
Por Ana Oliveira e Felipe Borges
Pragmatismo Político — 15/05/2025
A tentativa de golpe de Estado no Brasil, cujos desdobramentos continuam sendo investigados pela Polícia Federal e julgados pelo Supremo Tribunal Federal, ganhou novos contornos nesta semana. Uma perícia da PF em aparelhos eletrônicos do agente Wladimir Matos Soares revelou áudios inéditos que confirmam o envolvimento direto do policial em um plano armado para prender autoridades do Supremo e usar força letal contra opositores.
“Minha equipe ia para cima, ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio mundo de gente. Não ia estar nem aí”, diz Wladimir em uma das gravações. Em outro trecho, ele afirma que estava pronto para participar da prisão de Alexandre de Moraes: “Eu ia estar na equipe, ia botar pra f**** nesse f****”.
A Procuradoria-Geral da República já denunciou Wladimir, que está preso preventivamente. A PF afirma que ele integrava a organização criminosa que tentou abolir violentamente o Estado Democrático de Direito em 2022.
Um grupo para proteger Bolsonaro
Nos áudios interceptados, Wladimir conta que fazia parte de uma equipe de “operações especiais” preparada para proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro. O grupo estaria armado, articulado e aguardava apenas uma “canetada” presidencial para agir. Essa ordem, segundo ele, nunca veio.
“O presidente deu pra trás”, diz Wladimir, com voz carregada de frustração. Em outro trecho, ele afirma que a missão era clara e dependia apenas de uma autorização: “Esperávamos só o ok do presidente. Só que o presidente deu pra trás.”
A postura hesitante de Bolsonaro também foi objeto de críticas veladas e diretas ao longo dos áudios. Para Wladimir, o então presidente não teve “pulso” e se deixou “trair pelos generais”, que teriam, segundo ele, negociado com o governo Lula em troca de vantagens. “O PT pagou para eles, comprou esses generais”, afirma, em tom conspiratório.
Diálogos com delegados da PF expõem cumplicidade
Talvez o ponto mais alarmante dos áudios não esteja na retórica violenta de Wladimir, mas no modo como suas ideias ecoaram dentro da própria Polícia Federal. Em conversas com delegados, ele demonstra segurança ao falar de ações ilegais, como prender ministros ou proteger Bolsonaro da posse de Lula.
Em uma das mensagens, ele sugere a um delegado — que à época chefiava uma delegacia da PF — que fosse incluído em uma possível equipe de captura contra o STF. A resposta do delegado foi clara: “Grande Wladimir! Estaremos eu e você.”
Esse tipo de interlocução mostra que as ideias golpistas não circulavam apenas em grupos marginais da internet ou em acampamentos em frente a quartéis, mas também dentro de instituições centrais do Estado.
O fracasso e o choro
Com o fracasso da tentativa de impedir a posse de Lula, Wladimir revela em áudios momentos de desespero. Conta que chorou durante a cerimônia de posse e que sentiu “o estômago embrulhado”.
Em tom de lamento, ele diz: “Minha vontade era chorar. Só isso. A vontade era chorar só.”
Mesmo depois da posse, ele continuava repetindo discursos conspiratórios: dizia que a Amazônia seria vendida e que os caminhoneiros multados nos protestos não seriam anistiados.
“Já legitimamos”: a crença no delírio
Em outro áudio, Wladimir tenta racionalizar a desmobilização dos acampamentos em frente ao QG do Exército, dizendo que a “manifestação já tinha legitimado” a causa. Para ele, o movimento não precisava continuar após o que considerava um suposto “êxito simbólico” — ignorando o fato de que o Estado Democrático seguiu intacto e que Lula havia assumido a Presidência com chancela das urnas e da Constituição.
Essa racionalização mostra não apenas a dissonância cognitiva do agente, mas o grau de fanatismo que sustentou o levante golpista: uma lógica paralela, construída a partir de promessas não cumpridas e de um líder que, no fim, “fugiu”, como o próprio Wladimir define Bolsonaro.
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O post Policial bolsonarista revela, em áudio, plano para “matar meio mundo” e prender ministros do STF apareceu primeiro em Pragmatismo Político.