A ex-reitora da Ufersa, Ludimilla Oliveira, se aproveitou de um momento de crise vivenciado pela universidade neste domingo (18) — quando um incêndio atingiu uma casa da moradia estudantil em Mossoró — para fazer críticas públicas ao atual reitor da instituição, Rodrigo Codes, e se defender das acusações de plágio em sua tese de doutorado. Ludimilla, alçada ao cargo de reitora em 2020 pelo governo Bolsonaro (PL) mesmo sem ser a mais votada, atualmente é pré-candidata a deputada federal pelo PL. De acordo com Codes, Oliveira fez uso político do incidente.
A situação que motivou as críticas da reitora ao atual gestor foi um incêndio ocorrido na casa 4 da moradia universitária do campus central, em Mossoró, na madrugada do domingo. Logo pela manhã, a gestão da Ufersa mobilizou suas equipes e o atual reitor, Rodrigo Codes, foi ao local para averiguar a situação. Ludimilla, mesmo sem ocupar cargo atual na gestão, compareceu na universidade — segundo ela, para prestar assistência —, e fez um longo discurso contra Codes, citando até a acusação de plágio contra sua tese de doutorado.
“Deus é muito bom, porque a competência do senhor e de sua equipe que está aqui só era boa, só sabia gritar, só sabia falar pra estar lá na porta pra acusar essa ex-reitora de irresponsável, de incompetente, que plagiou tese. Ou o senhor acha que isso vai ficar de qualquer jeito? Vai sim, vai ficar. Nós temos prova, nós temos print, nós temos tudo. Os advogados da terra e Deus vai (sic) mostrar quem é o senhor e quem são vocês. Isso será resolvido. Tá pensando que eu sou moleca? Tá pensando que eu sou o quê? E nós fizemos tudo o que podia ser feito. Gestão se faz assim. Gestão se faz se escondendo, não. Gestão se faz assim. Então, assuma seus atos, assuma suas coisas”, disse, sem que Rodrigo Codes esboçasse reação.
“Você vai falar em juízo pelo que o senhor fez comigo. Vocês acham que eu paguei quanto de advogado? Grave, aí. Vocês acham que a minha conta foi quanto de advogado por uma injustiça? Por uma injustiça. Pelo crime que eu não cometi”, disse, em outro momento.
“Quem viver, verá. Olha, eu levantando as mãos para o céu, se essa for a última frase da minha vida, senhor, nesta tarde. Mas eu não plagiei tese de doutorado, e o senhor e o seu grupo criminoso irá pagar pelo que o senhor fez. Irá pagar. Irá pagar muito caro, viu? Irá pagar muito caro. Está pensando o quê? Está pensando o quê? Que é com molecagem, com covardia que se trabalha? Você está pensando o quê, hein? É me chamando de interventora? É assim que se faz? Esse é seu lugar, rapaz? E aguarde, e aguarde, que a Justiça vai bater na sua porta. Vai bater na sua porta. Eu não quero nem ouvir sua voz, que me dá nojo”, concluiu, ao final.
Rodrigo Codes ouviu as acusações calado. Em outro momento, já sem a presença da ex-reitora, falou diretamente com os estudantes moradores da vila acadêmica e ouviu as demandas apresentadas.
“Tem questões que a gente consegue resolver rapidamente e tem outras questões que demandam licitação, que demandam um pouco mais de tempo, que demandam também mais recursos financeiros, mas tenho aqui o compromisso de a gente buscar com responsabilidade resolver todas as questões aqui da vila acadêmica, e principalmente o eixo permanência, um eixo prioritário”, afirmou.
“A gente lamenta e repudia o que a gente teve aqui agora a pouco, com acusações infundadas, difamatórias e caluniosas, quer dizer, só para fazer uso político de uma situação grave que aconteceu aqui hoje na vila com o incêndio pela manhã, mas, independentemente de toda a calúnia, de toda a difamação, do uso político dessas questões, do problema grave que aconteceu aqui, a gente está aqui à disposição para que a gente possa resolver, efetivamente, todas as questões que dizem respeito à permanência, e principalmente, a tudo que vocês colocaram relativos às questões da vila acadêmica”, continuou.
