Morar sozinho na velhice

Pitico Fernando Priamo

Qualquer maneira de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale amar. Começo a coluna trazendo a canção “Paula e Bebeto” (1975), com esse pequeno trecho dessa bela letra, na voz maravilhosa de Milton Nascimento. Tenho a intenção de fazer uma conexão com a ideia de que qualquer modo de morar, também vale a pena, quando há amor. Morar só não significa necessariamente viver em solidão. Associamos com muita rapidez no nosso cotidiano velhice com solidão. Como se esse estado de existir fosse propriedade exclusiva das pessoas mais velhas. Isso não corresponde à realidade.

A solidão de não ter com quem conversar, mesmo tendo gente por perto; a solidão de não ser lembrado por amigos e amigas – em qualquer fase da nossa vida – é considerada por pesquisadores dessa pauta, tão contemporânea, como sendo o mal do século XXI. Apresento logo a seguinte questão: será que diante de tantos avanços tecnológicos nas relações sociais, esse novo comportamento representa uma ponte entre as gerações ou cavou ainda mais o abismo existente entre elas? A tecnologia pode aliviar para algumas pessoas idosas o isolamento social que pode acontecer com a gente, com o passar do tempo, quando, por exemplo, não se tem mais a rotina de trabalho de toda semana?

A opção de morar sozinho na velhice, para algumas pessoas idosas, pode não ser, de fato, uma opção; é abandono mesmo. Infelizmente acontece. Por exemplo, idosos são adotados pela equipe de saúde em hospitais porque eles não têm para onde ir; não têm casa; não têm moradia. Ou têm, mas foram convidados a sair. Não têm vínculos familiares e muito menos, uma rede de suporte de proteção social e/ou familiar. Nos dias que correm ouço, leio histórias de muita gente que opta, que escolhe como deseja morar; aqueles que tem um teto. Sozinho ou não. Casado ou não. Independente da idade dessas pessoas, elas criam seus modos próprios de gerirem o cotidiano no imóvel: casa, apartamento, granja, sítio.

Morar sozinho na velhice para algumas pessoas pode ser sim uma definição de vida deliberada e consciente (é uma realidade para poucos). Mas está dado o afastamento social que a comunidade direciona a todos nós que envelhecemos. As portas se fecham pela idade que temos. O que deve ser transformado, porque seremos muitos e já somos muitos idosos no convívio social.

Neste domingo de Dia das Mães, dedico essas linhas para a minha mãe, Maria Lúcia Mendes da Silva. Mãe do meu irmão Jeter. A mulher que queria ser professora primária, e não foi, porque estudar não era função para mulher. Na sua rebeldia e coragem, formou seus dois filhos na universidade pública. É com essa rebeldia, com essa coragem e com esse amor da minha mãe presente em mim, que eu desejo que os familiares façam um esforço diário para o fortalecimento afetivo e amoroso entre si para estarem presentes na memória de seus idosos.

O fim da escala de trabalho 6 x 1, contribuirá para a gente ter um tempo maior para estarmos com nossos pais idosos. Para nesse domingo, por exemplo, de dia das mães, não se tenha tanta pressa para servir o almoço porque amanhã é dia de trabalhar de novo.

Prezadas leitoras, eu lhes desejo um feliz dia das mulheres, sendo mães ou não. Mulheres! Vocês que movem o mundo. Nas casas, nos cuidados, nas empresas, nos sindicatos, nas quebradas, nas faculdades, nas igrejas, nas festas, nos morros, nas artes, nos negócios, nos terreiros, nas lojas. E em tantos outros lugares. Parabéns!

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