Pós-verdade, redes sociais e sociedade

Dando continuidade ao nosso papo da semana passada, sobre a interrupção da Meta na checagem de seu conteúdo, essa semana quero retomar com vocês um pouco da importância de nos atentarmos para o que postamos e compartilhamos, assim como para o conteúdo que consumimos.

Atualmente, com essa onda de algoritmos, nós somos cercados por informação e publicações que “nos interessam”, basta a gente pensar alto, que no mesmo instante aparece na minha tela aquilo do qual acabei de expressar. Para além disso, também somos imersos por uma bolha de informações que condizem com aquilo que penso politicamente, economicamente e socialmente. Criando assim muitos nichos, que servem apenas aos detentores das Big Techs, que vendem nossos perfis das redes sociais como moeda preciosa, pois são informações muito valiosas. 

Nesse sentido, precisamos nos atentar fortemente para qual tipo de informação consumo, quais os sites, blogs, perfis de redes sociais eu sigo e leio. Pois vivemos numa sociedade em que todos podem dizer o que bem pensam e querem, sem se preocupar com as consequências disso. No texto da semana passada, falei um pouco da questão legal das fake news e discursos de ódio, principalmente contra políticos e minorias. 

Mas fora a questão legal, precisamos dialogar aqui sobre a questão ética e moral das fake news e seu impacto nocivo na sociedade. É exatamente aí que mora o perigo…

Pela constituição até podemos falar besteiras nas redes sociais, desde que não impute uma ação criminosa, haja vista que temos o direito à liberdade de expressão, como disse no artigo da semana passada.

Porém hoje por diversos motivos, dentre eles interesses políticos (de destruir o outro lado), econômicos (por ganhar dinheiro em cima de uma mentira), ou mesmo por desinformação e achismos, vemos barbaridades sendo ditas nas redes sociais e o pior, sendo compartilhadas como verdade, e mais, algumas como verdades absolutas. Assim, estamos entrando no perigo de reescrever a história com fatos já cientificamente comprovados e, empiricamente vivenciados. Estamos vivendo uma era que alguns tem chamado da nova pós-verdade. Ou seja, estamos além da verdade, vivemos uma época em que as pessoas querem inventar coisas que não existem, ou mudar o que já existe e é de conhecimento de todos. Uma coisa é nos aprofundarmos e melhorarmos enquanto sociedade global, outra coisa é inventarmos coisas que não existem, criando narrativas fantasiosas, para confundir as pessoas, gerando caos e conflitos e, com isso, favorecendo aos dominadores. 

A expressão pós-verdade já era utilizada há muito tempo, todavia desde 2016, após as fake news na eleição do Trump nos EUA e as discussões do Brexit na Europa, se tornou muito popular, sendo inclusive escolhida a palavra do ano de 2016 pelo Dicionário Oxford. Até porque hoje uma informação falsa é disseminada rapidamente pelo mundo todo, através da internet e suas redes sociais. Por isso a popularização do termo e a necessidade de nos atentarmos para os efeitos que tem gerado na sociedade, o principal de todos eles, é o aprofundamento dos extremismos, que faz valer das informações falsas para chocar as pessoas e a partir disso, doutriná-las, dominá-las.

 Por exemplo, hoje as pessoas deixam de vacinar seus filhos, coisa que fora amplamente difundido e aceito pela sociedade. O afirmação de que a Terra é plana, que muitos até hoje, mesmo estudando desde pequeno na escola, visualizando o globo terrestre, acreditam ser verdade. O que tem gerado um movimento sem precedentes de negação da ciência e do que produzimos nas Universidades. O discurso ridículo aterrorizante anti comunismo, sendo que além de não saberem o que é ser comunista, julgam pessoas de serem comunistas sem nunca elas terem sido. E a turma que tenta nos empurrar goela abaixo que o golpe de 1964 não foi ditadura e sim um movimento, tentando distorcer os fatos com uma nova narrativa.

Temos também a questão alarmante do aquecimento global e a emergência climática que estamos vivendo, muitos defendem que isso é alarme falso, motivados pelos discursos dos bilionários e políticos das grandes potências mundiais, que negam e mentem para a população. Pois são governantes que não querem assinar os protocolos ambientais e se comprometerem com mudanças radicais nos meios de produção e consumo. Assim como os grandes bilionários que tem suas riquezas baseadas na exploração do meio ambiente e da classe trabalhadora.

E os discursos e debates políticos, cheios de coisas fantasiosas, informações falsas e acusações mentirosas. Eu mesmo sou a favor de que todo debate de televisão agora esteja acompanhado de uma equipe independente de checagem de informações. Na hora em que um determinado político mentir, na mesma hora que a equipe detectar, o mediador o interrompe e explica a verdade sobre aquilo que está sendo dito. Acho que só assim a gente avançaria alguma coisa nesse formato falido de debate eleitoral.

Assim, o que estamos chamando de pós-verdade está criando um negacionismo gigantesco, que incentiva às pessoas a acreditarem em qualquer coisa que lhe seja mais atrativo, com o intuito de poluir a capacidade de juízo crítico das pessoas. Isso traz uma sensação de desconfiança generalizada, tornando a verdade uma questão de convicção, de crença, deixando as provas do fato de lado. No fundo, essa prática da desinformação tem dois objetivos claros: o primeiro é a intenção pelo voto das pessoas, conquistado pelas mentiras convenientes à cada público. O segundo é o ganho financeiro que isso pode trazer, como por exemplo o número gigantesco de cloroquina e ivermectina vendidos pelos laboratórios farmacêuticos na época da pandemia da Covid-19. Ou mesmo informações falsas que impulsionam pra cima ou pra baixo o valor de empresas nas bolsas de valores.

Claro que não devemos negar tudo ou aceitar tudo, mas sim termos cuidado com as informações que consumimos. O que precisamos é aprender a navegarmos nesse mundo que é a internet, bem como saber utilizar as redes sociais com discernimento e pensamento crítico. Não devemos acreditar em tudo que vemos ou lemos. Pois as mentiras podem vir associadas de alguma porcentagem de verdade, para que seja mais fácil acreditar, uma vez que nosso cérebro prefere as notícias que lhe convém. E outra coisa, quem contradiz o mentiroso é geralmente desqualificado. Chegamos à um tempo em que as pessoas já não acreditam mais em nada, mas que ao mesmo tempo podem acreditar em qualquer absurdo. 

Vivemos em uma era digital bombardeados de centenas de informações a cada segundo. Fiquem atentos às fontes de suas informações. Imagens e mensagens montadas de whatsapp quase sempre são mentiras feitas para te conquistar.

Já que a Meta e suas redes não fará mais a checagem das informações, faça você, antes de acreditar e compartilhar uma informação.

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