Jovens perdem dentes e parte do pulmão por uso de vape

“Me assusta saber que muitos jovens estão usando vapes porque acham moderno e não sabem das consequências”, diz a cirurgiã dentista Marlei Bonella | Foto: Fábio Nunes/AT

O consumo de cigarros eletrônicos — popularmente conhecidos como vapes — tem crescido no Brasil, apesar de ser proibida a comercialização e a publicidade do produto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009.Entre os principais atrativos estão aparência moderna, variedade de sabores e a falsa ideia de que são menos prejudiciais do que os cigarros tradicionais. Por conta disso, o produto tem se tornado mais popular entre os jovens. Entretanto, o consumo intenso tem causado prejuízos à saúde. No Es, há casos, principalmente de jovens, que perderam dentes, parte do pulmão e tiveram outras complicações. Marlei Bonella, que é especialista em periodontia, mestre em Implantodontia e diretora clínica do IOS Instituto Odontológico contou que já atendeu três casos de perda óssea por cigarros vapes.“Um era de um jovem de 25 anos que percebeu que sua gengiva estava vermelha e os dentes com muita placa bacteriana. Há quatro anos, ele não apresentava esses sintomas clínicos”, comparou. Outro caso que ela detalhou foi o de um homem que tinha parado de fumar por um tempo e, quando voltou, recorreu aos vapes e a perda óssea aumentou. Ele perdeu dois dentes, mas foi iniciado o tratamento com implantes quando ele parou de fumar.“Percebi que uma paciente, que usava vape, estava com a língua meio esbranquiçada. Isso pode resultar em perda do paladar e, com o tempo, pode evoluir para lesões pré-cancerosas.”Roberta Couto, médica pneumologista, disse que já atendeu pacientes que tinham vontade de parar de usar o vape, bem como de pessoas que tiveram complicações. “Um paciente fez um abscesso pulmonar, começou a apresentar escarro com sangue e não identificava outro fator a não ser o uso do vape. Outro teve pneumonia bacteriana”. A pneumologista e especialista em Medicina do Sono Jéssica Polese também tem recebido em seu consultório pacientes com dependência química do vape e que estão tentando parar de usar.Em relação à doença, ela citou alguns casos, como de pacientes que pioram de rinite e asma, principalmente os mais jovens. “A quantidade de nicotina que tem no cigarro eletrônico é muito maior do que no cigarro convencional e essa dependência vem mais rápida”.Tosse intermitenteDepois de usar vape por cerca de três meses, um profissional liberal, que tem 49 anos de idade, foi dignosticado com pneumonia bacteriana.Ele contou que não fumava cigarro convencional antes e foi por intermédio dos amigos que experimentou o vape pela primeira vez, gostou e passou a usar em festas. O primeiro sintoma do vício foi a tosse intermitente, mas, depois de ser submetido a exames, descobriu que estava com pneumonia, que foi tratada com orientação médica. Diferentemente de algumas pessoas, que relatam que é difícil parar, ele contou que não teve dificuldade em deixar de usar o vape e hoje está bem.Saiba maisO que é vape? É um dispositivo que tem uma bateria que aquece uma solução líquida que libera vapor. No vapor do vape há quase dois mil produtos químicos. Já foram identificados, por exemplo, produtos industriais e pesticida.Como foram apresentados Estudos mostram que, entre os que nunca fumaram, a curiosidade foi o principal motivo para experimentar. Entre os ex-fumantes, o motivo de uso foi substituição ao cigarro comum e/ou para parar de fumar cigarro convencional.Pesquisas também indicam que 66% das pessoas que usam conheceram o produto através de amigos e familiares; 16% publicidade (influencers); 18% conheceu o dispositivo por pesquisa própria, sendo isso mais frequente entre ex-fumantes.Por que vicia?No líquido do vape há nicotina, que causa a dependência. Quando a substância cai na corrente sanguínea, é absorvida e vai para o sistema nervoso central, ocorrendo a liberação de neurotransmissores que dão sensação de prazer.Quando o nível desses neurotransmissores começa a cair, a pessoa tem vontade de fumar novamente. DoençasEntre as doenças respiratórias causadas pelos cigarros eletrônicos estão quatro tipos de pneumonia, dois tipos de bronquite crônica e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), além da piora dos quadros de asma.O vape pode causar falta de ar e tosse que podem evoluir para uma doença pulmonar obstrutiva crônica e até câncer de pulmão. Além disso, o uso aumenta em 42% as chances de infarto e ainda pode causar cânceres de boca, faringe, laringe, esôfago, pulmão, estômago e bexiga.Outro exemplo é a pneumonia, incluindo a Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico), síndrome da angústia respiratória aguda, inflamação da glote (garganta), além de distúrbio do sono, déficit de atenção e comprometimento da memória.TratamentosA recomendação é procurar um profissional especializado para que ele indique os melhores tratamentos, considerando que existe a dependência química e a psicológica. No caso da dependência química, por exemplo, o paciente pode fazer o uso de medicamentos que diminuem a abstinência e a vontade de fumar. DesafiosA pesquisadora Margareth Dalcolmo já fez um alerta dizendo que os vapes são um dos grandes desafios na saúde pública, principalmente no Brasil.Ela já chegou a declarar que o uso contínuo desses cigarros eletrônicos pode matar.Nos Estados Unidos, já houve mortes relacionadas à insuficiência respiratória aguda causadas pelo excesso de exposição a esses dispositivos e há, inclusive, uma nova doença que se chama Evali (lesão pulmonar) já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já com o código internacional de doença.As várias mortes ocorridas nos Estados Unidos já estão publicadas na literatura médica. E todas elas foram em jovens menores de 25 anos.

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