Do balé ao Judô, natalense disputa Jogos Paralímpicos de 2024

Balé, Goalball, Karatê, Judô e Paris, esse poderia ser um pequeno resumo da trajetória esportiva que levou a potiguar Rosicleide Andrade a disputar seus primeiros Jogos Paralímpicos, em Paris 2024. No entanto, assim como outros paratletas, a judoca trilhou um longo caminho até chegar na maior competição esportiva do mundo. 

Nascida prematura de 6 meses e com apenas 900 gramas, Rosicleide teve retinopatia em decorrência da prematuridade, caso que pode levar ao descolamento da retina e cegueira. Ela, que é de Natal e tem 26 anos, disputa agora seu primeiro ciclo olímpico, com a primeira competição marcada para o próximo dia 05/09. 

Rosi é atleta do Judô, sendo a única representante potiguar na disputa. Mas antes de iniciar na modalidade, aos 7 anos de idade, iniciou nas aulas de balé. Em entrevista à Agência Saiba Mais, a potiguar confessou que adorava o mundo das bailarinas, mas que a rotina do dia a dia não a agradava tanto assim. 

“Com sete anos eu comecei a praticar balé clássico, onde eu não gostava muito do dia a dia. Eu sempre gostava da parte de apresentações, que envolvia maquiagens, figurinos e espetáculos, mas o dia a dia não.”, contou. 

Foi daí que Rosi migrou do mundo das sapatilhas e colantes para as quadras do goalball, esporte criado na Segunda Guerra Mundial para cegos. No entanto, foi nas artes marciais que a natalense se encontrou, indo para o karatê e logo em seguida ao Judô, modalidade que pratica há 10 anos.  

“Fiz karatê, que é um esporte que tem no meu coração até hoje. Amo e tenho todo o meu carinho. Foi a modalidade que me fez chegar até o judô. Participei de competições pelo karatê e fui campeã estadual, mas só pude fazer a parte de katar, porque não dá para lutar por causa da deficiência visual e o karate não é adaptado”, iniciou. 

“Aí depois, quando eu tive a oportunidade, cheguei no judô em 2014 e estou até hoje. Então faz dez anos de judô.”, completou. | foto: redes sociais

Dentre seus feitos na modalidade, a potiguar foi a melhor do mundo por dois anos seguidos. No quadro de medalhas, ela coleciona: ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023; ouro no Pan-Americano do Canadá 2022 e prata no Mundial de Baku 2022. 

Primeiro ciclo paralímpico 

A paratleta compete pela seleção brasileira desde 2022, participando da sua primeira olimpíada nos Jogos de Paris. Sobre sua rotina de treinos, a potiguar contou que seu primeiro ciclo olímpico foi bastante intenso por ser um período mais curto, já que os Jogos de Tóquio aconteceram em 2021 por conta da Pandemia do Covid-19. 

“E a preparação é essa: muito treino, muitas competições para conhecer as adversárias, muitas fases de treinamento em São Paulo. Então, se eu estou em Natal eu estou treinando, faço as viagens para São Paulo e, junto, tem as competições. Foi um ciclo muito intenso e muito forte.  Foi um ciclo mais curto também, porque a Paralimpíada foi em 2021, então foi um ciclo mais curto e bem intenso.”, detalhou. 

Rosi disputa na categoria até 58 kg | foto: redes sociais

Durante o ciclo, a potiguar subiu em pódios algumas vezes e também superou lesões que sofreu em decorrência dos treinamentos intensos. Os treinos de um atleta de alto rendimento são intensos, constantes e diários, chegando a acontecerem 6 dias por semana, pelo menos duas vezes por dia.

Para superar as adversárias, Andrade revelou estar preparada e confiante. 

“Eu estou muito feliz e muito orgulhosa. Foi um ciclo muito difícil, onde tiveram muitas lesões, mas também um ciclo com muitos pódios, muitas alegrias, muitas vitórias, muitas conquistas e muita aspiração. E eu estou muito feliz em  estar aqui. Venho fazendo um ciclo excelente e acho que vai dar tudo certo. Estou bem preparada.”, contou. 

