Após morte de ciclista, vereadores debatem ciclomobilidade e segurança

A Comissão de Transportes, Legislação Participativa e Assuntos Metropolitanos da Câmara Municipal de Natal (CMN), presidida pelo vereador Léo Souza (Republicanos), promoveu uma audiência pública na segunda-feira (10) para debater a segurança e da infraestrutura cicloviária da capital potiguar. O tema voltou à pauta após a morte do médico oftalmologista Araken Britto, no último dia 24 de fevereiro, após ser atropelado por um caminhão, no bairro do Tirol, enquanto pedalava com um grupo de ciclistas.

Entre os pontos discutidos, foram levantadas questões sobre a deficiência das ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, a necessidade de fortalecer a segurança para quem pratica a ciclomobilidade e urgência de melhorias na sinalização e na infraestrutura em áreas críticas que são rota de ciclistas na cidade, como a Rota do Sol, Avenida Engenheiro Roberto Freire e outras vias trafegadas diariamente por trabalhadores que usam a bicicleta como meio de locomoção.

Samanda defende mais segurança para quem utiliza a bicicleta como meio de transporte. Foto: Elpídio Júnior / Assessoria CMN

A vereadora Samanda Alves, integrante da comissão e ciclista associada à ACIRN (Associação de Ciclistas do RN), destacou a urgência de políticas públicas voltadas para a segurança no trânsito e relatou as dificuldades que ciclistas enfrentam diariamente em Natal.

“Estou reorganizando minha vida para pedalar em locais mais seguros, mas isso não deveria ser necessário. Precisamos de uma cidade que garanta segurança a quem utiliza a bicicleta como meio de transporte”, declarou.

Ciclomobilidade de Natal é “caótica”, aponta professor da UFRN

O professor do Instituto de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Fábio Fonseca Figueiredo, pesquisador do tema “Bicicleta e Sociedade e Mobilidade Ativa”, com enfoque no uso das bicicletas no meio urbano, definiu como “caótica” a ciclomobilidade urbana em Natal.

“Natal possui atualmente 90 km de ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas. Apesar dessa quantidade de quilômetros que está a um nível intermediário em relação às demais capitais do Brasil, eu considero ciclo estruturas bastante deficientes”, ressaltou.

Professor Fábio Fonseca disse que ciclomobilidade de Natal “é caótica”. Foto: Elpídio Júnior / Assessoria CMN

Ele apontou três aspectos que contribuem para essa deficiência: a falta de conservação, a falta de iluminação e a recente expansão da construção de ciclo estruturas em lugares que não são rota para os ciclistas.

Esses três fatores, na visão dele, dificultam a ciclomobilidade, desestimulam o uso da bicicleta e aumentam o risco iminente de acidentes envolvendo ciclistas em Natal, como o que vitimou o médico oftalmologista Araken Britto.

“Tivemos um acidente terrível, acontecido há quase três semanas, com um ciclista que vinha pedalando por uma das principais ruas de natal, vindo da Avenida Salgado Filho, quase esquina com a Nevaldo Rocha, uma área de bastante tráfego de ciclistas e de carros. Essa falta de segurança viária também é um motivo que constrange a ciclomobilidade em Natal”, analisou.

Prefeitura não estimula ciclomobilidade

O professor afirmou que os esforços da Prefeitura de Natal, responsável pela gestão da ciclomobilidade da capital, “são bastante reduzidos, no sentido de estimular as pessoas a se deslocarem mais de bicicleta na cidade.

“Apesar disso, 4,5% da mobilidade total da cidade, na média, é realizada em bicicletas. Portanto, apesar desse nosso contexto caótico de ciclo mobilidade, as pessoas se deslocam de bicicletas por vários motivos”, registrou.

Visão equivocada

O professor destacou que, desde a gestão do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos), ações públicas na área da ciclomobilidade “são extremamente tímidas e pontuais”.

“Em uma entrevista, o ex-prefeito falou, a meu ver de forma equivocada, que a bicicleta é uma alternativa à mobilidade, quando na verdade ela deve um modal”, pontuou, acrescentando que um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) é o das “Cidades e Comunidades Sustentáveis”.

Uma das metas do ODS “Cidades e Comunidades Sustentáveis” é “proporcionar acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando especialmente o transporte público”.

Foto: Elpídio Júnior / Assessoria CMN

“A mobilidade tem que ser democrática, sustentável e includente. Projetos como o das trincheiras da gestão Álvaro Dias, defendido também pela administração de Paulinho Freire e Joanna Guerra, significa facilitar cada vez mais o acesso de carros na cidade e dificultar o acesso de outros modais, como, por exemplo, a caminhabilidade. Natal é uma cidade que tem um déficit gigantesco de calçadas, nós só temos calçadas em bairros pontuais, como em Ponta Negra, Capim Macio e em algumas áreas de Lagoa Nova, mas se você vai para bairros mais periféricos, há déficit bastante acentuado de calçadas”, observou.

O projeto de cidade defendido pelas últimas gestões municipais, segundo o professor, facilita a mobilidade em veículos motorizados, sobretudo o carro individual, sem contemplar outros modais, como o transporte coletivo e a bicicleta.

Políticas públicas devem pensar a cidade de forma integral

Fábio Fonseca defendeu que a gestão pública “precisa ser participativa”, por isso disse considerar que a audiência pública para pensar a ciclomobilidade “foi positiva ao promover o debate e o embate” sobre esse tema.

Ele, no entanto, lamentou a falta de políticas públicas que pensem a cidade de “forma integral”, incluindo a ciclomobilidade e o meio ambiente.

“Eu sinto que essa nova gestão que se inicia, com o prefeito Paulinho Freire e a vice-prefeita Joanna Guerra, é uma gestão que pretende dar continuidade à gestão anterior, no sentido de incentivar esse modelo que favorece apenas os carros”, enfatizou.

Foto: Elpídio Júnior / Assessoria CMN

O professor propôs a adoção de modelos de mobilidade urbana mais sustentáveis, inspirados em iniciativas como a “Cidade de Quinze Minutos” de Paris e iniciativas como as que estão ocorrendo em João Pessoa (PB) e Fortaleza (CE).

Ele criticou a priorização do carro na gestão pública, sugerindo que, em vez de dimuir os canteiros com a retirada de algarobas que, devido ao clima úmido, aprodrecem por dentro, para criação de ciclo estruturas nesses locais, possibilidade que foi citada pelo secretário adjunto de Mobilidade Urbana de Natal, Newton Filho, seria melhor reduzir a quantidade de veículos individuais nas ruas.

Ele também destacou a necessidade de uma abordagem mais inclusiva que considere a mobilidade de todos, incluindo ciclistas e pessoas com deficiência. O foco, na visão do professor, deve ser na otimização do uso do carro, promovendo modos de transporte que incentivem caminhadas e o uso de bicicletas, visando uma cidade mais resiliente e sustentável.

The post Após morte de ciclista, vereadores debatem ciclomobilidade e segurança appeared first on Saiba Mais.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.