Histórias das 14 mulheres de uma família que luta pela sobrevivência

Marabá apresenta uma economia diversificada, com destaque para a agropecuária, a indústria e os serviços, mas é na mineração que reside sua principal fonte de riqueza, especialmente com a extração de cobre, ouro e manganês. Em 2021, o PIB per capita da cidade alcançou R$ 47.010,21, refletindo o impacto dessas atividades no desenvolvimento local.

Mas, toda essa riqueza é desconhecida pelos moradores do Residencial Magalhães, ocupação localizada no bairro São Félix, em Marabá. Entre as 1.500 famílias que ali ocuparam as casas populares nunca entregues pelo Governo Federal, do Programa Minha Casa Minha Vida, estão Maria Hernanda e suas seis filhas: Alice, de 15 anos, Vitória, de 12 anos, Adelane, de 9 anos, a Abigail, de 6 anos, e a Rebeca, de 4 anos e a mais nova, Sara, de um ano e seis meses.

Sua caçula tem microcefalia e pesa quase 20kg. Sem poder trabalhar, ela integra o grupo de milhares de mães brasileiras que se enquadram na situação de pobreza extrema e recebem o Bolsa Família. Direta ao ponto e com muitas reclamações a fazer sobre o descaso do poder público para com a ocupação, Maria é breve no que tange seus motivos para morar lá: “Um senhor que já não mora mais aqui, viu que eu estava sob o mesmo teto da minha mãe e disse que eu poderia viver na dele, pois ele não mais precisava”.

DÉFICIT GERACIONAL

Enquanto as filhas brincam ao relento, com roupas surradas e de diferentes tamanhos que falam por si só de onde vieram, ela tenta não tirar os olhos das meninas que possuem idades muito próximas e estão prestes a ir à escola: “Nós estamos precisando, realmente, de melhorias nas ruas, algumas delas estão alagadas pois nunca foram asfaltadas. Também precisamos que coloquem energia nas casas porque não tem. A falta de energia deixa muitos moradores no escuro, enfrentando esse sofrimento, além de outras necessidades que temos”, relata.

Questionada sobre como as filhas vão para a escola, Maria responde que as acompanha somente até o ponto de ônibus e salienta com certo alívio que essa é uma das únicas conquistas do bairro: “Apesar de tantas dificuldades, há dois anos a associação de moradores conseguiu que os transportes viessem levar os pequenos”, diz, acrescentando que se dependesse de outros meios, é bem provável que as meninas não pudessem frequentar o núcleo de educação do estado.

Embora tenham acesso à educação e trilham um caminho diferente do que a geração iletrada que as antecede, só o meio de transporte para a escola não é o bastante, a inexistência do essencial ainda é um grande obstáculo: “Aqui, muitas crianças ainda vivem no escuro e acho que essa é uma das maiores necessidades da nossa comunidade”, pontua Maria.

DADOS

Um estudo de 2023 calculou o Índice de Progresso Social (IPS) de todos os 5.570 municípios brasileiros e revelou que o estado do Pará não tem nenhuma cidade entre os 20 melhores desempenhos sociais e ambientais do Brasil. Ao contrário, o estado aparece com destaque negativo no ranking, com oito cidades entre as 20 piores.

Esse levantamento, que utiliza 53 indicadores exclusivamente sociais e ambientais, evidencia os desafios da região para melhorar a qualidade de vida de sua população. Esses indicadores avaliam variáveis como acesso à saúde, saneamento, segurança e educação, oferecendo um panorama das condições sociais e ambientais de cada município.

Marabá, um dos maiores polos mineradores, apresentou o pior desempenho entre os quatro principais municípios do setor, segundo o IPS Brasil 2024. A cidade teve uma avaliação negativa em dimensões essenciais como necessidades humanas básicas, qualidade do meio ambiente e fundamentos do bem-estar.

O estudo indica que, apesar dos investimentos no setor mineral, a população local ainda enfrenta sérias dificuldades em aspectos essenciais como moradia, segurança e acesso à educação básica e superior, refletindo a necessidade de políticas públicas mais efetivas e voltadas para o desenvolvimento social da região.

SAIBA MAIS

Embora Maria Hernanda receba o Bolsa Família, o valor foi reduzido e com esse dinheiro precisa fazer render e comprar comida e itens básicos do dia a dia: “Não posso trabalhar porque não tenho com quem deixar as crianças”, conclui, e deixa no ar, uma sensação melindrosa de que, apesar de todas as objeções, o amanhã sempre chega e não há tempo para desistência ou corpo mole, as lutas precisam ser lutadas – sem apoio algum do poder público.

 

O post Histórias das 14 mulheres de uma família que luta pela sobrevivência apareceu primeiro em Correio de Carajás.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.