
Conta-se que um empresário, ao cumprimentar o Papa Francisco, agradeceu-lhe por sua encíclica “verde”. “Verde, não!”, teria retrucado o Papa: “o tema é a Ecologia Integral”. A diferença não é pequena, mas é preciso ler aquele documento para entender esse conceito.
É oportuno, então, ao celebrar neste dia 24 o décimo aniversário da publicação da Laudato si´, destacar sua originalidade dentro do Ensino Social da Igreja – como hoje é chamada a doutrina inaugurada por Leão XIII, em 1891. Ela tinha por finalidade esclarecer a posição católica face à chamada questão social: as tensas relações entre as classes trabalhadoras e as classes patronais.
Setenta anos depois, o Papa João XXIII ampliou aquele Ensino ao introduzir a questão da paz mundial, sendo completado por Paulo VI que afirma: “Desenvolvimento é o novo nome da Paz”. Seguindo seus antecessores, Francisco também fez avançar esse campo da Teologia Moral até a questão das relações entre a Humanidade e a Terra – nossa Casa comum.
Ao trazer para o Ensino Social da Igreja o tema da Ecologia, a encíclica Laudato si´ propõe o conceito de Ecologia Integral, que articula o problema propriamente ecológico – o equilíbrio nas relações entre atividade humana e o meio-ambiente – ao da Justiça nas relações sociais. O eixo maior da encíclica é a afirmação de que “o grito da Terra e o grito dos pobres são um só clamor de Justiça”, porque tanto a Terra, quanto as classes trabalhadoras sofrem as consequências perversas da correlação de forças do mercado.
Num sistema iníquo, onde tudo – inclusive a terra nua, o trabalho e o corpo humano – pode ser reduzido à condição de mercadoria a ser vendida e comprada, conforme os interesses individuais, o clamor de Justiça que sobe aos céus não é apenas dos pobres, mas também da Terra. Daí o conceito de Ecologia integral, que aquele empresário teve dificuldade de entender.
Bastaria isso para conferir importância à Laudato si´, mas outra novidade decorrente do conceito de Ecologia Integral também merece ser realçada. Ela é de natureza teológica, porque leva a perceber a presença divina na natureza. Deixando para trás a concepção cartesiana, que vê na natureza apenas o objeto sem qualquer subjetividade, podendo assim ser manipulado ao bel-prazer dos humanos, Francisco trata todas as criaturas como sujeitos de Direitos a ser respeitados. A essa consciência dos Direitos da Terra Francisco acrescenta a veneração pela Terra como irmã e mãe. Ou seja, a Terra e toda a grande comunidade de vida que a habita não pode ser tratada como um objeto das ambições humanas, porque merecem o mesmo respeito de quem, como nós, são criaturas do mesmo Deus.
Várias atividades foram realizadas ou estão programadas para comemorar esse aniversário da Laudato si´. Em Juiz de Fora, a Biblioteca Redentorista acolherá no dia de 7 junho um dia de estudos sobre esse tema, promovido pelo Movimento Fé e Política. A Equipe de Igreja em Marcha saúda essa iniciativa como passo importante para a formação de cristãos comprometidos com a Vida e a Justiça na e da Terra.
Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.
O post Dez anos da Encíclica Laudato si’ apareceu primeiro em Tribuna de Minas.