Micarla admite sondagens para voltar à política, mas diz que não sentiu que é sua “missão”

Em entrevista à rádio 98 FM, na noite de terça-feira (20), a ex-prefeita de Natal, Micarla de Sousa, confirmou que recebeu sondagens para voltar à política em 2026, disse que não teria medo se sentir que essa seria sua “missão”, mas afirmou que, nesse momento, ainda não sentiu isso “dentro do meu coração”. Ao mesmo tempo, deixou a porta aberta ao declarar que “não existe ex-político, existe político sem mandato”.

A possibilidade da volta de Micarla de Sousa à política foi levantada pelo ex-deputado estadual Kelps Lima, presidente estadual do Solidariedade, que foi secretário municipal de mobilidade urbana no primeiro ano da gestão da ex-prefeita em 2009.

Atual secretário de Finanças e Planejamento da Prefeitura de Parnamirim, Kelps disse em entrevista à mesma emissora de rádio que a ex-prefeita caberia “em qualquer nominata” de deputado federal e que se ela ligasse para qualquer partido, “todos querem”.

Saiba Mais: Kelps afirma que Micarla seria aceita “em qualquer partido” para 2026

Micarla contou que, depois da entrevista de Kelps, seu telefone não parou de tocar, confirmando que recebeu sondagens para se filiar a alguma legenda para ser candidata no próximo ano. A ex-prefeita, no entanto, não revelou de onde surgiram os convites.

Ela disse que não está mais “nem acostumada” com essas tratativas políticas, chegou a falar que isso foi “um rio que passou” em sua vida e não entende mais como funciona essa “engrenagem” desde que foi afastada da Prefeitura de Natal em outubro do 2012.

“A engrenagem pra mim é muito estranha hoje. A minha engrenagem é a minha empresa, a minha engrenagem é eu ser missionária, ser esposa, ser mãe, os filhos morando fora”, comentou.

Perguntada se havia recebido um convite do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos), Micarla saiu pela tangente dizendo não falaria sobre isso.

“Não é algo que eu queira colocar agora lenha na fogueira. Não é algo que agora, assim da noite para o dia, pronto”, despistou.

Ela afirmou que saiu da Prefeitura de Natal “divorciada, falida e descredibilizada”. “Acabou tudo, tudo que eu achava que era tudo, não tinha mais. A partir de 2013 foi uma reconstrução total”, contou.

Para Micarla, “tudo tinha que dar errado para dar tudo certo”. Ela disse que, depois de todo esse processo, “não dá mais liga” com a política e que se tornou “uma servidora do céu”, referindo-se ao seu trabalho como missionária evangélica.

Ela, no entanto, defendeu o seu legado na Prefeitura de Natal, apesar de ter deixado a gestão municipal com elevados índices de reprovação popular. Ela se comparou à ex-deputada federal constituinte, ex-prefeita e ex-governadora Wilma de Faria (1945 – 2017), que encerrou sua carreira política como vereadora de Natal.

“O que aconteceu comigo foi a mesma coisa”, avaliou, afirmando que, depois de tudo o que fez pelo estado, Wilma “terminou no ostracismo como vereadora de Natal”.

“O que aconteceu comigo foi a mesma coisa. Não importa se eu construí 57 escolas, não importa se eu entreguei aí duas UPAs e uma já ficou com dinheiro, não importa se eu erradiquei sete favelas em Natal. Adianta? Não. Na minha gestão, nós demos um plano de cargos e salários para 26 mil servidores. Mas adianta de quê?”, questionou.

Os seus supostos feitos na gestão municipal, como ela própria admitiu, não foram capazes de reverter a insatisfação popular com o problema que se tornou a grande marca da sua administração: os buracos na cidade.

