Uma área de falésias na Praia da Pipa, em Tibau do Sul (RN), está em situação de emergência reconhecido pelo Decreto Municipal nº 008/2025, publicado após relatório técnico da Defesa Civil Estadual, que apontou risco iminente de desabamento em trechos do Chapadão, um dos cartões-postais mais visitados do litoral potiguar. Com base no dispositivo previsto no artigo 8º da Lei Federal 12.608/2012, a Prefeitura iniciou nesta semana uma obra emergencial de contenção para prevenir acidentes.
A medida prevê a instalação de cercas de proteção em quatro áreas críticas das falésias, onde foram identificadas as maiores ameaças à integridade de visitantes. Serão 900 metros lineares de cercamento, utilizando madeira de eucalipto e corda náutica, em uma estrutura projetada para manter a vista natural do Chapadão e evitar impactos visuais ou ambientais severos. Também está prevista a instalação de placas de sinalização e alerta, com o objetivo de conscientizar moradores e turistas sobre os riscos da aproximação excessiva das bordas da falésia.
A decisão pela intervenção foi tomada após duas reuniões técnicas entre o município, a Defesa Civil Estadual e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA). A obra também atende a uma recomendação do Ministério Público Federal, que sugeriu ações efetivas para mitigar os riscos de novos deslizamentos e quedas.
O Chapadão de Pipa tem histórico de acidentes graves nos últimos anos, incluindo ocorrências com quadriciclos que resultaram em mortes. Em 9 e 11 de janeiro de 2025, quatro pessoas ficaram feridas em dois acidentes distintos — o primeiro próximo ao Mirante de Cacimbinhas e o segundo na estrada entre Pipa e Sibaúma. Todas as vítimas foram socorridas por equipes de emergência e não houve mortes. Os episódios relembram o acidente mais grave, ocorrido em janeiro de 2024, quando a turista Ana Carla Silva de Oliveira, de 31 anos, natural de Roraima, morreu após cair de uma falésia entre as praias de Sibaúma e Pipa. Ela estava acompanhada de Larissa Josefa, 26, que sofreu ferimentos graves e foi resgatada por helicóptero.
Em nota oficial publicada nas redes sociais, a Prefeitura de Tibau do Sul afirmou que a estrutura tem caráter preventivo e visa ampliar a segurança na região sem comprometer o patrimônio paisagístico do local. “A nova estrutura tem como objetivo prevenir acidentes e orientar visitantes sobre a importância de manter uma distância segura da borda”, diz o comunicado. A gestão municipal não informou, até o momento, se a intervenção passou por licenciamento ambiental ou foi precedida por estudos técnicos complementares além do relatório da Defesa Civil.
Estudo comprova risco da erosão costeira em Pipa
Um estudo feito por pesquisadores da UFRN mostrou que desastres na área da praia de Pipa têm ocorrido devido ao inadequado uso e ocupação do solo, além de políticas públicas ineficazes. O artigo de Luana Raquel Juvino da Silva, Venerando Eustáquio Amaro, Ada Cristina Scudelari e Lívian Rafaely de Santana Gomes Pinheiro foi publicado em 2023 na Revista Brasileira de Geomorfologia.
O estudo apresenta o mapa de risco à erosão costeira e movimentos gravitacionais de massa para o trecho urbano da praia de Pipa realizado por meio da análise integrada em ambiente de Sistema de Informações Geográficas de dados espaciais do meio físico, pluviométricos, reanálises do regime de ondas e infraestruturas instaladas inadequadamente.
De acordo com a equipe, os processos erosivos sobre os taludes costeiros são causados, principalmente, pelas fortes chuvas e pela ação direta de ondas na base das falésias. As quedas e tombamentos de blocos têm sido os tipos mais comuns na área de estudo, indicam os pesquisadores.
Na área que se estende da praia da Baía dos Golfinhos à praia do Centro, por exemplo, ocorre intensa aglomeração de banhistas e barracas na faixa de praia. As quedas, tombamentos e deslizamentos de massa são recorrentes nesse setor, segundo o artigo.
“Um fato que intensifica os processos erosivos, e são comumente empregados por toda a orla marítima, é o escoamento de água pluvial e/ou esgoto das habitações hotéis lançados diretamente na face de praia por meio de tubulações.”

“Apesar dos desmoronamentos constantes, em trechos já sinalizados pela Defesa Civil, tanto a população local como os turistas permanecem utilizando as áreas classificadas como de risco muito alto. Mesmo na praia dos Golfinhos, que possui um difícil acesso e apresenta vários pontos de deslizamentos, nos períodos de baixa-mar permanece repleta de banhistas e comerciantes locais”, constatam os pesquisadores.
Os resultados mostraram o domínio de setores categorizados em risco alto (R3), risco muito alto (R4) e pontos de risco de desastres iminentes, confirmados em visitas a campo.
O setor de risco muito alto (R4) é o mais próximo da praia. Lá estão locais com frequentes deslizamentos; grau elevado de retração da linha de praia; presença frequente de pessoas; habitações no topo e base das falésias; infraestruturas de escoamento superficial direcionadas às bordas das falésias e praias; além da presença de estruturas de contenção que comumente potencializam o processo erosivo.
Já o setor de risco alto (R3) está a poucas centenas de metros das bordas das falésias e praias, com algumas áreas de dunas e vegetação remanescentes. Entretanto, possui múltiplos pontos de alagamento e o escoamento superficial e inteiramente direcionado para os setores de risco muito alto (R4), que já causa extensos e largos ravinamentos, quando o fluxo ocorre sobre trecho não pavimentado, o que acelera a perda de solo.
“Ambos os setores devem ser continuamente monitorados pelos órgãos responsáveis com o intuito de se evitar a deflagração de quaisquer mecanismos específicos de movimentos de massa e, por conseguinte, perdas econômicas e/ou de vidas humanas”, aponta o estudo.
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