“Sou a favor do preconceito”, disse estudante de Medicina da UFRR afastado por racismo

estudante de medicina

Por Ana Oliveira e Felipe Borges | Pragmatismo Político

Fábio Felipe dos Santos Nogueira, de 24 anos, estudante do 5º ano de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR), foi afastado do curso após ser denunciado por colegas e pelo Centro Acadêmico de Medicina (Camed) por declarações racistas, LGBTfóbicas e de ódio religioso. A universidade confirmou a instauração de processo administrativo disciplinar e informou, nesta terça-feira (21), que o aluno está suspenso por tempo indeterminado até a conclusão da apuração.

As denúncias apontam que Fábio proferia falas discriminatórias de forma recorrente no ambiente acadêmico e fazia postagens ofensivas nas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), onde usava um perfil pessoal para divulgar conteúdo misógino, racista, homofóbico e intolerante com religiões de matriz africana. Em uma das publicações, o estudante afirmou: “Sou a favor do preconceito. O mundo está faltando muito em preconceito”. Em outra, declarou: “O Brasil é um país de macacos [sic]”.

Segundo relatos de colegas, o comportamento do estudante já causava incômodo desde os primeiros anos da graduação, mas era evitado por receio de retaliações. Conforme relatou uma estudante sob anonimato, em situações de conflito, Fábio costumava envolver a mãe, que procurava diretamente a coordenação, o que gerava punições a outros alunos. A situação culminou em sua exclusão dos grupos de internato, etapa final e obrigatória do curso. Em resposta, Fábio teria denunciado os colegas à coordenação, que reagiu redistribuindo arbitrariamente os grupos — o que levou à formalização da denúncia coletiva contra ele.

A UFRR ainda não informou prazo para a conclusão do processo, mas confirmou que o aluno foi suspenso no último dia 22 de abril. A reitoria designou uma comissão para apurar os fatos.

Retratação

Após a repercussão, Fábio Felipe divulgou nota pública na qual reconhece que suas declarações foram “inadequadas” e afirma estar refletindo sobre o ocorrido. O estudante alega que as postagens foram feitas sob o uso de uma “persona exagerada”, utilizadas como “forma impulsiva e equivocada de extravasar raiva e frustração”. Ele também informa ter diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e estar em acompanhamento psiquiátrico contínuo. Negou, no entanto, estar usando o diagnóstico como justificativa para se eximir das responsabilidades.

“Essas declarações não refletem o modo como atuo e trato as pessoas ao meu redor, independente de raça, cor ou sexualidade”, declarou o estudante.

Reações

O Centro Acadêmico de Medicina da UFRR emitiu nota oficial repudiando o comportamento de Fábio e se solidarizando com as vítimas:

“O curso de Medicina se posiciona de forma contrária a qualquer ação que propague o ódio, especialmente quando praticada por alunos regularmente matriculados. Entendemos que atitudes assim ferem os princípios da convivência acadêmica e não representam os ideais do nosso curso.”

Nas redes sociais, internautas e membros da comunidade acadêmica cobram providências firmes da universidade. Entidades estudantis e movimentos sociais da região também se manifestaram, pedindo que o afastamento provisório se converta em desligamento definitivo, diante da gravidade dos atos.

A legislação brasileira considera crime o racismo e a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero. Ambas as condutas são inafiançáveis e imprescritíveis, conforme a Constituição Federal e leis complementares, como a Lei nº 7.716/1989 e a equiparação jurídica da LGBTfobia ao crime de racismo, estabelecida pelo STF em 2019.

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