A Arquidiocese de Natal produziu uma cartilha com propostas para os candidatos à Prefeitura “inspiradas por uma visão católica da sociedade”. A ideia, segundo o arcebispo metropolitano Dom João Santos Cardoso, é responder às principais necessidades da população da capital, como o aumento da vulnerabilidade social e a falta de infraestrutura para atender populações marginalizadas, como os sem-teto e os idosos.
“A Arquidiocese de Natal tem propostas para a cidade do Natal concentradas em várias áreas de atuação prioritária, como a ‘emergência social’, voltada à população em situação de rua, idosos em risco e vulnerabilidade, combate à fome, e acessibilidade urbana para pessoas com deficiências. Também foca na ‘juventude e famílias’, promovendo oportunidades de esporte e cultura para os jovens, criação de espaços de lazer para as famílias, e ampliação de vagas em creches”, explica o arcebispo.
“Além disso, há um enfoque importante na ‘preservação do meio ambiente’, incluindo o plantio de árvores, transporte sustentável e educação ambiental nas escolas. Outra proposta importante é a promoção de uma ‘cultura de paz’, incentivando o diálogo construtivo e fraterno na sociedade”, continua. Além dele, também assina a cartilha o monsenhor Robério Camilo da Silva, vigário episcopal para as Instituições Sociais.
Na temática da emergência social, por exemplo, a cartilha adverte que a população em situação de rua deve ser ouvida para que suas propostas possam receber atenção adequada, com ações rápidas e humanizadoras por parte da prefeitura.
O texto destaca que é urgente implementar políticas que olhem para o aumento dessa população e ofereçam condições para superar a vulnerabilidade, incluindo a construção de centros POPS, CRAS, CREAS, abrigos noturnos com mais vagas, equipes de abordagens sociais ampliadas, plano de abrigamento para refugiados e migrantes bem como equipamentos de referências.
Em relação aos idosos em situação de risco e vulnerabilidade, o documento afirma que as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), em Natal, operam em condições extremamente precárias, com vagas insuficientes, situação agravada pelo crescente envelhecimento da população. É necessário, segundo as propostas, financiar adequadamente essas instituições; implementar novas instituições públicas de longa permanência para atender os idosos em situação de risco e vulnerabilidade; e criar Centros-Dia para idosos, distribuídos por toda a cidade, para ajudar as famílias a conciliarem o trabalho com o cuidado dos idosos.
A cartilha ainda defende a ampliação das vagas em creches, um dos principais temas em foco nesta eleição, para permitir que as mães possam trabalhar e contribuir para o sustento da família. No eixo de meio ambiente, apoia a implementação de uma política de substituição gradual do transporte público movido à combustão fóssil por transporte elétrico, melhorando também as calçadas e aumentando o número de ciclovias. Em relação à segurança alimentar e nutricional, fala da necessidade de combater a fome com programas de desenvolvimento e abastecimento alimentar, incentivando hortas urbanas e periurbanas, quintais produtivos, promovendo a agricultura familiar e comunitária.
Segundo Dom João Santos Cardoso, o objetivo é provocar um diálogo construtivo e contínuo com o poder público e a sociedade civil, inspirado pela Doutrina Social da Igreja.
“Substituir discursos agressivos por um diálogo respeitoso e construtivo e promover um ambiente de confiança mútua, essencial para uma sociedade dividida”, afirma.
“A Arquidiocese acredita que o prefeito ou a prefeita deve não apenas gerir a cidade, mas também liderar pelo exemplo, inspirando temperança e promovendo uma cultura de paz e diálogo entre as diversas realidades da população”, aponta o arcebispo católico.
Orientações sobre as eleições
Além da cartilha com propostas aos candidatos à Prefeitura, a Província Eclesiástica de Natal, formada pela Arquidiocese de Natal e pelas Dioceses de Mossoró e de Caicó, também publicou um conjunto de orientações direcionadas aos clérigos, religiosos e leigos a respeito das eleições municipais 2024. O texto é assinado pelo arcebispo de Natal, Dom João Santos Cardoso; pelo bispo de Mossoró, Dom Francisco de Sales Alencar Batista, e pelo administrador diocesano de Caicó, Padre Edson Medeiros de Araújo.
O texto defende, dentre outros pontos, que os religiosos não devem manifestar apoio expresso a candidatos ou partidos, evitar exposição pública e promover a formação política da comunidade.
“Quando a situação prudentemente recomendar, proporcionem momentos para educação política dos fieis, com estudos, debates e palestras sobre a importância do voto livre e consciente. Os padres podem e devem orientar os leigos a analisar criticamente candidatos e suas propostas sob os critérios da ética, honestidade, competência, serviços prestados e conduta pessoal”, aponta a orientação.
Destaca, ainda, a isonomia de tratamento, recomendando que os padres dispensem igual atenção e tratamento a qualquer candidato político, sem proporcionar privilégio a qualquer que seja o candidato, partido ou coligação, especialmente com base em ideologia divergente. Os padres, conselhos paroquiais e coordenadores também devem evitar a locação ou mesmo a cessão dos espaços físicos pertencentes à Igreja para o uso por candidato ou partido político.
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