Blocos progressistas ganham as ruas de Natal no carnaval

Em clima de carnaval, diversos blocos prometem agitar Natal aliando folia à política. Alguns deles são ligados diretamente a partidos ou organizações políticas, enquanto outros, apesar da verve de esquerda, preferem destacar a alegria acima de tudo.

Na capital potiguar, existem ao menos seis desses blocos, que vão desfilar entre os dias 27 de fevereiro a 4 de março, na terça-feira de carnaval. Conheça um pouco mais de cada um, pela ordem em que vão tomar as ruas.

Vermelho é a cor mais quente

O Bloco Vermelho é a Cor Mais Quente surgiu em 2015 como um grito em defesa da democracia, explica Geraldo Gondim, um dos organizadores. 

Reunindo artistas, estudantes e simpatizantes progressistas, fizeram naquele ano o primeiro estandarte e foram para as ruas protestar com alegria. Em 2025, o bloco sai no dia 27, quinta-feira, a partir das 19h, abrindo oficialmente o carnaval. A concentração será na Casa Vermelha (R. Princesa Isabel, 749, por trás do antigo IFRN Cidade Alta).

“Esse ano teremos uma concentração com Orquestra de Frevo, saída do bloco fazendo um percurso pelas ruas da Cidade Alta e o bloco volta para a Casa Vermelha, onde vão se apresentar os artistas potiguares DJ Amanda Lisboa, a banda Skarimbó e a Orquestra Greiosa”, diz Gondim.

O organizador aposta na construção de forma coletiva, junto a diversos outros atores e atrizes culturais, na construção de um levante em prol da potencialização do carnaval em Natal. A rua, para ele, deve ser um “espaço de confluência de diversas vozes que outrora se encontravam dissonantes”.

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“E buscando proporcionar aos foliões uma experiência descontraída, livre de qualquer forma de preconceito e que anuncia a possibilidade de construção de um outro mundo possível”, acredita Geraldo.

“A mensagem que queremos transmitir é que a cultura resiste no Centro Histórico da cidade, e que apesar da falta de incentivo, continuaremos nossa luta com alegria!”, pontua.

Foi-se o Bloquinho?

O Foi-se o Bloquinho? realizou sua prévia em 14 de fevereiro e terá o desfile oficial no dia 28. O ponto de encontro será o restaurante e bar Tempero e Tem Gela em Ponta Negra, a partir das 17h, contando com toda a animação da banda Vinil Elétrico e Orquestra de Frevo pelas ruas do bairro. A saída está programada para às 20h.

Coordenado por Arthur Varela e Jan Varela, o bloco surgiu em 2024 com o objetivo de reunir a militância e os amigos do PCdoB e do povo progressista natalense. Segundo Jan, a perspectiva é de resgatar a folia de rua de Natal, com muita diversão e irreverência, sem deixar de transmitir a essência progressista do bloco.

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“Acreditamos que o grande diferencial é a nossa característica histórica de sempre buscar ampliar e unir as diversas frentes, segmentos e forças progressistas e democráticas de Natal. Assim como nossa já conhecida atuação em defesa de um Brasil democrático e soberano, nada mais justo do que fortalecer essa mensagem através de um bloco de rua, auxiliando no resgate da cultura popular e dos blocos de rua”, aponta Jan.

De acordo com ele, que também é o presidente municipal do PCdoB, o Foi-se o Bloquinho? tende a ser mais uma trincheira de lutas, focada na cultura e no resgate histórico que o carnaval de rua proporciona. 

“Ao estar no meio do povo, disputando a atenção e as falas com a mesmice dos que constroem ‘mais do mesmo’ no carnaval de Natal, o ‘Foi-se’ ajuda no debate sobretudo do que estamos passando atualmente. Na atual conjuntura pede para que a gente converse mais com as pessoas, defendendo nossos ideais democráticos e progressistas. E nada mais democrático do que estar no meio do povo, no meio da rua, fazendo folia e fazendo chegar a nossa mensagem”, destaca.