“Cada buraco que tinha na cidade, pegava uma foto minha de campanha, tudo orquestrado e botava ‘o buraco da prefeita’. Eu nunca vi, depois de mim, ninguém colocar o buraco do prefeito. Por que bota o buraco da prefeita? Então, quando a gente vai olhar, é como se não adiantasse apenas tirar a mulher da política, uma líder política. É matar a reputação dela. Nós somos um cemitério de reputação de mulheres políticas”, refletiu.

A entrada na política

Filha do ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-senador Carlos Alberto de Sousa (1945-1998), Micarla entrou na política nas eleições de 2004, como candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD).

Dois anos depois, rompida com Carlos Eduardo, ela se lançou à candidatura de deputada estadual, tendo sido a mais votada de Natal. Em 2008, candidatou-se a prefeita de Natal, tendo sido eleita no primeiro turno, após derrotar a então deputada federal e atual governadora Fátima Bezerra (PT).

Naquela eleição, Micarla teve como vice o atual prefeito Paulinho Freire (União Brasil), que tentou esconder a ligação com Micarla na campanha de 2024, mas, depois de eleito, deu uma entrevista a ela na TV Ponta Negra dizendo que era “muito grato” à ex-prefeita.

No dia 31 de outubro de 2012, faltando apenas dois meses para terminar seu mandato, Micarla foi afastada da Prefeitura de Natal através de uma determinação do então desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Amaury Moura Sobrinho.

Micarla de Sousa e os ex-secretários municipais Jean Valério e Bosco Afonso, além do ex-marido da prefeita, Miguel Weber, foram acusados de participar de um esquema de corrupção na Secretaria Municipal de Saúde, que culminou com a deflagração da Operação Assepsia.

A ex-prefeita foi absolvida pela Justiça Federal em 2022 da acusação de fraude em licitação no contrato com a Associação Marca. O processo faz parte da Operação Assepsia, deflagrada em 2012.

Na sentença, o juiz federal Mario Jambo afirmou que, após as investigações, os crimes de fraude à licitação e dispensa indevida de licitação não foram identificados.

A gestão de Micarla: buracos, lixo e colapso dos serviços públicos

Em dezembro de 2012, já após o afastamento de Micarla, a população jogou lixo em frente à Prefeitura de Natal em protesto contra a sujeira nas ruas da cidade. Foto: Magnus Nascimento

Micarla fez uma gestão que ficou marcada pelo colapso dos serviços públicos municipais. À época, uma das áreas mais criticadas pela população era a zeladoria municipal. Os buracos e o lixo acumulado nas ruas, em todas as regiões da cidade, ilustraram o que foi a administração da ex-prefeita, que àquela época era filiada ao PV.

Em junho 2011, quando a desaprovação à gestão municipal já era generalizada, estudantes ocuparam a Câmara Municipal de Natal pedindo o impeachment de Micarla de Sousa. O movimento ficou conhecido como “Primavera sem Borboleta”, numa alusão ao apelido da ex-prefeita e aos protestos que ocorreram naquele contra governos no norte da África e na Europa, que ficaram conhecidos como “Primavera Árabe”.

Protestos pedindo “Fora Micarla” tomaram conta da cidade em 2011 e 2012. Foto: Arquivo

No final de agosto de 2012, quando Micarla ainda estava à frente da Prefeitura de Natal, estudantes foram às ruas novamente protestar contra os sucessivos aumentos no preço da passagem de ônibus na capital.

O movimento, batizado de “Revolta do Busão”, realizou várias manifestações em Natal e foi considerado como um dos pontos de partida que deflagraram as “Jornadas de Junho de 2013”, uma série de manifestações que se espalharam pelo Brasil.

Os protestos, inicialmente convocados pelo Movimento Passe Livre, contra o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus em São Paulo (SP), terminaram se transformando em manifestações de massa com uma pauta de crítica generalizada à política, tendo como alvo principal o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

As manifestações foram consideradas como o berço do surgimento de grupos de extrema-direita, como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o “Vem Pra Rua”, que mais tarde foram protagonistas dos atos que culminaram com o impeachment de Dilma em 2016, além de terem apoiado a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

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