A dor de perder alguém tão próximo é imensurável. Quando essa perda ocorre de forma trágica, repentina e sem respostas, ela se transforma também em um grito por justiça. É esse o sentimento que consome a família de Luciano Henrique da Silva, de 50 anos, atropelado e morto por um caminhoneiro que fugiu sem prestar socorro, na noite da quarta-feira, 17 de abril, por volta das 23h, no km 5 da BR-277, em Paranaguá, litoral do Paraná.
Luciano conduzia uma motocicleta Shineray 150cc, vermelha, sentido Porto de Paranaguá, quando foi atingido por um caminhão. O motorista fugiu do local sem ser identificado. Socorristas da EPR Litoral Pioneiro ainda tentaram reanimá-lo por cerca de uma hora, mas Luciano não resistiu aos ferimentos. Agora, sua família tenta lidar com a dor da ausência e a revolta de não ter, até o momento, nenhuma resposta.
Luciano deixou esposa, dois filhos biológicos, de 14 e 21 anos, e dois filhos de criação.
- Rio Branco Sport Club profissionaliza a sua base pela primeira vez na história do clube
- Bispo destaca Papa Leão XIV como sinal de esperança, paz e união na Igreja Católica
“Ele saiu de casa para trabalhar”, diz a esposa
Maristela Rosa, esposa de Luciano, ainda tenta entender como tudo aconteceu. Em seu depoimento emocionado, ela relembra em detalhes as últimas horas ao lado do marido. A véspera da última Páscoa da família foi marcada por gestos de carinho que hoje, pareciam presságios.
“Ele nunca gostou de sair comigo para fazer compra, mas naquele dia, ele quis ir. Ele foi comigo em três lugares para achar os doces que eu queria pro meu netinho, que é autista. Ajudou a escolher os bombons, os suquinhos. Ele odiava fazer compras, mas aquele dia, ele fez questão. Estava tão atencioso, tão calmo… parecia uma despedida.”
Luciano trabalhava no turno da noite, das 23h às 7h. Pouco antes de sair de casa naquela quarta-feira, ele acordou sorrindo, dizendo que havia dormido bem como há muito tempo não conseguia, apesar da fibromialgia.
“Ele falou: ‘Amor, dormi o sono da paz. Acordei sem dor’. Brincou com o nosso filho, se abraçaram. Foi um momento bonito. E ele saiu feliz, menos de 10 minutos depois… meu telefone começou a tocar. Diziam que ele não tinha chegado no trabalho. Aí começou o desespero.”
O que Maristela encontrou no local do acidente é uma lembrança que a assombra.
“Cheguei e ele já estava debaixo daquela lona preta. Meu marido ficou jogado como um cachorro. A gente não faz isso nem com um animal. Quem atropela, para, presta socorro. Ele não teve essa humanidade”, destaca.
“Nada vai trazer meu pai de volta, mas queremos justiça”
Rhaissa, filha de Luciano, também falou com emoção sobre a perda do pai. Para ela, o sentimento de vazio é constante.
“Nunca mais vou ouvir a voz dele, sentir o cheiro da costela assando no domingo. Era regra: domingo era dia de almoço com ele. Agora acabou. Nunca mais vou comer bacalhau, carne de porco… coisas que só comia porque era o meu pai quem fazia. Era um excelente cozinheiro”.
Além da saudade, Rhaissa pede que o responsável seja identificado e responsabilizado.
“Não é só uma questão de dor, é de justiça. Porque a gente sabe que tem um culpado. A PRF disse que ele estava certo na pista, com faróis e sinalização funcionando. Ele usava jaqueta com faixa refletiva, era uma moto grande. Como é que o motorista não viu? Estava no celular? Distraído? Porque se tivesse atento, teria visto”.
“Meu filho perdeu o avô, minha mãe perdeu o companheiro de 22 anos, nós perdemos nosso porto seguro. Não queremos vingança, queremos justiça. Para que outras famílias não passem pelo que estamos passando.”
Para a família, cada dia sem respostas é uma ferida aberta
“Eu sei que nada vai trazer ele de volta”, diz Maristela. “Mas se a justiça for feita, talvez outras vidas possam ser salvas. A dele não tem como trazer. Mas não pode ficar assim. Não pode um pai de família morrer e ninguém ser responsabilizado”.
Investigações continuam
A Polícia Civil de Paranaguá informou que ainda não conseguiu identificar o motorista do caminhão, mas que as investigações continuam.
A delegada Maluhá Soares, que está com o caso, disse que está “aguardando o laudo de acidente de trânsito da PRF agora para ver se conseguimos alguma pista sobre o condutor do caminhão. Buscaram câmeras que pudessem identificar a placa do caminhão, mas sem sucesso. Além disso, não foram identificadas testemunhas que tenham visto a identificação da placa do caminhão”.