Gente é Pra Brilhar

O Gente é Pra Brilhar já aqueceu os foliões com uma prévia no dia 22 e se prepara para o desfile oficial na sexta-feira de Carnaval, 28 de fevereiro, com concentração às 19h no Ponto Sete, em frente à Cigarreira do Gil, em Ponta Negra.

Ele surgiu em 2023, inspirado pelo aniversário de uma das fundadoras do bloco, Bethise Cabral, e pelo desejo de incrementar o já tradicional pólo de Ponta Negra do Carnaval de Natal com um bloco democrático, sem nenhuma cobrança de taxa ao folião, não exigindo abadá ou camiseta, sem uso de cordão de isolamento ou qualquer outra forma de excluir a participação popular. 

“Tivemos a ideia de criá-lo na viagem que fizemos à posse do presidente Lula, a partir da vontade de celebrar e de criar um evento que unisse alegria, irreverência e posicionamento político. Começamos com uma banda de frevo de sete músicos e o bloco arrastou cerca de 400 foliões. O financiamento da orquestra se deu com recursos próprios, decorrentes da venda de camisetas. Em 2024, o bloco saiu com orquestra de 21 músicos e arrastou mais de 600 foliões”, comenta Tatiana Lima, uma das diretoras do bloco.

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No Gente é Pra Brilhar, o compromisso é com uma folia que também é política. Por isso, é fácil encontrar foliões que levam para a rua camisetas, fantasias e adereços com protesto e bom humor. 

“O Gente É Pra Brilhar não é só um bloco de carnaval, mas um movimento que defende uma cidade mais justa, inclusiva e democrática. Para o nosso desfile não é necessário ingresso, o folião pode trazer sua bebida, vir fantasiado ou não. Prometemos uma energia contagiante, um desfile potente e uma celebração que reafirma o Carnaval como espaço de resistência”, atesta Tatiana.

Segundo ela, o bloco segue defendendo uma Natal diferente, mais inclusiva e popular, independentemente de quem esteja no poder. 

“Com Lula novamente na Presidência, sabemos que há mais investimento em políticas públicas que beneficiem o povo, mas em âmbito municipal teremos desafios enormes. A gestão de Paulinho Freire precisa entender que cultura é prioridade, e não um luxo, e que o acesso a ela deve ser universalizado. Neste Carnaval, o bloco levanta a bandeira do fim da jornada 6×1, uma pauta essencial para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Seguimos ocupando as ruas com alegria e protesto, porque a cidade que queremos precisa ser construída coletivamente.”

Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens

O mais antigo e tradicional da lista, o bloco Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens nasceu no final de 2004 e ganhou as ruas da capital em 2005. Foi uma necessidade das pessoas que viviam em Ponta Negra ou que frequentavam o bairro de ter uma folia àquela época, quando Ponta Negra ainda não era um dos polos do carnaval de Natal.

A ideia surgiu com o cartunista, jornalista e servidor da Cosern, Edmar Viana, que inicialmente sugeriu o nome “Poeta, Careca e Lobisomem”, no singular, e preparou quase toda a ideia, conta o ex-vereador Hugo Manso, um dos diretores do bloco.

Ao convidar casais amigos para apresentar a sugestão, as mulheres sentiram a necessidade de um personagem tipicamente feminino. Daí veio a Bruxa. 

“O poeta pode ser homem, pode ser mulher. Mas o careca era mais homem, o lobisomem é tipicamente um homem. Então surgiu a ideia da bruxa. E aí ficamos com poetas, no plural, representando a poesia, o encanto, a noite, a música de Ponta Negra. Carecas, numa referência ao Morro do Careca e também aos homens que começavam a perder cabelos. Bruxas, a ideia das mulheres, da beleza, do encanto, da magia feminina, e lobisomem, uma referência a uma espécie de uma lenda que havia lá no Morro do Careca, que meus pais, minha mãe em particular, dizia: ‘meu filho, não vá para o Morro do Careca à noite, porque aparecem lobisomens’”, diz Hugo Manso.

