Morro do Careca pode diminuir de tamanho por erosão de outras praias

Apesar de uma das motivações para a obra de engorda da praia de Ponta Negra ter sido proteger o Morro do Careca, cartão postal de Natal, a duna pode diminuir de tamanho nos próximos anos devido a erosão de outras praias vizinhas que servem para alimentar o Morro.

A constatação é do pesquisador Venerando Amaro, professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que explica que o Morro do Careca é alimentado pela areia que vem das praias que estão dentro do Centro de Lançamento Barreira do Inferno (CLBI). O problema é que essas praias também têm sofrido intenso processo erosivo e uma quantidade cada vez menor de areia tem sido transportada pelos ventos para o Morro do Careca.

A erosão marinha tem levado à intensificação das ondas, com a mudança do clima e aumento do nível do mar. Com isso, o mar leva mais areia da praia, reduzindo a alimentação de campos de duna”, alerta Venerando.

Apesar das praias localizadas dentro do CLBI serem protegidas e de não haver ocupação no local, os pesquisadores também têm observado o fenômeno de erosão marinha nesses ambientes, um problema que já se alastrou para outras praias, que enfrentam processo semelhante.

A preocupação é o que pode ocorrer com o Morro do Careca. Extratos rochosos que já estão aparentes no Morro são indicativos de que há pouca areia chegando. Temos esse problema com a redução de trechos da orla por erosão marinha ou quando construímos nesses locais, como em Genipabu, que é um ponto nevrálgico porque a praia foi muito ocupada na região de Santa Rita. Isso interrompe a alimentação, há uma interrupção artificial. A redução é tão significativa que vem desaparecendo aquele talude arenoso que chega à praia”, sinaliza Venerando Amaro.

O pesquisador alerta que a tendência nas próximas décadas é que isso se intensifique.

Com isso perderemos esses monumentos, esses patrimônios. Estamos tentando dar mais visibilidade a esses problemas. As praias também têm importância pela desova de tartarugas. Elas têm menos espaço, podem mudar de lugar ou avançar para áreas mais íngremes, o que é um esforço imenso, já que algumas têm até 100 quilos e ficam à mercê da inundação do mar, quando seus ovos não podem ter contato com a água. Isso está ocorrendo em todas as praias do Rio Grande do Norte, principalmente com a Tartaruga-de-pente”.

Por causa da erosão marinha, a praia de Ponta Negra passou por um processo de engorda (aterro hidráulico), ou seja, de alargamento de sua faixa de areia. A promessa é que a praia teria uma faixa de 50 metros de largura na maré alta e de 100 metros na maré baixa, o que protegeria o Morro do Careca, que já estava com formação de taludes de até dois metros de altura devido ao avanço do mar.

Porém, a engorda foi realizada sem acompanhamento de órgãos de fiscalização. Por meio de força judicial, a Prefeitura do Natal conseguiu o Licenciamento de Instalação e Operação (LIO), necessário para início dos trabalhos. No entanto, o licenciamento era válido para uma área diferente da que foi explorada na extração da areia da jazida. Para não ter que pedir nova licença, o então prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), emitiu um decreto de estado de emergência por erosão pelo avanço da maré em setembro de 2024. Com isso, a obra foi realizada sem licenciamento ambiental. Em outubro do mesmo ano, a Prefeitura do Natal conseguiu na justiça um mandado de segurança proibindo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) de fiscalizar a obra.

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