Seguindo um retrato nacional que acontece em todos os estados, o Rio Grande do Norte possui uma distribuição desigual de médicos entre a capital e os municípios do interior. Em Natal, são 5.740 profissionais — 7,31 médicos por mil habitantes. Já no interior, com 2.603 médicos, há menos de um médico (0,98) a cada mil moradores.
Os dados são da nova edição da Demografia Médica 2025, lançada em 30 de abril. Em todos os estados a situação foi a mesma, exemplificando uma dificuldade de acesso aos serviços médicos no interior em relação à capital.
Em todo o estado, são 8.343 médicos para uma população de 3.446.071 de pessoas. Se houvesse uma distribuição igual de profissionais entre os territórios, seriam 2,42 médicos por mil habitantes.
Segundo o titular da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte (Sesap), Alexandre Motta, a distribuição se dá basicamente pela questão financeira. Ou seja, os profissionais trabalham nas unidades públicas, mas também nas privadas, que estão concentradas principalmente nos grandes centros.
“Então, acaba sendo natural que você puxe mais profissionais para essas áreas. O que a gente tem que fazer é que quando fizer concurso — e nós vamos fazer uma agora — é direcionar para áreas específicas do estado, para cobrir aqueles vazios que existem nos serviços que nós temos”, afirma.
O estudo também faz uma ressalva parecida sobre os dados de distribuição de médicos entre capital e interior: avisa que deve ser considerado o deslocamento, bastante comum, de médicos que têm domicílio em uma cidade e trabalham em outra, dinamismo que não é alcançado pelos dados secundários utilizados no estudo.
De acordo com Motta, a Sesap tem procurado combater os vazios de médicos no interior.
“Então, é isso que está sendo feito e se busca realmente priorizar esses vazios onde os hospitais nossos têm deficiência através das vagas de concurso. Obviamente que em uma situação hipotética futura, a coisa vai se resolver quando nós tivermos melhores salários para que os médicos possam se fixar em regiões mais distantes”, aponta.
O próprio levantamento demonstra que existem três padrões distintos de distribuição dos médicos no Brasil, que reforçam a forte desigualdade na alocação desses profissionais no território. O primeiro padrão ocorre nas grandes cidades, especialmente nas capitais e municípios com mais de 500 mil habitantes, onde há uma alta concentração de médicos e razões superiores à média nacional.
O segundo padrão corresponde a cidades de médio porte, entre 100 mil e 500 mil habitantes, onde a oferta de médicos ainda é relativamente alta, mas já apresenta uma redução significativa em comparação aos centros mais populosos.
Já o terceiro padrão se manifesta nos municípios menores, particularmente aqueles com menos de 50 mil habitantes, onde a baixa presença de médicos é evidente, atingindo níveis críticos nas cidades com menos de 10 mil habitantes.
A Demografia Médica mostra ainda que, no RN, existem mais profissionais especialistas do que generalistas, ou seja, graduados em medicina, mas sem título de especialista: 56,8% contra 43,2%. A clínica médica é a principal especialidade, com 647 médicos. Em seguida, aparecem a pediatria (601), cirurgia geral (465) e anestesiologia (405). Na outra ponta, com menos especialistas, estão as áreas de genética médica (1), patologia clínica/medicina laboratorial (2), médica nuclear e medicina física e reabilitação (ambas com 6), dentre outras.
Quem são
Os homens são maioria entre a população médica do RN. São 52,5% deles, contra 47,5% de médicas mulheres. Entre a faixa etária, 31,0% dos médicos possuem idade até 35 anos, enquanto 27,6% têm 55 anos ou mais.
Mas o levantamento mostra que, nacionalmente, já se projeta uma mudança. Ainda neste ano, pela primeira vez, as mulheres serão maioria entre os médicos no Brasil, e irão representar 50,9% do total de profissionais. Esse aumento é expressivo em comparação com 2010, quando elas correspondiam a 41% da população médica. As projeções indicam que, até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país.
No ensino de Medicina, nacionalmente, a presença feminina também tem crescido. Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação, número que subiu para 61,8% em 2023. Entretanto, elas predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas – a Dermatologia lidera o ranking, com 80,6% das mulheres.
Graduação
O Rio Grande do Norte possui seis cursos de graduação na área, que ofertam 615 vagas por ano. O percentual corresponde a 1,3% das vagas no Brasil. Em relação aos programas de residência médica, são 47 existentes no RN, com 427 médicos residentes — 0,9% dos residentes do país.
“O objetivo da Demografia Médica é fornecer uma base empírica compartilhada para o debate sobre os diversos desafios enfrentados pela medicina e pelo sistema de saúde. Queremos produzir e divulgar evidências que possam apoiar a formulação e execução de políticas públicas voltadas ao fortalecimento do SUS”, explica o coordenador do estudo, docente do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mário Scheffer.
Sobre o Estudo Demografia Médica no Brasil
A pesquisa Demografia Médica no Brasil é conduzida há 15 anos pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A edição de 2025 é a primeira realizada com o Ministério da Saúde. A pesquisa reúne dados nacionais e internacionais sobre formação, distribuição e atuação de médicos, com projeções para os próximos anos. Os dados utilizados têm como base registros da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM/MEC) e das sociedades de especialidades vinculadas à AMB.
A DMB 2025 reúne 10 estudos desenvolvidos por um grupo de 22 pesquisadores e colaboradores da FMUSP. O trabalho é fruto de uma colaboração técnica e científica entre a Universidade de São Paulo, o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Associação Médica Brasileira (AMB), o Ministério da Educação (MEC) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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