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O que destaca o bloco, para Manso, é a alegria, a descontração e a irreverência a partir do próprio nome. 

“E quando surgimos em 2005, o Carnatal já havia na cidade há algum tempo. E nós fizemos uma espécie de uma crítica àquele modelo de carnaval com corda, um carnaval fechado, com eventos privados. O nosso carnaval é aberto para todo mundo, a gente faz uma camiseta, mas ela é uma camiseta para ajudar o bloco, não é ingresso para nenhum evento, tudo quanto existe no bloco é aberto para todos”, explica o ex-vereador.

Para 2025, o bloco sai no dia 1º de março com concentração na Praça do Gringos a partir das 16h.

Turma do Boneco

O bloco Turma do Boneco surgiu em meio às lutas pelo “Lula Livre”, conta o ativista dos Direitos Humanos Roberto Monte. Um boneco gigante com a imagem do presidente foi confeccionado e um grupo rodou o Rio Grande do Norte. Terminada essa fase de reivindicações pela soltura do (hoje novamente) presidente, nasceu então o bloco carnavalesco Turma do Boneco, que neste ano homenageia a Insurreição Comunista de 1935 em Natal.

“O nosso bloco, entrando no ritmo carnavalesco, tem muito a ver com o trabalho que fazemos há mais de 40 anos, que é trabalhar a questão da memória, dos direitos humanos, da cidadania”, resume Roberto Monte.

“A gente, na verdade, está pensando não só em Natal, mas em todo o Rio Grande do Norte. A conjuntura é muito complicada, mas a gente, com alegria e também trabalhando essa questão da consciência crítica, a melhor mensagem que o bloco pode passar é que você tem que ter memória, você tem que ter identidade, porque um povo sem identidade, um povo sem memória, não é um povo livre”, diz o ativista.

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Um dos diferenciais, conta, é ser um bloco assumidamente de esquerda, que quer mostrar que é possível aliar o carnaval à conscientização. Nesse ano, quatro revolucionários serão homenageados com bonecos de cerca de dois metros: Giocondo Dias, Amélia Reginaldo, José Praxedes e Leonila Félix.

Até o compositor do tradicional jingle “Lula lá” entrou na jogada. Hilton Acioli, o cantor e autor da letra, gravou para a Turma do Boneco o hino da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e desenvolveu uma outra versão, em ritmo de marcha carnavalesca.

O Bloco Turma do Boneco irá sair nas ruas da Cidade Alta em 3 de março, com concentração a partir das 14h ao lado da Casa do Estudante, na Praça João Tibúrcio, onde à época da Insurreição funcionava o chamado Quartel da Salgaldeira. O percurso segue por outros pontos até concluir no Palácio dos Esportes.

Chame Gente

O bloco Chame Gente desfilou pela primeira vez em 2023, estreando no Carnaval de Natal e apostando nos blocos de rua como grandes impulsionadores da folia da cidade. Ele será o último dos seis blocos citados na reportagem a tomar as ruas. A saída será no dia 4 de março, terça de carnaval, a partir das 14h, com concentração no Bar da Lona, na Vila de Ponta Negra.

Um dos atrativos do Chame Gente é que ele vai para a rua com um bloco de samba. 

“A banda que puxa a festa toca sucessos do gênero, que é muito forte na nossa cidade. A cena do samba em Natal é destaque em todo o Nordeste, então decidimos trazer para o Chame Gente essa característica marcante da nossa capital. O bloco sai com a banda completa: vocal, cordas e uma grande bateria”, explica Rafael Barbosa.

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Para ele, as agremiações carnavalescas são também ferramentas políticas. 

“O povo vai à rua para balançar o chão da praça e também para deixar a sua mensagem, através das fantasias e dos próprios blocos”, atesta o organizador. 

“Então o Chame Gente está muito bem posicionado à esquerda e, neste ano, vai à rua com o tema ‘Sem Anistia’, porque defendemos que Bolsonaro e todos os golpistas que atentaram contra o país e o governo eleito em 8 de janeiro devem responder por seus crimes. Impunidade não combina com democracia!”.

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