também o desenvolvimento da medicina de precisão para outras populações, que também possuam grandes componentes africanos em seu DNA.AmostragemNeste primeiro momento o projeto deve ficar seis meses na capital baiana e tem a expectativa de receber 5 mil amostras de sangue doadas, porém mediante uma maior participação da população dos soteropolitanos é possível que essa presença perdure por mais tempo. Além disso, o projeto deve retornar todo ano por cinco anos à cidade. Para quem decidir participar do estudo um dos benefícios é o acesso ao mapa de ancestralidade. Desde o continente de origem de seus antepassados, até uma definição mais aproximada do país de origem dos ancestrais.“O voluntário vai receber check-ups gratuitos todo ano por cinco anos, além de uma porção de informações sobre a sua saúde. No terceiro ano do projeto, a partir do DNA da pessoa, vamos poder falar para ela sua ancestralidade genética, de onde veio seu DNA, o quanto veio da África, ou de povos indígenas, ou de europeus. Para a população de Salvador, com muita ancestralidade africana, isso vai gerar um banco de dados sobre a genética dos descendentes de africanos no Brasil que não existe hoje”, diz Lygia.Quem participar do projeto também recebe alguns benefícios, como: poder realizar diversos exames laboratoriais sem qualquer custo, como hemograma completo, avaliação do colesterol e exames para diabetes, além de aferição da pressão arterial, mapeamento da frequência cardíaca e análise do Índice de Massa Corporal (IMC) e da circunferência abdominal.O analista de dados João Cunha participou do projeto como voluntário. “Participei porque uma colega de trabalho comentou comigo e como sou da área da pesquisa, simpatizei e fui. Acho massa eles divulgarem o mapa ancestral de cada pessoa e é importante aumentar o banco genético do país pra gente não ficar pra trás”. Já a podóloga Jamilda Rodrigues escolheu participar por outro motivo. “Decidi fazer pra ajudar a pesquisa porque achei interessante. Tenho curiosidade também em saber mais das minhas origens”, pontua.É preciso ser brasileiro para ser voluntário do estudo, ter 18 anos ou mais, saber ler e escrever, apresentar um documento com foto que tenha CPF (como RG ou CNH) e fazer o agendamento pelo site https://gen-t.science/agendamento/. A participação do voluntário é a doação de uma amostra de sangue, que será coletada para análise e obtenção do DNA. É necessário que o voluntário esteja em jejum. Os locais de coleta são o SENAI CIMATEC, em Piatã, e o Hospital Santa Izabel, em Nazaré – ambas instituições colaboradoras da pesquisa.
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