João Câmara é a área com maior risco de terremotos no RN, diz especialista da UFRN

O professor Aderson Farias, coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), afirmou que João Câmara é a área com maior ameaça sísmica do estado. Segundo ele, esse risco tem implicações diretas para obras de infraestrutura como parques eólicos, pontes e reservatórios.

“João Câmara, por exemplo, é uma região que tem a maior ameaça. Daqui do Rio Grande do Norte é a maior”, disse Aderson. Ele ressaltou que, embora os terremotos não possam ser previstos, é possível utilizar dados históricos e modelos estatísticos para estimar probabilidades e orientar projetos de engenharia.

“A pergunta que tem que ser feita é: será que nos próximos 100 anos eu vou, nessa região, esperar que tenha um terremoto que possa comprometer a minha estrutura?”, questionou, em entrevista à Rádio Mix Natal.

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Para ele, é preciso atenção à questão do planejamento de infraestrutura. “Parques eólicos, pontes, reservatórios, isso tudo tem que ter atenção. É algo que pode acontecer nos próximos 100 anos. E se você tem uma infraestrutura sísmica, tem uma meia-vida, uma vida útil”.

O professor explicou que a maior percepção de tremores nos últimos anos se deve à melhoria na capacidade de monitoramento e ao aumento da população e dos meios de comunicação. “Na média, a gente está não tendo [mais terremotos]. É claro que agora a repercussão é muito maior, por dois motivos. Tem mais gente, a população aumentou […] E hoje a gente tem uma capacidade de comunicação e de divulgar o que está acontecendo em qualquer canto do país muito maior”, pontuou.

Sobre os riscos à população, Aderson esclareceu que a maioria dos abalos registrados no estado tem magnitude entre 2 e 3,5, o que pode causar pequenas rachaduras ou queda de objetos nas áreas próximas ao epicentro. “Para esses terremotos o risco maior é para construções que têm um processo construtivo muito precário. Elas podem ter o risco de rachadura, de comprometer a estrutura”, explicou. “Mas a gente, pelo menos, não tem nenhuma notícia desses últimos eventos que você teve esse tipo de situação.”

Aderson também mencionou que há regiões onde os tremores eram inesperados, como Carnaubais. “Até então não era comum. A gente não tinha notícia, mesmo historicamente, de eventos nessa região”, afirmou. Ele lembrou que, apesar do Brasil estar situado no interior de uma placa tectônica — considerado tecnicamente uma “região estável” — há falhas herdadas que funcionam como cicatrizes, tornando certos pontos mais frágeis.

O coordenador destacou ainda o trabalho do laboratório da UFRN em parceria com órgãos públicos. “A gente é um prestador de serviço para os nossos, entre aspas, clientes. A Defesa Civil tem essa função social e a gente tem construído essa integração não só aqui no Rio Grande do Norte, mas em todo o Nordeste”, disse.

O financiamento das atividades é feito por meio do CNPq e do Serviço Geológico Brasileiro, com dados transmitidos em tempo real por estações sismográficas instaladas em todos os estados nordestinos. Recentemente, o laboratório finalizou um novo estudo revisando mapas de ameaça sísmica, com estimativas que, segundo ele, indicam que “algumas das possibilidades tinham sido subestimadas”. Ainda assim, ressaltou que não há motivo para alarde.

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