O tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Jr., ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que alertou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de que ele não permaneceria no cargo após o fim do mandato. “Aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente”, disse Baptista Jr., segundo o próprio depoimento.
Com mais de 4 mil horas de voo, metade delas em aeronaves de caça, Baptista Jr. disse a interlocutores que foi “cartesiano” e “direto”, como exige a função de um piloto, ao relatar os fatos ao STF no processo sobre a tentativa de golpe de Estado.
De acordo com defesas consultadas pela CNN, o militar foi firme ao corroborar a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e pontos da investigação da Polícia Federal. Segundo essas avaliações, Baptista Jr. detalhou as reuniões sobre as minutas golpistas com convicção e não hesitou ao mencionar a participação de outros envolvidos no processo.
O ex-comandante da Aeronáutica também declarou que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, colocou tropas à disposição para manter Bolsonaro no poder. “Não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros”, afirmou Baptista Jr., quando confrontado pela defesa de Garnier. Ele também disse que as reuniões não tinham como foco apenas a discussão de base jurídica.
O militar confirmou que a ideia de prender o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, surgiu durante um “brainstorming” que antecedeu uma das reuniões entre membros da cúpula militar e representantes do governo Bolsonaro.
Durante a oitiva, Baptista Jr. relatou ter presenciado o então comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, afirmar que, se Bolsonaro levasse adiante o plano golpista, ele teria que prendê-lo. Freire Gomes, em depoimento anterior, declarou que não deu ordem de prisão. A defesa do general afirmou à CNN que as divergências entre os relatos são “pontuais” e uma “questão de interpretação”, e que o teor dos acontecimentos é igual.
Sobre essas diferenças, Baptista Jr. declarou: “Penso que esta diferença está sendo supervalorizada pela imprensa. Não é a parte importante dos nossos depoimentos”.
Segundo a CNN, o depoimento do ex-comandante da FAB era o que mais gerava apreensão entre advogados e réus devido ao seu estilo mais duro e direto ao abordar os fatos.