Em nota, a Ufersa informou que, de imediato, as unidades administrativas da instituição competentes foram acionadas para conter as chamas.
“É importante, neste momento, reiterar que todos os estudantes estão seguros e integralmente fora de risco. Desde os primeiros momentos, a equipe de Assistência Estudantil está prestando atendimento, de modo que os discentes foram realocados e, quanto aos danos materiais e a investigação das causas, o Gabinete da Reitoria determinou que todas as diligências sejam tomadas”, disse a instituição em nota publicada neste domingo (18).
Ludimilla é pré-candidata a deputada pelo PL
Ludimilla Oliveira não esconde que é pré-candidata a deputada pelo Partido Liberal, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro e do senador Rogério Marinho. A filiação foi feita no início deste mês.
“É oficial: já fizemos nossa filiação ao PL. Agora, seguimos construindo o projeto para a Câmara Federal em 2026. Que Deus nos abençoe nessa nova jornada”, anunciou no dia 4 de maio.
Com isso, a ex-reitora tem se engajado em eventos partidários, como foi o caso do 1º Encontro Estadual do PL Mulher no Rio Grande do Norte. Mais recentemente, também esteve presente no seminário Rota 22 — evento do partido — junto a lideranças bolsonaristas.
Acusação de plágio
Com o Título “DE REPENTE, TUDO MUDOU DE LUGAR: Refletindo sobre a metamorfose urbana e gentrificação em Mossoró-RN”, a reitora da Ufersa defendeu a tese de doutorado em 2011, junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN.
Em junho de 2023, o reitor da UFRN, Daniel Diniz, acatou a recomendação do relatório da Comissão de Processo Administrativo Disciplinar Discente da universidade de anular o título de doutorado de Ludimilla Oliveira por plágio. Segundo o relatório elaborado pela Comissão interna da UFRN, criada para analisar a denúncia, pelo menos 44% das palavras contidas na tese de Ludimilla não foram redigidas por ela.
Já em março de 2024, o colegiado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) votou pela manutenção da decisão liminar concedida anteriormente pelo desembargador Edvaldo Batista da Silva Júnior, em agosto de 2023, que anulou a medida administrativa adotada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) de cassar o título de doutorado de Ludimilla.
Foi a última atualização referente ao caso, mas a decisão do ano passado não foi definitiva, cabendo recurso. O pedido de liminar foi impetrado por Ludimilla e aceito, inicialmente, pelo desembargador Edvaldo Batista em 2023. Porém, a decisão que era monocrática (de apenas um magistrado), passa a ser do colegiado com a votação de março de 2024.
Com a liminar, Ludimilla Oliveira permaneceu com o título de doutorado e, consequentemente. Desde que foi nomeada para o cargo em 2020, a reitora da Ufersa teve sua legitimidade à frente da instituição questionada inúmeras vezes pela comunidade acadêmica, tanto por ter sido a candidata menos votada, quanto pela posterior denúncia de plágio em sua tese de doutorado.
Derrota para a Reitoria
Já em abril de 2024, o professor Rodrigo Codes venceu mais uma consulta para reitor da Ufersa. Com 37,1% dos votos, ele derrotou mais uma vez Ludimilla Oliveira, alçada ao cargo de reitora em 2020 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mesmo tendo ficado em terceiro lugar na lista tríplice.
Com mais uma derrota, Oliveira chegou a contestar o processo eleitoral, questionando a segurança do sistema de votação utilizado pela universidade, o SigEleição. A reclamação foi feita em ofício enviado ao Conselho Universitário (Consuni), mas a Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) produziu um relatório, divulgado ainda em abril, reafirmando a segurança do sistema SigEleição e mostrando que não houve problemas com a segurança do processo eleitoral.
O Consuni, então, manteve Rodrigo Codes na primeira colocação e encaminhou a lista tríplice ao Ministério da Educação (MEC). Ludimilla Oliveira ficou em segundo, e Jean Berg em terceiro. A nomeação de Codes para reitor foi feita em 8 de agosto de 2024; o mandato iniciou em 31 de agosto para um período de quatro anos.
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