Transformada pelo esporte, potiguar vai aos Jogos Paralímpicos de Paris

Representante do Brasil na canoagem, a potiguar Adriana Azevedo, ou Drica Azevedo, como é popularmente conhecida, foi umas das 12 paratletas que conseguiu uma vaga nas Paralimpíadas de Paris 2024. Na disputa pelo ouro, Drica conversou sobre seus treinos, sentimentos e a sua trajetória que teve início na natação. 

Diagnosticada com paralisia infantil aos 11 meses de vida, a potiguar iniciou na natação antes mesmo de completar 2 anos de nascimento. O esporte chegou em sua vida como meio de reabilitação e autonomia e hoje faz de Drica umas das 8 melhores atletas de canoagem do mundo. 

Adriana esteve na natação profissional dos 18 aos 37 anos, quando migrou oficialmente para a paracanoagem, modalidade em que compete atualmente. A troca de esporte veio, aos 32 anos, como um estímulo depois do diagnóstico da pós-poliomielite, que acomete algumas vítimas da pólio em idade mais avançada e causa degeneração muscular. 

“Na natação eu cheguei a ser campeã mundial, campeã brasileira e recordista. Quando migrei para a canoagem, eu já tinha o diagnóstico da síndrome pós-poliomielite, que acomete algumas vítimas da polio, normalmente na idade mais avançada. E eu busquei na canoagem um novo estímulo.”, lembra a atleta à Agência Saiba Mais

Na modalidade, Drica, que é atleta do Clube de Regatas de Curitiba iniciou na paracanoagem em 2016, depois indo para as Paralimpíadas de Tóquio, em 2020, e agora em Paris 2024. 

“O início da canoagem nos Jogos Olímpicos foi em 2016, 2017 eu comecei em cenário internacional na canoagem. Na canoagem eu participei dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que aconteceram em 2021, em 2021 por causa da pandemia.”, conta.

Dentre alguns dos seus feitos, Azevedo é bicampeã brasileira e tetracampeã da Copa Brasil na canoagem; segundo lugar no campeonato pan-americano no ano passado de canoagem e terceiro lugar em em 2022. “Eu tô traçando esse caminho na canoagem com muito orgulho.”, diz. 

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Falta de incentivos prejudica atletas 

Morando em Curitiba desde 2019, a potiguar é uma atleta incentivada pelo governo do Paraná e do Bolsa Atleta, um feito que não é fácil para muitos outros esportistas. Drica já passou por muitas dificuldades em relação a patrocínio, sem contar todos os preconceitos e dificuldades que sofreu por questões de mobilidade e preconceitos da sociedade no geral. 

“Infelizmente isso é uma batalha que nós pessoas com deficiência enfrentamos diariamente, a questão do capacitismo, a questão da falta de incentivo no nosso esporte em algumas cidades, em alguns estados brasileiros. Infelizmente, isso é uma coisa muito corriqueira, é algo muito corriqueiro e nós lutamos todos os dias para que isso mude.”, desabafa. 

Drica é grata pelas oportunidades que tem e que lutou para conseguir o que tem hoje. A luta de incentivo para atletas, por exemplo, é uma batalha que praticamente todos que vivem do esporte enfrentam atualmente. 

“Graças a Deus hoje a gente tem uma política na questão federal. Nós temos o programa Bolsa Pódio, que incentiva bastante, mas a gente ainda tem muitas dificuldades, especialmente, para os atletas que estão iniciando, os atletas de base. Infelizmente, a gente tem muitos estados ainda que não têm um incentivo direto para a prática do esporte, para a prática do paradisporto. Isso é uma coisa que realmente é muito complicado, especialmente ao meu ver, que eu sou atleta desde os 18 anos de idade.”, completa. 

Esporte que transforma vidas 

Drica fala com propriedade que teve a vida mudada pelo esporte. Começando como meio de reabilitação e hoje sendo seu trabalho, representando seu país, seu estado e sua família. 

“Eu sei o quanto o esporte é importante para a disciplina, para a inclusão, para o resgate, quantas vidas a gente viu mudadas com o esporte. Eu falo com propriedade que a minha vida foi mudada pelo esporte.”, desabafa. 

“Eu tenho muitos amigos que deixaram de ser atletas para poder trabalhar. Não é fácil você trabalhar e ser atleta. É muito complicado.” | foto: cedida

Quanto a rotina de treinos, a potiguar diz que treina até na hora de dormir. Ela explica que o esporte é também um trabalho, embora tenha gente que pense não. Nas preparações para Paris, por exemplo, a esportista pratica na água, realiza treinos de mobilidade e faz musculação. Em sua casa, inclusive, tem um espaço dedicado à musculação para até nos dias em que não conseguir ir à academia poder treinar em casa. 

“Ser atleta é um trabalho. O esporte é um trabalho. É trabalho árduo e que a gente necessita abdicar de muitas coisas. É um treino diário e pegado. A gente treina até mesmo quando está dormindo. Essa é a realidade, porque a gente passa por diversos perrengues, ansiedade, pânico de não dar certo, então assim, é um treino direto.”, conta. 

Maternidade, orgulho e sonho olímpico 

Além de atleta, Drica é casada, mãe de 3 filhos e avó. Mãe de Benício, de 10 anos e que tem autismo, a potiguar precisa conciliar o esporte, trabalho e família em uma jornada conhecida por muitas mulheres. 

Azevedo compartilhou como é sua rotina de preparação para os Jogos:

“Os treinos são de segunda a sábado. Geralmente, os treinos na água são de segunda a sábado uma vez por dia e o treino de força e musculação quatro vezes por semana. Mas os treinos de mobilidade, os treinos de mobilidade também são de duas a três vezes por semana. Então a gente tem uma rotina bem pegada de treino, geralmente são quatro a seis horas de treino por dia dependendo do dia da semana são quatro horas, outros dias são seis horas. Muitas vezes faço treino no simulador também, porque a gente conseguiu colocar alguns equipamentos aqui em casa para que nunca se falte o treino. Eu tenho um filho autista de dez anos, que é o Benicio, então tem dias que a demanda dele não permite que eu vá até a academia fazer o treino de musculação.”

O simulador é um equipamento que simula o treino da canoagem. 

Em Paris 2024, a canoísta conta que está muito animada e com altas expectativas de colocar uma medalha no peito, trazer um pódio para o Brasil e, sobretudo, para o nordeste. Longe de Natal há alguns anos, ela desabafa que sempre sente e sempre sentirá orgulho de ser uma mulher nordestina. 

Com um filho autista, alguns dias ela não consegue ir treinar musculação e por isso montou uma academia na própria casa | foto: cedida

“Eu quero chegar em Paris para estar numa final A, que é muito importante para mim e eu quero brigar mesmo em busca de uma colocação excelente, eu quero dar o meu melhor, eu quero representar bem o meu país, o estado que eu vivo hoje e quero representar a minha nação nordestina, que eu tenho orgulho danado de ser nordestina, tenho um orgulho muito grande de onde eu vim.”, finaliza. 

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