Como o modelo de desenvolvimento do presente inviabiliza o futuro

Sérgio Xavier ao lado do economista e professor da Unifor Ricardo Coimbra (da esquerda para a direita) I Foto: Mirella Lopes

Diante das enchentes no Sul, queimadas país afora, guerras, fome e concentração de renda, não é preciso refletir muito para reconhecer que o Brasil e o mundo vivem um modelo de desenvolvimento em colapso e de crises simultâneas.

“E o jornalismo é o espaço para reunir o conhecimento científico e ancestral. É preciso ter visão sistêmica, que as editorias conversem entre si, entender o contexto, criar novos modelos de governança, com trabalho em rede”, diagnosticou Sérgio Xavier, jornalista, coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) e ex-secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pernambuco, durante o primeiro dia do 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que pela 1ª vez é realizado no Nordeste, em Fortaleza, no Ceará, e que conta com cobertura da Agência Saiba Mais.

Assim como ocorre em Natal, são poucas as cidades brasileiras com condições de se adaptar a eventos extremos e mudanças climáticas. O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas traz uma série de fatores de risco para possíveis ocorrências, específicas para cada região do Brasil, para as quais os desastres são, praticamente, inevitáveis. A chave para mudar essa dinâmica estaria, justamente, no cuidado com o meio ambiente.

A gente precisa organizar a vida a partir do meio ambiente. A civilização humana nasceu em torno de bacias, de rios e depois, quando foi crescendo e achou que era mais importante, começou a cobrir e matar rios. Há canais que as pessoas nas grandes cidades nem sabem que era rio, acham que é um esgoto no concreto. Precisamos perceber que o ponto de partida é a questão ambiental…o planejamento, o jornalismo, o conhecimento, a economia precisa ser planejada a partir da busca de soluções, ou seja, mitigar, adaptar e incluir as pessoas, transformar a partir da criação de novos modelos econômicos para solucionarmos esses problemas e não para piorá-los”, seguiu Xavier.

Para desenvolver economias dentro da vocação de cada lugar, os integrantes do FBMC criaram nove eixos de desenvolvimento, a partir das características de cada bioma brasileiro. Um dos potenciais para o Nordeste apontados durante as apresentações foi a produção de energias renováveis. Porém, essa indústria vem repetindo um modelo que ainda precisa ser superado.

As economias precisam estar conectadas com bacias hidrográficas e biomas. Trazer investimentos que sejam bons para a Europa, São Paulo ou qualquer lugar, mas também para o interior do Nordeste, que por exemplo, não pode ter indústria que consuma água, a única indústria possível é a de energia renovável… que está sendo mal feita neste momento porque estão atropelando as comunidades… precisamos de energias renováveis, mas não no modelo do século XX, que é concentrador, que aumenta as desigualdades. Essa é a grande oportunidade do Nordeste fazer uma grande mudança no modelo econômico e, finalmente, incluir as pessoas”, pondera Sérgio Xavier.

É preciso envolver todos, empresas, governos, pessoas, comunidade, e definirmos quais os desafios que precisamos enfrentar formando cadeias econômicas, processos econômicos que resolva aquele problema, considerando que não temos resolver todos esses desafios sem juntarmos esses setores. É importante ter a visão do empreendedor, da academia, dos movimentos e organizações não governamentais, dos governos em todos os níveis, as comunidades, principalmente as mais sensíveis”, acrescenta o jornalista.

Sérgio Xavier (de pé) com o economista e professor da Unifor, Ricardo Coimbra I Foto: Mirella Lopes

Possíveis caminhos

O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas criou laboratórios de desenvolvimento de modelos de negócios para criar redes adaptáveis ao tipo de negócio que será desenvolvido. Para demonstrar caminhos possíveis, Sérgio Xavier trouxe modelos de três projetos que foram implantados com sua participação, são os Laboratórios de Novos Processos Econômicos. Um dos projetos está no Nordeste e trata da captura de carbono em área de Caatinga. Outro foi a recuperação de uma área que servia de lixão na ilha de Fernando de Noronha.

“Hoje temos uma visão de que a natureza pode estar submetida à economia e excluindo as pessoas. Precisamos de uma economia que envolva as pessoas, que todos estejam ali com uma base mínima de condição de vida, dentro de um modelo de sociedade equilibrado e dos limites da natureza”, reforça Xavier.

O 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental começou nesta quarta (19) e segue até o sábado (21). O evento está sendo realizado na Unifor, em Fortaleza.

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