Alagoinhas – Das águas profundas veio o novo ciclo de desenvolvimento

A qualidade das águas do subsolo de Alagoinhas é um dos fatores relevantes no projeto de transformar o município em um polo industrial de bebidas. A cidade vem atraindo ao longo dos últimos anos diversos empreendimentos do setor, como cervejas e refrigerantes, desde as grandes plantas industriais a cervejarias artesanais.O recurso natural usado nas indústrias é oriundo do Aquífero São Sebastião, que se estende de Dias d’Ávila até o município de Tucano e é retirado através de poços artesianos que dependem de aprovação do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema).No entanto, a abundância de água no seu território não está restrita ao aquífero e aos lençóis freáticos no subsolo. Essa fartura já está expressa no nome ‘Alagoinhas’, nomenclatura que segundo os historiadores, está ligada às águas superficiais.Especialmente dos rios (Sauípe, Catu, Subaúma e Quiricó), as várias lagoas pequenas (lagoinhas) e aos córregos existentes na região, indicando que as águas estão na gênese da sua fundação.“Nossa água tem baixa turbidez e pH equilibrado (neutro)”, disse o diretor geral do Serviço de Autônomo de Água e Esgoto (Saae/Alagoinhas, Renavan Andrade Sobrinho, simplificando a resposta para a pergunta: o que a água de Alagoinhas tem de especial?Ele explicou que, dependendo da localização do poço artesiano, os padrões e componentes químicos da água podem mudar, impactados pelas condições de cada lugar, mas que a variação é pequena no mesmo aquífero.Em média, os números relativos a água bruta captada pelo Saae é: cor 0; pH 5 e turbidez 0,15, dentre outros componentes avaliados. Na prática significa que o manancial não exige muita interferência para que esteja ideal para as indústrias de bebidas, reduzindo custos de produção.Só para abastecer a cidade e a zona rural, que somam mais de 160 mil habitantes segundo estimativa do IBGE/2024, o Saae conta com 78 poços, cuja água necessita de uma pequena correção em seu pH, “pois as demais características já atendem ao padrão de potabilidade exigido pelo Ministério da Saúde”, pontuou.Conforme Sobrinho, além das ações internas nas próprias indústrias para reduzir o volume consumido e evitar o desperdício, o município também atua neste sentido. “Estamos na Semana da Água e a programação tem esta temática”, destacou, lembrando que as escolas receberam equipes de profissionais para palestras e debates.“Trabalhamos com a conscientização de todos, pois, embora nós aqui temos muita água, ela nunca deve ser desperdiçada”, disse, destacando que, justamente pela abundância existente, tem pessoas que sem perceber gastam mais do que seria necessário e a educação nas escolas e nas comunidades deve ser constante.De acordo com o gerente geral do Grupo Petrópolis (uma das indústrias instaladas na cidade), Renato Souza, “a escolha de Alagoinhas para a instalação da nossa primeira fábrica no Nordeste não foi por acaso. A cidade é reconhecida pela qualidade excepcional de sua água, elemento essencial para a produção de uma boa cerveja”.Sem especificar a quantidade produzida, ele pontuou que a unidade tem capacidade de produzir até 9 milhões de hectolitros por ano. “Contamos com linhas de envase modernas, capazes de encher até 62 mil garrafas e 128 mil latas de cerveja por hora, além de 20 mil garrafas de refrigerante no mesmo período” disse, pontuando que também envasam barris de 30L e 50L de chopp das marcas Petra e Itaipava”.A localização estratégica, segundo Souza, também contribuiu para essa escolha. “Diariamente, temos a capacidade de carregar 110 carretas com nossos produtos para atender os consumidores. Assim, conseguimos atendê-los com produtos de alta qualidade e contribuir para o desenvolvimento local”, enfatizou.A ÁGUA E A FESTA – De pequeno lugarejo fundado no século 18 por um religioso, que dedicou o povoado a Santo Antônio, até ser referência estadual e nacional na produção de cervejas e outras bebidas, o município passou por diversas fases de desenvolvimento.Importante salientar que além da água especial que tem guardada entre suas rochas subterrâneas, Alagoinhas teve grande impacto de desenvolvimento com a construção da Ferrovia entre Salvador e Juazeiro, denominada Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco (EFBSF). O primeiro trecho foi inaugurado em junho de 1863 ligando Salvador a Alagoinhas, sendo a primeira ferrovia da Bahia e uma das primeiras do Brasil.Mas foi a partir de década de 1990 que a vocação do município para a indústria de bebidas foi despertada com a instalação da primeira fábrica de cervejas. Hoje o município é privilegiado pelo entroncamento rodoviário das BRs 101 e 110 e a BA 504, que facilitam a logística para escoar a produção industrial, receber insumos e visitantes que movimentam o turismo de negócios.O principal evento no sentido de divulgar o potencial do município é o Festival Bahia Beer, que acontece anualmente e deu à cidade o título de Capital Estadual da Cerveja, homologado na Assembleia Legislativa, em 2023. A próxima edição será entre 07 e 09 de novembro.Atualmente três grandes indústrias geram diretamente mais de 3 mil empregos diretos e mais de 4.500 indiretos. Isso, sem contar as cerca de 30 cervejarias artesanais e toda a rede de fornecedores no entorno para dar suporte às indústrias como fábricas de embalagens plásticas, latas e caixas. Também o transporte de insumos e escoamento da produção envolve investimentos e geração de empregos.
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