Árbitro executa ‘protocolo antirracismo’ em partida do Brasileirão, e jogador boliviano é preso em flagrante na saída de estádio do Paraná; entenda


Miguelito, do América-MG, foi preso após Alanno, do Operário-PR, relatar xingamento racista. Defesa do detido afirma seguir posicionamento do clube mineiro, que chamou as acusações de ‘infundadas’. Árbitro executa ‘protocolo antirracismo’ no Brasileirão; jogador foi preso em flagrante
O jogador de futebol boliviano Miguel Angel Terceros Acuna, conhecido como Miguelito, do América Futebol Clube (América-MG), foi preso em flagrante na noite de domingo (4) suspeito de injúria racial contra o jogador brasileiro Allano Brendon de Souza Lima, do Operário Ferroviário Esporte Clube (Ofec-PR).
O caso aconteceu durante uma partida da série B do Campeonato Brasileiro de Futebol realizada em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná .
Após receber o relato do caso, o árbitro principal da partida, Alisson Sidnei Furtado, pausou o jogo e executou o “protocolo antirracismo” previsto pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Assista acima.
✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram
O profissional fez um gesto de X com os braços, os cruzando em frente ao peito. Com isso, a denúncia de injúria racial deve constar na súmula do jogo.
O procedimento foi implementado pela CBF após recomendação da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa).
A defesa de Miguelito afirma seguir o posicionamento do clube América-MG, que chamou as acusações de “infundadas”. Leia a nota completa mais abaixo.
Jogador Allano, do Operário-PR, árbitro Alisson Sidnei Furtado e jogador Miguelito, do América-MG
Giovani Baccin/OFEC – Valdecir Galvan/RPC – Reprodução/Redes Sociais
LEIA TAMBÉM:
Investigação: Mais de 100 pessoas são suspeitas de integrar grupo de extermínio chefiado por jovem que assistia a execuções por vídeo de dentro de cadeia no PR
Veja vídeos: Mercado do PR onde 64 celulares foram furtados é o mesmo em que mulher saiu três vezes sem pagar com carrinho cheio de compras
Emprego: Secretaria de Educação do Paraná faz PSS com 500 vagas para professores, pedagogos e tradutores; veja como participar
A motivação da prisão
A situação aconteceu aos 30 minutos do primeiro tempo. O jogo ficou paralisado por cerca de 15 minutos, e depois Miguelito continuou jogando. Ao final da partida, o jogador foi levado pela Polícia Militar até uma delegacia da Polícia Civil da cidade.
“Após lance de disputa de bola seguido de falta a favor da equipe do Operário Ferroviário, o jogador do América-MG teria proferido a expressão ‘preto do ca**lho’ contra o jogador da equipe paranaense. […] A ofensa racial foi confirmada tanto pela vítima, quanto pelo jogador Jacy, capitão do Operário Ferroviário, que presenciou o ocorrido”, explica o delegado Gabriel Munhoz, responsável pelo caso.
CONFIRA TAMBÉM: O que aconteceu nos casos recentes de racismo no futebol?
Segundo ele, as imagens da transmissão oficial não captaram a ofensa porque o atleta estava de costas para as câmeras no momento da fala. Entretanto, para ele, os depoimentos foram considerados suficientes para a caracterização do flagrante.
“A Polícia Civil já estabeleceu contato com os canais de transmissão da partida, através do advogado do Operário Ferroviário, para obtenção de possíveis imagens captadas de outros ângulos que possam ter registrado a fala racista”, complementa.
O delegado também explica que Miguelito permanecerá preso até a realização da audiência de custódia, que até a publicação desta reportagem ainda não havia sido agendada.
“O inquérito policial deverá ser concluído nos próximos dias. A pena máxima prevista para o crime de injúria racial é de cinco anos de reclusão”, finaliza o delegado.
Caso gerou confusões no estádio
Caso gerou confusões no estádio
Valdecir Galvan/RPC
O caso gerou confusões dentro e fora do gramado do Estádio Germano Krüger, onde estava sendo realizada a partida.
A primeira foi entre os próprios jogadores, como explica o delegado Gabriel Munhoz.
“Logo após a ofensa ter sido proferida, o jogador Alanno já vai pra cima, tenta tomar satisfações com o Miguelito, e inclusive tanto a vítima quanto a testemunha também afirma que logo após o Miguelito perceber que teria falado essa ofensa racista ele tentou desconversar, mas que foi possível ouvir de forma nítida e clara a ofensa racial”, afirma.
Enquanto a partida estava paralisada, torcedores do Operário e do América que estavam atrás do banco também se envolveram em confusões. Segundo o Operário-PR, um torcedor foi identificado por ter jogado um copo nos jogadores do América-MG e foi retirado por policiais militares.
Quando o jogo recomeçou, Allano recebeu cartão amarelo por uma entrada mais forte em Miguelito. O jogador do América-MG foi substituído no intervalo.
No final, a partida terminou em 1×0 para o time paranaense.
O que dizem os envolvidos
Em nota divulgada nas redes sociais, o time Operário-PR disse repudiar com veemência qualquer ato de racismo e afirmou que está buscando as imagens e demais elementos que possam confirmar os fatos. O clube adiantou, também, que tomará todas as medidas cabíveis “diante da gravidade da situação”.
“Reforçamos que o Operário está prestando todo o suporte necessário ao atleta Allano e seguirá firme em seu compromisso com a luta contra o racismo, dentro e fora de campo. Não vamos tolerar nenhuma forma de discriminação”, diz a nota.
À RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, a defesa de Miguelito disse que segue a nota do América-MG.
Em nota, o América-MG disse manifestar total solidariedade ao atleta Miguelito, chamando as acusações de “infundadas”. Confira o texto completo abaixo:
O América FC , fiel à sua história centenária e aos princípios que a sustentam, vem a público prestar esclarecimentos e manifestar total solidariedade ao atleta Miguel Ángel Terceros Acuña, diante de acusações infundadas que tentam associar seu nome a conduta de cunho racista.
Após criteriosa apuração interna e análise dos fatos disponíveis, não foi identificada qualquer atitude, gesto ou declaração do jogador que possa, sob qualquer ângulo, ser interpretada como discriminatória. Ao contrário, Miguel Terceros sempre demonstrou conduta ética, respeito e espírito esportivo, sendo amplamente reconhecido no clube por seu profissionalismo e integridade.
O América FC reafirma, de forma enfática, seu compromisso inegociável com a igualdade, o respeito à dignidade humana e o combate a toda e qualquer forma de preconceito. Repudiamos qualquer tentativa de imputar condutas incompatíveis com esses valores a nossos atletas e colaboradores — ainda mais quando desprovidas de qualquer respaldo nos fatos.
Seguiremos firmes na defesa dos princípios que norteiam nossa instituição e na preservação da honra de todos que constroem, com dedicação e respeito, um futebol mais justo, inclusivo e humano.
Vídeos mais assistidos do g1 PR:
Veja mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul
Veja mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.