Professores de espanhol do RN cobram política estadual de ensino 

Cobrando uma política estadual eficiente, os professores de espanhol que lecionam nas escolas da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte, denunciam não conseguir dialogar com a Secretaria de Educação do Estado. Ligados ao movimento “Fica Espanhol”, os educadores cobram por uma política que os insira dentro das salas de aulas, regularize a profissão e vise a importância que o idioma tem não só no estado, mas no país.

Professores ouvidos pela Agência Saiba Mais, como o José Amane, voluntário no Instituto Ágora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), conta que a categoria continua enfrentando dificuldades com a Secretaria de Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC/RN) para tratar sobre a temática e implementar medidas que garanta direitos aos professores.

“Já conversamos no mês de junho com a Secretaria de Educação, mas ela não acolheu a demanda como gostaríamos que acolhesse. Ela disse que ia esperar o resultado nacional. O resultado nacional na Câmara deu a nossa derrota. Eu falei com o coordenador do ensino médio pelo whatsapp, e ele disse que quer esperar os vetos do presidente. Mas a gente tá cansado. A gente tá lutando desde 2017. É frustrante essa falta de visão com relação à importância do espanhol, como uma política de pluralidade, que só tem a contribuir com a educação e enriquecimento cultural das escolas do Rio Grande do Norte.”, conta José.

Entenda: Educadores de espanhol querem regulamentar ensino no RN, mas têm dificuldades

Professores vão assumir postura mais ativa

Na última conversa com a Secretaria de Educação do RN, Socorro Batista, a categoria conseguiu abordar temas que, segundo eles, não tiveram nenhum retorno depois disso. Dentro dos encaminhamentos da reunião repassados pela pasta estão:

“- Alegou que o espanhol já está presente na grade curricular do estado, por isso não deveria haver uma ‘preocupação’ da nossa parte;

– Ponderou que é pertinente esperar o resultado das votações nacionais do texto do Novo Ensino Médio ( câmara e senado), para assim decidir o que vai fazer no âmbito estadual;

– Pediu um tempo de espera ( cerca de 15 dias), para refletir sobre o assunto;

– Recebeu documentos ( dossiê, carta, gráficos da EMBRATUR e poema) que explicam as questões do espanhol no que tange aos fatores educacionais, socioeconômicos e turísticos;

– Não deu datas específicas, nem garantiu de forma consistente a solicitação de um projeto de lei na ALERN, que garanta a obrigatoriedade do espanhol de forma permanente no RN.” 

Segundo Amane, houveram dificuldades para que a reunião fosse realizada, pois antes do encontro do dia 12 de junho, foram desmarcadas 3 reuniões. “Inclusive, na reunião do dia 12, esperamos uma hora a mais com relação ao horário acordado pela assessoria.”, conta.

Com isso, a categoria no RN pretende assumir uma postura mais ativa na cobrança das reivindicações. “Estamos tão cansados de se sentir humilhados, rechaçados e desvalorizados como classe de professores da educação, que estamos pensando em sair dessa postura institucional de diálogo com o governo, porque o governo do Estado não nos escuta, e ir para uma postura mais ativa de cobrança, de ir se manifestar nas ruas, se for possível. A volta do espanhol foi uma promessa de campanha do governo Lula. A volta do espanhol é uma questão de integração latino-americana que é defendida pela Constituição Federal.”, detalha.

Segundo a categoria, os professores pedem mais cultura, valorização e estímulo para economia, já que a maior parte dos turistas que o estado e o país recebe são falantes do espanhol. “Disseram que iam dar uma resposta para a gente e não deram até agora. Disse que ia se posicionar depois que saísse o resultado da Nacional, saiu, perdemos, e tem que esperar mais. A gente espera desde 2017. Firmamos diálogo com o Governo do Estado, mandamos documentos, mandamos carta, deixamos dossiê nessa reunião, deixamos todos os dados técnicos e pedagógicos que explicam porque o Estado deveria colocar uma lei para o Espanhol, uma lei obrigatória.”, completa. 

A reportagem procurou a Secretaria de Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC/RN) que informou já ter recebido a comissão dos educadores mais de uma vez. Além disso, segundo a pasta, a lei do Novo Ensino Médio ainda aguarda a sanção pelo presidente da república, ainda podendo ter mudanças do que foi aprovado. Confira a nota completa encaminhada a reportagem:

NOTA

A Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC) esclarece e destaca que a língua espanhola nunca foi excluída do currículo das escolas da rede estadual de ensino. Pelo contrário, em meio a reforma do Ensino Médio, foi compromisso do Governo do Estado manter e fomentar o ensino do espanhol.

Em reunião solicitada por uma comissão de professores e atendida no dia 12 de junho, a equipe gestora e a equipe técnica da SEEC reafirmaram o compromisso do Governo com o ensino do espanhol na rede estadual, e ficou definido que a equipe da SEEC iria acompanhar as discussões sobre o Novo Ensino Médio, até a sanção da lei, pelo presidente da República, o que ainda não aconteceu, para que sejam tomadas as providências necessárias sobre o ensino do espanhol nas escolas estaduais.

Reiteramos o nosso compromisso com a qualidade do ensino e com a inclusão de línguas estrangeiras no currículo escolar, visando oferecer uma educação mais abrangente e completa para os nossos estudantes.

Natal (RN), 29 de julho de 2024

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA, DO ESPORTE E DO LAZER
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL”

Entenda a causa

A necessidade de inserção dos refugiados que falam língua espanhola na sociedade potiguar e as questões atreladas ao turismo. Esses são alguns pontos elencados por professores e falantes de espanhol que defendem a regulamentação da língua nas escolas da rede estadual de ensino do RN.

Em 2017, o governo do então presidente Michel Temer, a partir da reforma do ensino médio, retirou a obrigatoriedade do ensino da língua espanhola da matriz curricular. A lei que tornava obrigatória a inserção do espanhol no currículo havia sido sancionada pelo presidente Lula (PT) em 2005.

Desde que deixou de ser obrigatório no governo Temer, muitos estados têm aprovado o ensino de espanhol na rede, como é o caso da Paraíba: em 2018, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) aprovou, por unanimidade, a oferta obrigatória do espanhol nas escolas.

“É necessário que se tenha a volta do espanhol na matriz comum da escola, que não seja como uma disciplina extra ou de contraturno. Temos pedido isso ao governo do estado desde o veto de Temer. Devemos, principalmente, levar em conta que a governadora [Fátima] é do mesmo partido que o presidente Lula, que sancionou essa lei em 2005”, argumentou a Agência Saiba Mais a professora Izabel Nascimento, vice-diretora do Instituto Ágora e professora de espanhol. 

Em março deste ano, em âmbito nacional, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) do Ensino Médio, mudando alguns pontos com relação à reforma de 2017, mas manteve a não obrigatoriedade do ensino de espanhol.

Leia também: Espanhol nas escolas quer facilitar interação com refugiados no RN

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