SAIBA MAIS cobriu aula de Pepe Mujica no aniversário dos 50 anos do golpe

Em 27 de junho de 2023, data que marcou os 50 anos do golpe militar no Uruguai, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica realizou uma conferência para a juventude na Universidad de La Republica, em Montevideo. De passagem pela capital do Uruguai, o jornalista Rafael Duarte assistiu a aula magna e escreveu uma reportagem com os principais trechos da fala dele.

O ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica morreu nesta terça-feira, aos 89 anos, em Montevideo, em decorrência de complicações de um câncer no esôfago. Reconhecido como um dos principais líderes políticos da América Latina, Pepe deixa um legado de luta em defesa da vida e contra as desigualdades do mundo.

Releia a reportagem na íntegra:

50 anos após golpe no Uruguai, Pepe Mujica cita Lula e mira os jovens: “transformem ideias em sentimento, é de onde vem a nossa força”

José Alberto Mujica Cordano, o ex-guerrilheiro tupamaro que resistiu à tortura por longos 12 anos e chegou à presidência da Republica no Uruguai, exerce um poder fascinante sobre a juventude. Aos 88 anos de idade, nem parecia o mais velho da turma que saiu de casa segunda-feira (26) para vê-lo sonhar e celebrar a vida no auditório principal da Universidad de La Republica Uruguay, em Montevideo.

Convidado como paraninfo para ministrar a conferência Fazendo o Futuro, Pepe falou para estudantes, professores, convidados e publico em geral. A aula ocorreu na véspera da data em que os uruguaios lembram os 50 anos do golpe militar que mergulhou o pais numa ditadura, entre 1973 e 1985.

– Precisamos entender para atender. Temos que entender que somos seres humanos, com capacidade para transformar ideias em sentimento, é de onde vem a nossa força”.

agência SAIBA MAIS acompanhou in loco a conferência de Pepe Mujica, em Montevideo.

De acordo com os dados levantados pela Comissão da Verdade uruguaia, a ditadura militar deixou um saldo de 196 desaparecidos, 123 mortos, além de 300 mil pessoas forçadas a sair do país. Organizações de Direitos Humanos, no entanto, contabilizam mais de 230 pessoas desaparecidas ainda. Nesta terça-feira (27) haverá uma programação extensa para lembrar a data.

Durante quase 2 horas, Mujica defendeu a união dos povos latino-americanos e ate a mudança de nome da América do Sul. Segundo ele, o nome que melhor espelha a diversidade e a mestiçagem dos latino-americanos é a Amazônia:

Somos América Latina e deixamos os indígenas de fora. Como pode ? Somos uma comunhão de povos distintos. Precisamos de um nome que una a todos. Porque não nos chamamos Amazônia? A América do Sul e só um nome geográfico. Amazônia é um nome maravilhoso. E quem não está na Amazônia depende da Amazônia para viver”.

 O discurso de Pepe também foi transmitido por videoconferência para 16 países, entre eles o Brasil. Pelo telão armado no auditório, foi possível ver estruturas organizadas na USP, em São Paulo, e pelo MST.

Carta de recomendações a  Lula

Em recente carta enviada a Lula, por conta da reunião em Brasília (DF) entre os presidentes dos países da América do Sul, Pepe Mujica fez várias recomendações ao presidente brasileiro. Na conferência, o uruguaio leu alguns trechos do texto que repercutiu em vários países do continente. Ao final, lembrou que não se tratava de uma decisão, apenas de um documento para provocar o debate. E reforçou a importância da integração lendo outro trecho da missiva:

– Querido Lula, o conjunto de crises globais que estamos vivendo pode levar ao colapso das condições essenciais para a vida no planeta. Muitos esforços serão necessários para enfrentar as mudanças climáticas, a crise do modelo econômico hegemônico, o ordenamento internacional obsoleto e as grandes forças polarizantes. Unir forças é o mínimo que podemos fazer para não sermos vítimas passivas e para dar a nós mesmos a oportunidade de um futuro melhor”.

Elevando o tom da voz, ressaltou que a luta dos jovens é fundamental para que não se repitam os erros do passado:

– Ser irrelevante é muito pior que ser explorado porque ser irrelevante quer dizer não necessário. E nós somos mais relevantes para o mundo do que queremos”.

Em visita recente a Europa, Lula foi questionado por uma jornalista francesa sobre a insistência dele em seguir na politica mesmo aos 76 anos de idade. O brasileiro respondeu que não existe velhice para quem tem uma causa. Com Pepe Mujica parece acontecer algo semelhante. Com a mente inquieta, resiste e insiste na juventude:

– Aos meus 88 anos, a capacidade de sonhar uma América distinta dá mais sentido à vida. 

Foi aplaudido de pé.

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