Apresentador da Record ataca Luana Piovani por criticar Virgínia: “Não tem moral, pois fuma maconha todo dia”

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Por Ana Oliveira
Pragmatismo Político

Após Luana Piovani criticar duramente a postura de Virgínia na CPI das Bets, acusando-a de lucrar com o vício alheio e tratar o assunto com desdém, o apresentador Reinaldo Gottino, da TV Record, reagiu em tom indignado, apontando suposta incoerência da atriz por admitir publicamente o uso diário de maconha.

“Ela diz que está preocupada com o vício das pessoas. Ok! Mas, e quando você diz que fuma maconha todo dia?”, disparou o apresentador da Record.

A tentativa de inverter o foco da discussão — do problema social das apostas ao uso recreativo de cannabis — acabou produzindo o efeito inverso: revelou o quanto certos setores da imprensa e da opinião pública ainda se recusam a discutir, com seriedade, o impacto das “bets” na sociedade brasileira.

Vício invisibilizado

As plataformas de apostas esportivas movimentaram mais de R$ 120 bilhões no Brasil em 2023, segundo estimativas do mercado. Boa parte desse valor circula à margem de regulação efetiva e com baixíssima transparência sobre lucros, práticas e impactos sociais. Influenciadores com milhões de seguidores, como Virgínia Fonseca, são remunerados para promover o jogo como se fosse entretenimento inofensivo.

Na CPI das Bets, Virgínia, que possui contrato com uma dessas plataformas, negou qualquer responsabilidade sobre possíveis vícios dos usuários e afirmou que “cada um tem livre-arbítrio”. Luana Piovani, indignada, escreveu: “Fico irritada com esse sorriso de quem está ciente da impunidade, vive do vício dos outros e sabe que tudo é um palanque para ganhar mais e mais dinheiro.”

Ao invés de ponderar os riscos reais do mercado de apostas, que já atinge jovens e adolescentes, Gottino optou por atacar a crítica, trazendo à tona a vida pessoal da atriz, em um gesto clássico de desqualificação.

Da cannabis ao cinismo

A fala de Gottino tenta produzir equivalência entre o uso de maconha (legalizado em Portugal, onde Luana vive) e o patrocínio institucional ao jogo, que afeta diretamente a economia das famílias brasileiras e compromete políticas públicas. É uma falsa simetria.

A maconha, ainda que polêmica, está no centro de debates sobre saúde pública, encarceramento em massa e regulação medicinal. Já o mercado das bets atua com a lógica do vício programado: algoritmos, bônus, notificações, ilusão de controle. O modelo de negócio é sustentado pela compulsão.

Atacar a coerência pessoal de Luana Piovani é desviar o foco de uma questão pública. Gottino poderia, como jornalista, questionar o modelo de comunicação que associa apostas a estilo de vida aspiracional. Poderia cobrar de Virgínia (e de outros influenciadores) a responsabilidade sobre o conteúdo que distribuem a milhões de crianças e adolescentes. Preferiu mirar na maconha.

Quando a crítica é silenciada com deboche

A resposta de Zé Felipe, marido de Virgínia, também seguiu a cartilha da deslegitimação. Ao chamar Luana de “Matusalém”, ele tenta relegá-la ao passado, como se a crítica moral ou social estivesse fora de moda, ou fosse desimportante por vir de uma mulher “envelhecida”.

Luana, por sua vez, respondeu com sobriedade: “Não jogo luz em sombra”. A frase pode parecer enigmática, mas resume o impasse: enquanto uma parte da sociedade tenta discutir a estrutura econômica e ética por trás do vício institucionalizado, a outra responde com desqualificações pessoais, ataques etaristas ou piadas sobre o uso de drogas. E o problema real, o financiamento do vício como modelo de negócio, segue sem enfrentamento.

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