A imensa maioria dos fotodocumentaristas e fotojornalistas já colocou o imaginário profissional guiado pela conduta ética e estética sociológica criada por Sebastião Salgado. Gostando ou não. Concordando ou não. Ele esteve no centro de muitas conversas sobre engajamento social, estética documental e linguagem fotográfica. Como todo autor que sabe de seu lugar, nunca se deixou desviar dos propósitos e do método que lhe deram reconhecimento e respeito nas mais diversas classes sociais e povos mundo afora. Mais do que inspiradora, sua obra tem sido parâmetro para muitos debates sociais que nunca devem perder a urgência e a necessidade de instigar reflexões e provocar respostas aos tantos temas e injustiças retratados.
Sua atividade, permeada pelos interesses relacionados à criação e ancestralidade, colocou a fotografia ambiental e de natureza no centro de uma abordagem singular, expedicionária, corajosa e profunda, afirmando o tema ambiental no entendimento de que é preciso preservar, levando-se em conta o desenvolvimento contemporâneo, mas entendendo e respeitando a preservação dos representantes ancestrais do planeta, com seus povos e sua biodiversidade em muito ainda desconhecida.
No que o mundo mais carece — a justiça e a empatia — Sebastião Salgado teve posicionamento histórico, pautou e incluiu temas importantes em veículos de mídia, que sua carreira deu condição de inserção e ampliação, levantando a voz e a imagem de povos nunca ouvidos por seus próprios meios.
Eu mesmo não o coloco como fotógrafo militante. Sem nenhum reducionismo nisso, ele é, ao meu ver, o olhar documental mais sensível, inclusivo e investigativo da história da fotografia. Entregou sua vida ao instinto de aprofundamento, compromisso do seu propósito mais íntimo em defender, mais que sua palavra, mais que seu olhar. Defender seu lugar na existência. E é assim que ele deixa demarcada sua passagem pela vida, tornando-se parte das grandes histórias às quais se dedicou.
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