A jornalista Micarla de Sousa condenou o atual modelo de polarização ideológica na imprensa e criticou a crescente associação do jornalismo à militância política.
A presidente do Sistema Ponta Negra de Comunicação, que inclui TV Ponta Negra e rádio 95 FM, defende que o papel do comunicador deve ser o de servir à população com verdade, autoridade e conexão com o público. Segundo ela, essa relação de confiança, construída ao longo do tempo, é o que diferencia veículos tradicionais das novas mídias.
“Sou jornalista. Não sou de direita nem de esquerda”, declarou Micarla, em entrevista à rádio 98 FM na última terça-feira 20. Micarla acrescentou que o Sistema Ponta Negra, cuja TV é afiliada do SBT no Rio Grande do Norte, está plenamente alinhado à orientação da emissora nacional para reduzir o tom policial e priorizar um jornalismo mais leve, positivo e de serviço.
“O nosso DNA é de família, de alegria, de coisas boas. A gente quer fazer jornalismo de cidade, de comunidade, de utilidade pública, com menos sangue. Sangue a gente deixa para os concorrentes”, afirmou. Ela relatou que as diretrizes têm sido repassadas diretamente pela CEO nacional do SBT, Daniela Beyruti, com quem mantém reuniões regulares. Segundo Micarla, a emissora busca preservar uma identidade editorial em que os pais possam deixar os filhos diante da tela “sem medo do que será exibido”.
CEO do Sistema Ponta Negra desde a recompra da empresa há quatro anos, Micarla disse que sua missão é manter o compromisso do grupo com a informação de qualidade e ampliar o alcance do conteúdo em todas as plataformas. “Hoje a gente não tem mais só TV ou rádio. Nós somos provedores de conteúdo. O mesmo conteúdo pode estar numa garrafa pet, numa lata ou num squeeze, mas o produto é o mesmo, como uma Coca-Cola. E nosso conteúdo é a comunicação que transforma”, comparou.
Ela defendeu que a credibilidade dos meios tradicionais é resultado de anos de convivência com o público, algo que, segundo ela, os veículos digitais ainda não têm. “As pessoas veem uma informação na internet e vão checar na TV, na rádio. Isso é autoridade. Isso não se constrói de um dia pro outro.”
A jornalista também reafirmou o compromisso do grupo com o jornalismo local. Segundo ela, o Sistema Ponta Negra é hoje o maior empregador de jornalistas do Rio Grande do Norte, com 150 colaboradores, sendo 44 profissionais de imprensa com formação universitária. “Temos orgulho de sermos uma das cinco maiores audiências do SBT no Brasil. Nossa equipe tem missão clara: conectar pessoas e transformar vidas através da comunicação.”
Ao falar sobre sua atuação na imprensa, Micarla lamentou o que chamou de “escola atual do jornalismo polarizado” e criticou a exigência de que profissionais assumam posicionamentos ideológicos. “Hoje em dia é assim. ‘Você é jornalista de direita ou de esquerda’, não é assim?”, refletiu.
“Eu não sou dessa escola.” Ela fez questão de lembrar sua formação e os profissionais que a orientaram. “Quando eu me formei, meus mestres — Cassiano Arruda, Vicente Serejo, Jânio Vidal, Ricardo Rosado — todos maravilhosos… eles não me ensinaram: ‘Você, olha, quem é de direita senta desse lado, quem é de esquerda senta desse lado’. Pelo amor de Deus.” Em seguida, foi direta: “Eu sou uma jornalista.”
‘Não existe ex-político, e sim político sem mandato’
Durante a entrevista, Micarla de Sousa não descartou a possibilidade de voltar a disputar eleições. Ex-prefeita de Natal e ex-deputada estadual, Micarla está afastada da política desde 2012, quando foi retirada do cargo de prefeita por decisão da Justiça.
“Eu lembro que o meu pai (Carlos Alberto de Sousa) dizia uma frase que era bem característica dele. Quando ele perdeu a eleição, a gente falava: ‘ah, pai, porque você é ex-político’. Ele falava: ‘Micarlinha, minha filha, entenda, não existe ex-político, existe político sem mandato’”, declarou a ex-prefeita, na 98 FM.
Micarla disse que, mesmo sem mandato, nunca deixou de fazer “política que transforma vidas”, e mencionou sua atuação como missionária evangélica desde 2016. “Eu sou do PRD, Partido do Reino de Deus”, brincou. Apesar da ironia, o PRD é a sigla de um partido real – Partido da Renovação Democrática.
Durante a entrevista, Micarla lembrou de como ficou após sair da Prefeitura do Natal. Ela diz ter enfrentado a Síndrome do Pânico. “Eu passei quase três anos dentro de um quarto. Eu passei quase três anos tomando remédio controlado”, contou.
“Quando eu saí da prefeitura, saí doente, divorciada, falida, descredibilizada. Acabou tudo. Tudo o que eu achava que era tudo, não tinha mais. E, a partir dali, de 2013, foi uma reconstrução total”, emendou.
Ela disse, ainda, que o Rio Grande do Norte “é um grande cemitério de reputação de mulheres políticas”. E citou casos como o da ex-governadora Wilma de Faria, que, segundo ela, terminou a vida política no “ostracismo”. “Ela não precisa de nome de ponte. Ela precisava ter sido reconhecida pelos políticos e pela população por tudo que ela fez. Mas é mais fácil enterrar”, declarou.
A ex-prefeita disse estranhar como funciona a “engrenagem” da política atualmente, mas ressaltou que não foge de “desafios”. “Se eu sentir dentro do meu coração, se eu me sentir assim que essa é uma missão que eu tenho que ir, eu não vou ter medo. Agora, neste momento, dia 20 de maio de 2025, eu não senti isso. Eu vou continuar tocando minha vida como eu venho tocando nesses últimos 13 anos”, pontuou.”