(Des)Qualificada

Eram 13h30 quando ela entrou naquela sala reservada para a videoconferência. As borboletas subiam e desciam, alvoroçadas em seu estômago. Luzes acesas, ar ligado, computador aberto e espera.

A internet não conectava, será que iria cair na hora?! Não! Não poderia haver boicote naquela hora. Troca de rede. Tudo certo! Acesso ao Whatsapp, link disponível, um clique e o acesso ao Google Meet disponível. 

Na sala, seu orientador, um professor que conhecia sua trajetória desde a graduação, quando a encantara com El Laberinto del Fauno de Guillermo del Toro e todos os Ls e Rs da barroca língua espanhola, e uma professora, que apesar de nunca a ter ensinado, ensinou-a muito nas muitas conversas travadas em vãs e ônibus das estradas comuns que as ligaram.

Ela, que entrara naquela sala “desqualificada” passaria em instantes pela avaliação daqueles doutores. Suas ideias, sua escrita, suas análises, a segurança que tinha sobre o tema que estudava… Tudo seria observado. 

Boas-vindas feitas. Formalidades previstas pela academia para essas ocasiões. Apresentação dos membros da banca. E o start: você tem 20 minutos para fazer suas explanações.

Durante esse tempo, ela não pensava. Ela só falava. Desbulhava o que sua mente havia absorvido nos últimos 4 anos da forma mais concisa que acreditou poder fazer. Falou, se autocriticou, fez sua exposição com algumas “mea culpas”. Ela sabia de suas falhas e estava pronta para receber todas as críticas e sugestões de quem sabia muito mais que ela.

Calada, ouviu atenta tudo. Escreveu notas, acatou os conselhos e as indicações. Respondeu aos questionamentos e tomou ciência de que havia muito trabalho a fazer ainda. Conscientizou-se que precisaria se dedicar um pouco mais. Estava nos trilhos certos, mas ainda tinha um chão pra percorrer.

Depois do julgamento, o veredito. Folhas reunidas, tela desligada, computador fechado, ar desligado, luzes apagadas. Quando fechou a porta à chave, todas as borboletas esvoaçantes de seu estômago sacudiram-se e saíram, em bandos, boca à fora cobrindo o ar de felicidade, beleza e risos.

Entrou naquela sala desqualificada, saiu dela qualificada. Qualificada para continuar sua pesquisa, para continuar suas leituras, para continuar escrevendo, para completar o que faltava, para corrigir seus erros, para atender perspectivas que há tempos já não eram mais somente suas. 

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