“Minha filha tentou tirar a vida porque já não aguentava mais”, diz mãe de menina vítima de racismo em escola

colégio mackenzie

Ana Oliveira, para o Pragmatismo

Uma adolescente negra de 15 anos, bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie, em São Paulo, segue internada em um hospital psiquiátrico após ter sido encontrada desacordada no banheiro da escola. A suspeita da Polícia Civil é de tentativa de suicídio, motivada por uma série de episódios de racismo que, segundo a família, foram ignorados pela instituição ao longo de quase um ano.

O caso, ainda em investigação, escancara não apenas a violência cotidiana vivida por estudantes negros em ambientes escolares elitizados, como também a negligência institucional frente a denúncias persistentes. “Ela dizia que não aguentava mais aquela escola”, relata a mãe, profissional de educação física e mãe solo de três filhos. “Era excluída, tiravam sarro da avó dela na porta, e quando contou o que estava vivendo, disseram que era ‘coisa da cabeça dela’.”

Racismo estrutural sob o verniz da diversidade

A estudante, que ingressou no Mackenzie com bolsa após bom desempenho em sua escola anterior, passou a apresentar queda abrupta de rendimento. De médias entre 8 e 9, caiu para notas como 1, 2 e 5. Segundo a mãe, o declínio coincidiu com os episódios de exclusão, zombarias e xingamentos racistas. Alunos a chamavam de “cigarro queimado” e “lésbica preta”. Um dos irmãos, de 13 anos, também estudante da instituição, já havia sido chamado de “macaco”.

Apesar de ter buscado apoio da escola em diversas ocasiões, inclusive por escrito, a mãe afirma que os relatos foram minimizados. “Uma coordenadora chegou a expô-la em sala de aula, dizendo que ela tinha ‘mimimi’ e ‘síndrome de perseguição’. Cheguei a duvidar da minha própria filha. Isso é devastador.”

Negligência, violência e silêncio

A violência não se restringiu aos insultos. Em depoimento à polícia, a adolescente contou ter sido forçada a beijar um aluno no banheiro da escola — o ato teria sido filmado por outros estudantes, que passaram a chantageá-la. A Polícia Civil ainda investiga a veracidade das imagens, mencionadas em conversas da jovem via WhatsApp.

A mãe afirma que tentou incluir a filha no atendimento psicológico oferecido pela faculdade Mackenzie, mas não obteve vaga. Após o episódio no banheiro, a adolescente foi socorrida por uma colega e levada à Santa Casa de Misericórdia. A mãe relata que só recebeu contato da escola dias depois — e apenas após o caso se tornar público.

“A escola só me ligou na segunda-feira, dias depois. Depois que a mídia começou a falar, aí começaram a procurar. Mas estou exausta. Desde o dia 29, não saio do lado da minha filha. Ela tinha muitos sonhos. Só quero minha filha de volta.”

Resposta institucional e apuração

Em nota oficial, o Colégio Mackenzie afirmou que prestou atendimento imediato no dia do ocorrido e que a equipe pedagógica e psicológica segue acompanhando a família. “A equipe de orientação educacional e a psicóloga escolar — que já acompanhavam a aluna e sua família — seguem prestando suporte com cuidado, escuta e responsabilidade”, diz o texto.

A escola também afirma que está apurando as circunstâncias “com seriedade e zelo”, ouvindo todos os envolvidos. A Polícia Civil investiga o caso como tentativa de suicídio e informou que o celular da jovem passará por perícia.

“Sofrem em silêncio”: exclusão sob a lógica do mérito

O caso não é isolado. A presença de estudantes negros em escolas privadas, muitas vezes por meio de bolsas, tem sido acompanhada por histórias de exclusão e silenciamento. Pesquisa realizada pelo Instituto Alana em 2023 mostrou que 72% de estudantes negros em escolas de elite relataram já ter sofrido racismo ou microagressões — e apenas 12% viram suas denúncias acolhidas de forma adequada.

A advogada da família, Réa Sylvia, afirmou que tomará medidas judiciais contra o colégio e que exigirá a manutenção da bolsa da jovem em outra instituição com políticas antirracistas. “Estamos buscando uma escola com letramento racial, com professores e estudantes negros. A vida dela não pode parar.”

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