Entre brechós, paredes grafitadas e a batida de um vinil antigo, Luiz Eduardo, 24 anos — ou apenas LED — encontrou na arte o lugar onde estilo, memória e resistência se cruzam. O nome Oner, que ele espalha pelas ruas e pelas roupas, é mais do que uma marca: é uma assinatura afetiva de tudo que escapa do comum.
A trajetória que deu origem à Oner começou muito antes da primeira peça vendida ou da logo marcada nas calçadas. Foi sendo atravessado por referências — de capas de revista a garimpos em brechós, de Tumblr a spray na parede — que LED construiu uma identidade estética própria, misturando pintura manual, sustentabilidade e um senso aguçado de curadoria afetiva.
A marca nasceu oficialmente em 2019 no Instagram, mas LED já experimentava intervenções manuais em roupas desde 2016, criando peças únicas pra si. “Queria tornar essa dinâmica de curadoria ainda mais pessoal e autêntica”, lembra. Após uma pausa entre 2020 e 2021, voltou a produzir com força total em novembro daquele ano.
“Desde os 14, 15 anos eu já frequentava brechós, amava a sensação de encontrar algo que alguém não quis mais, mas que fazia total sentido pra mim. E ainda pagar pouco por isso”, conta LED. Foi nesse universo do reaproveitamento e da curadoria afetiva que surgiu o impulso criativo que viria a dar forma a seu próprio empreendimento.
A escolha do nome veio como uma espécie de revelação durante o processo de pensar a marca: “Descobri que ‘oner’ em inglês pode ser traduzido como ‘coisa única’. E fez todo o sentido. Queria algo curto, sonoro e que remetesse à singularidade de cada peça. E ainda tinha esse charme nostálgico, que parece nome de lojinha dos anos 90.”
Mas a Oner não é só sobre moda. É também sobre rua, vivência urbana e memória. Foi a marca que abriu caminho para LED no graffiti e no pixo. “As pessoas viam ‘Oner’ nas paredes e ficavam curiosas. Era um jeito de provocar perguntas.” Hoje, essa mesma assinatura aparece em tecidos, em oficinas de arte-educação e nas pickups, quando LED assume a discotecagem.
A relação com a moda é crítica e esperançosa. LED não aposta em mudanças radicais na indústria de larga escala, que considera cada vez menos democrática. Mas vê no trabalho de artistas independentes a chance de transformar a moda em ferramenta de resistência, ancestralidade e consciência. “A moda pode refletir uma visão promissora e mudar a mentalidade de quem estiver disposto e atento.”
Empreender com uma preocupação ambiental clara, no entanto, não é simples. “É remar contra a maré do consumo inconsciente e do desperdício. Mas é também um compromisso ético. Tudo que a gente tem vem da terra. Valorizar isso deveria ser missão de qualquer produção”, reflete.




Hoje, LED ainda não vive exclusivamente da Oner. Divide a renda entre a marca, a discotecagem e oficinas de graffiti que ministra em escolas e projetos. Mas o sonho é ver a marca mais consolidada e reconhecida, principalmente localmente. “A gente precisa se esforçar muito pra convencer que uma produção artesanal tem valor. E em moda isso é ainda mais desafiador.”
Feiras como a do Kbça foram fundamentais nesse caminho. “Me fizeram ter contato direto com o público, mostrar meu lado DJ e meu traço no graffiti. Muita gente reconhecia minha arte na rua e conectava com a marca”.
Com um trabalho que cruza moda, arte de rua e memória afetiva, LED faz da Oner mais do que uma marca: uma declaração ambulante de estilo, resistência e identidade.
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