Potiguar já chegou em Paris

O desembarque na capital francesa aconteceu no último dia (28), mas antes de chegar à Europa, Rosicleide já pensou em desistir algumas vezes durante sua carreira. A Agência Saiba Mais já mostrou que a falta de investimentos é um problema que a maioria dos atletas sofrem, principalmente no início da carreira, momento crucial para montar os atletas de base. No caso de Rosi, as lesões e a falta de incentivo financeiro foram um dos principais fatores que prejudicaram sua trajetória. 

“Eu já pensei em desistir do judô, entre 2018 e 2019. Muitas vezes eu ia pro treino e acabava voltando, não chegava nem a entrar na academia. Lesões, coisas que todos os atletas acabam passando te desanimam também durante a trajetória. E patrocínio, sempre faz falta esse incentivo. Esse patrocínio faz muita, muita falta. E às vezes são coisas muito simples, né? Como transporte e fisioterapia. Com relação ao estado, já vem melhorando, mas falta muito ainda.”, desabafou. 

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Rosi Andrade (@rosiandrade.judo)

Atualmente, Rosicleide treina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e faz parte da Associação de Deficientes Visuais do Rio Grande do Norte (ADVRN) e é Beneficiária do Programa Bolsa Atleta. 

Nos Jogos, sua primeira disputa será no dia 05/09, a partir das 5h00 da manhã, segundo o horário de Brasília. Confira a agenda dos atletas potiguares aqui. A transmissão dos Jogos Paraolímpicos acontecem nos canais Sportv 2, Globoplay e GE. O canal do Youtube da Paralympics também realiza a transmissão. Assista aqui. Nas redes sociais e na internet, você acompanha informações em tempo real através do Instagram do Comitê Paralímpico Brasileiro @brasilparalimpico e cpb.org.br. 

Judô nas paralimpíadas 

De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a modalidade é disputada por atletas com deficiência visual, cegos totais ou com baixa visão. Os esportistas são divididos em categorias por peso corporal e tem o tempo de luta de quatro minutos. Caso a disputa dê empate na pontuação, ela é decidida no Golden Score (ponto de ouro, em inglês), uma espécie de prorrogação, com o vencedor sendo aquele que pontua primeiro. 

As lutas acontecem sob as mesmas regras utilizadas pela Federação Internacional de Judô, com pequenas modificações em relação ao judô convencional. A principal é que o atleta inicia a luta já em contato com o quimono do oponente. Além disso, o duelo é interrompido quando os lutadores perdem esse contato, podendo haver punições se os judocas saírem da área de combate. 

A programação dos Jogos contempla atletas com deficiência visual, divididos em duas categorias: 

  • B1: cegueira completa
  • B2-B3: deficiência visual

O judô é a terceira modalidade que mais trouxe medalhas para o Brasil na história dos Jogos Paralímpicos, atrás somente de atletismo e natação. Ao todo, foram 25 pódios, sendo cinco ouros (quatro conquistados por Tenório e um por Alana Maldonado), nove pratas e 11 bronzes. 

RN em Paris 

No total, o Rio Grande do Norte será representado por 12 atletas nos Jogos Paralímpicos de Paris, que começaram no último dia 28 de agosto e vão até setembro. Além deles, dois atletas-guia, um técnico em halterofilismo, dois médicos e uma enfermeira também compõem a delegação.

A Agência SAIBA MAIS dedicou uma série especial de reportagens para destacar a trajetória de cada atleta norte-rio-grandense presente em Paris. Você pode conhecer suas histórias:

De Natal, Arthur Silva leva Judô às Paralimpíadas de Paris

Potiguar de Elói de Souza disputa sua primeira Paralimpiada
De Santo Antônio, potiguar vai a Paralimpíadas pela primeira vez
Transformada pelo esporte, potiguar vai aos Jogos Paralímpicos de Paris
Conheça Thalita Simplício, paratleta do RN que vai aos Jogos de Paris
Quem é Geovana Moura, atleta potiguar que vai aos jogos Paralímpicos
Conheça a nadadora do RN convocada para os Jogos Paralímpicos de Paris

The post Do balé ao Judô, natalense disputa Jogos Paralímpicos de 2024 appeared first on Saiba Mais.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.