Riqueza de ecossistemas e turismo sustentável destacam a APA Bonfim-Guaraíra

Maior unidade de conservação estadual em terra no Rio Grande do Norte, com mais de 42 mil hectares, a Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra (APABG) foi criada em 1999. Berço de biodiversidade no estado, a unidade de conservação de uso sustentável se estende por seis municípios potiguares, incluindo a turística cidade de Tibau do Sul. 

Sexta unidade de conservação (UC) reconhecida no estado, a APABG preserva áreas de mata atlântica, praias, rios e lagoas, e ecossistemas como áreas dunares, manguezais, restingas e estuários. Engloba os municípios de São José de Mipibu, Nísia Floresta, Arês, Senador Georgino Avelino, Goianinha e Tibau do Sul. Em ao menos dois deles, há comunidades quilombolas: Sibaúma, em Tibau do Sul; e Camucim, em Arês.

APABG tem riqueza de recursos hídricos – Foto: arquivo/André de Sousa

A APABG é casa para diversas espécies de flora e fauna e, curiosamente, a unidade abrange outras três UCs – uma federal, uma municipal e outra estadual. O Parque Mata de Pipa (PMP) é estadual; a Floresta Nacional de Nísia Floresta é federal; e a Reserva Faunística de Tibau do Sul pertence ao município. Além desses, há ainda o Santuário Ecológico de Pipa (uma reserva privada) e uma área desapropriada para proteção dos poços do sistema de ampliação da adutora Monsenhor Expedito. Todos esses espaços de preservação estão na zona de amortecimento da APABG.

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O gestor da unidade de conservação, André de Sousa, frisa a importância dessa área tão diversa e “complexa”. Chama a atenção a proteção de recursos hídricos, em suas mais de 20 lagoas e praias, e de outros recursos associados ao bioma mata atlântica e seus ecossistemas. André pontua que a APABG só perde em extensão para a APA Recifes de Corais, que é marinha.

Foto aérea do início dos anos 2000 mostra parte da APABG – Foto: Idema

O biólogo explica que as unidades de proteção ambiental que estão dentro da APABG têm suas próprias atividades e órgãos gestores. Assim como no PMP, o órgão gestor da Bonfim-Guaraíra é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema/RN).

Uma área de muitos usos

O plano de manejo desta UC é recente, datando de 2020, e explica os usos possíveis na região. Destacam-se os usos ecoturísticos, e Pipa, em Tibau do Sul, é um dos mais importantes locais de turismo no estado, que atrai visitantes de todo o mundo. A Lagoa do Bonfim, em Nísia Floresta, é outro atrativo famoso.

O turismo é bem forte aqui. A gente tem várias atividades turísticas. Temos lagoas que são utilizadas para passeios e atividades de off-road, de passeios de carros, [por exemplo]”, diz André, que pondera: “Com muitas dessas atividades, a gente tem que ver os contrapontos”. 

Belezas naturais e diversos ecossistemas são protegidos na APABG – Foto: Idema

O turismo movimenta a economia do estado, gera emprego e renda, mas não pode prescindir da preservação da natureza e causar danos. Para André, é necessário considerar os possíveis impactos de algumas práticas: “A questão do turismo sustentável é importante para as pessoas terem essa consciência ecológica. Saberem que estão dentro de uma unidade de conservação e que precisam ter esse uso de forma sustentável, de forma que não agrida a natureza”. 

Pipa está entre as principais potências turísticas do estado – Foto: arquivo/André de Sousa

O plano de manejo e o zoneamento ecológico, atualizados em 2020, detalham diversos aspectos da UC. “O plano de manejo é um dos principais e mais importantes documentos em relação à unidade de conservação, porque ele vai definir estratégias de atuação e diversos programas que podem ser implementados na unidade de conservação, como divulgação da UC, programas de fiscalização dessas áreas e educação ambiental”, explica o gestor interino da APABG. 

No zoneamento, também são pautados o monitoramento ambiental e o licenciamento de atividades que possam impactar a região. A fiscalização do Idema/RN é realizada em parceria com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPAmb).

Pontuando possibilidades e restrições, esses documentos fornecem à gestão da unidade uma melhor visão estratégica. “A gente tem esse embasamento teórico, metodológico e científico em relação à unidade de conservação. O plano de manejo é um parâmetro. Quanto mais recente ele for, a gente vai ter uma maior eficácia nas atividades, maior eficiência do monitoramento, da fiscalização e da implementação desses programas”. 

Diversidade de vida

A biodiversidade é um ponto forte da APABG, que é lar, inclusive, de espécies ameaçadas de extinção, como o peixe-boi, que está em perigo de extinção, e a tartaruga-de-pente. André de Sousa, que também é gestor da APA Piquiri-Una, compara a biodiversidade de ambas as UCs. 

“Tem a exuberância da mata atlântica, com várias espécies bem semelhantes com o que a gente viu na Piquiri-Una, mas algumas espécies mais voltadas para a região costeira”, detalha. Os ecossistemas ajudam na diversificação de espécies encontradas na unidade, e o aspecto da flora é semelhante ao da APA Piquiri-Una. As dunas lembram a APA Jenipabu, tema da quarta reportagem desta série.

Diversidade de flora e fauna chama a atenção – Foto: arquivo/André de Sousa

Ainda nesse sentido, a área se destaca por ter importantes pontos de desovas de tartarugas, principalmente tartarugas-de-pente, conta André. O projeto Fundação Tamar atua nesse trecho da costa e auxilia nas ações de educação ambiental da APABG.

O gestor da UC cita outros representantes da fauna marinha: o boto-cinza é um dos destaques e ocorre nas áreas estuarinas, que são locais de transição entre rio e mar. “Há muitos animais no ecossistema estuarino-lagunar, na faixa de praia e nos recifes. São espécies de aves, de peixes, entre outras”. De acordo com André, as cinco espécies de tartarugas marinhas que visitam o litoral potiguar já marcaram presença na APABG.

Soltura de tartarugas marinhas na área da APABG – Foto: Canindé Soares

Desafios para a fiscalização

Em seus e 42.695 hectares, a Bonfim-Guaraíra enfrenta questões como atividades ilegais e desenvolvimento de outras atividades que exigem uma maior fiscalização, pontua o gestor. Ele cita o desmatamento e os conflitos para a expansão de cidades.

Além disso, de acordo com Sousa, a fiscalização está atenta a ocupações irregulares e barracas na região e em áreas de APP (áreas de preservação permanente). “É uma área em que você não pode construir, entre uma faixa da lâmina d’água até a parte da costa […] Uma faixa que é preconizada no código florestal, dependendo da largura dos rios”. São APPs as margens da mata ciliar, áreas de mangue, dunas, restingas e falésias.

Outros casos envolvem o comércio ilegal de aves silvestres em feiras livres, um crime ambiental.

André detalha outros problemas já identificados: “Desmatamento, cercamento de muitas dessas áreas de forma irregular, remoção de placas de sinalização, deposição de resíduos sólidos e esgotos nessas áreas, trânsito de veículos nas lagoas, cercas nas lagoas, embarcações nas áreas de banho e construções irregulares também. A gente vê circulação de jet skis e embarcações de forma desordenada, sem o devido licenciamento, também”.

Placa indica que as falésias são áreas com risco de queda – Foto: arquivo/André de Sousa

“Muitas dessas embarcações também podem, de certa forma, interferir na questão da fauna marinha dessas áreas”, alerta. “Até porque a área estuarina é uma área de berço para a fauna marinha”. Além disso, a carcinicultura, se feita de modo irregular, pode causar danos ambientais.

Grandes construções não devem ocorrer em áreas de falésia, porque elas são ambientalmente frágeis. “Às vezes, a gente está tendo algumas situações de alguns empreendimentos quererem se instalar nessas áreas, muitos processos. Situações de a gente estar dando resposta, informações técnicas e relatórios sobre essas áreas, o que pode e o que não pode estar sendo construído. São áreas realmente bastante procuradas, por serem áreas de grande beleza”, relata. 

Pesquisa científica

Um ponto representativo das UCs é a sua contribuição para a pesquisa científica, que deve ser aprovada pelo órgão gestor da unidade – neste caso, o Idema. André de Sousa afirma que algumas pesquisas estudam aspectos semelhantes em mais de uma UC. No caso da APABG, ele cita quatro pesquisas recentes (confira abaixo), mas diversas outras já foram realizadas nos últimos anos.

Área de proteção ambiental promove pesquisa científica – Foto: arquivo/André de Sousa
  • O uso sustentável dos recursos naturais na zona costeira: áreas de proteção ambiental como instrumento para a conservação socioambiental
  • Governança em unidades de conservação da natureza no Rio Grande do Norte
  • Padrões de ocorrência de iniciativas de manejo de espécies exóticas invasoras em unidades de conservação federais e estaduais do Brasil
  • Turismo, gestão de crise e articulação dos atores locais no contexto turístico de Pipa, Tibau do Sul e Rio Grande do Norte

Fonte: André de Sousa

Educação ambiental

A APA Bonfim Guaraíra é uma das contempladas com um ecoposto, composto por sede administrativa, casa do pesquisador e casa do BPAmb. No equipamento, são realizadas tanto atividades de gestão, palestras, fiscalização e reunião do conselho gestor como atividades de educação ambiental. 

Educação ambiental nas escolas chama a atenção para preservação da natureza – Foto: arquivo/André de Sousa

Nesse sentido, a APABG tem parcerias com escolas, especialmente de São José do Mipibu e de Nísia Floresta, que realizam a educação ambiental no ecoposto. As crianças e a comunidade se tornam multiplicadoras de boas práticas de conservação a partir dessas atividades.

O gestor da APABG ainda destaca o papel dos projetos sem fins lucrativos, como o Projeto Tamar e a ONG Oceânica, que colaboram com atividades educativas, além do próprio batalhão policial.

Na região da Lagoa do Bonfim, o Projeto Plantando o Futuro vai retornar em março deste ano. O projeto segue até dezembro e faz várias atividades na unidade descentralizada do Idema/RN (ecoposto), como trilhas interpretativas e sessões especiais de cinema: o Cine Bonfim.

Cine Bonfim: programa de educação ambiental – Foto: arquivo/André de Sousa

O Conselho Gestor da APABG, um instrumento para a participação popular e do poder público, foi instituído em 2012, em decreto que estabeleceu que o conselho deliberativo fosse composto por 24 membros: 12 representantes do poder público (federal, estadual e municipal) e 12 da sociedade civil organizada.

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Esta é a quinta reportagem da série de reportagens da Agência Saiba Mais sobre as 11 unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Norte.

Acompanhe a série
Parque das Dunas: refúgio da Mata Atlântica na capital potiguar
Pico do Cabugy: segunda unidade de conservação do RN é mesmo um vulcão extinto?
Piquiri-Una: área de proteção ambiental preserva águas potiguares 
APA Jenipabu: entre o turismo e a conservação da natureza

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